O anúncio foi feito hoje pelo grupo editorial, dirigido por Alexandre Rezende, que adquiriu a marca e a repõe a partir de hoje no mercado nacional e internacional, “com uma nova imagem e um posicionamento que recupera os valores iniciais da histórica editora portuguesa – a aposta na publicação de autores de ficção contemporânea, europeus e americanos, ainda não editados em Portugal”.

“A Europa-América foi uma das mais importantes editoras da segunda metade do século XX português. Ciente do seu legado histórico e patrimonial, a EA/CZ Editora adquiriu a chancela, com o objetivo de relançar a marca e garantir a publicação regular de autores não editados em Portugal, fomentando a leitura junto de novos públicos”, afirmou o responsável.

Nesse contexto, a Europa-América vai lançar a sua primeira publicação na quinta-feira à tarde, o romance “Eu matei um cão na Roménia”, da escritora peruana Claudia Ulloa Donoso, que está disponível nas livrarias já a partir de hoje.

Trata-se do romance de estreia desta jovem escritora - que lhe valeu a distinção, pela crítica, como uma das novas vozes promissoras da América Latina -, que aborda o tema da morte como ideia e intuição, mas sempre com uma observação “incrédula” do seu oposto, a vida e a sua “obstinada insistência”, explica a editora.

A partir de 2024, a renovada Europa-América propõe-se a publicar com regularidade novos títulos e a ampliar o alcance e diversidade da literatura nacional, tendo como objetivo até final do ano a publicação de 12 livros.

“A promoção da criação artística é um dos nossos objetivos basilares. Pretendemos impulsionar a divulgação de autores nacionais também noutros mercados, contribuindo para a internacionalização da literatura portuguesa”, diz Alexandre Rezende, acrescentando que quer fazer da Europa-América “uma ponte entre a literatura contemporânea global e a literatura emergente em Portugal”, apostando na “qualidade e excelência dos seus livros”.

Fundada a 29 de maio de 1945, pelos irmãos Francisco Lyon de Castro e Adelino Lyon de Castro, a Europa-América mantinha uma linha editorial assente na publicação de autores proibidos pela Censura e na importação de autores estrangeiros, o que levou a frequentes incidentes com o regime.

Oposicionista à ditadura de Salazar, a editora publicou na altura autores perseguidos pelo regime, como os portugueses Soeiro Pereira Gomes e Alves Redol, ou que lhe eram pouco caros, como Gabriel García Márquez e Jorge Amado.

Foi também responsável pela divulgação de autores à data inéditos em Portugal como William Faulkner, John Steinbeck, Julio Cortázar, Gabriel Garcia Márquez, Jorge Amado, Mário Vargas Llosa ou Vladimir Nabokov, bem como de géneros como a espionagem, a ficção científica e coleções de temas políticos, sociais e económicos.

Outro aspeto diferenciador foi a criação da coleção de “Apontamentos Europa-América”, com análises e resumos de obras literárias e outros temas do currículo escolar, que foram determinantes no plano de estudos de uma geração de alunos portugueses.

A Publicações Europa-América viria a tornar-se uma das principais editoras nacionais: segundo os dados oficiais disponíveis antes da insolvência, a editora publicou mais de 51 milhões de livros, tendo editado obras de 1.900 autores portugueses e estrangeiros.

Chegou a ter mais de 15 livrarias e quiosques próprios em localidades distintas e colaborou com cerca de 1.500 livrarias e outros pontos de venda.

Em dezembro de 2019, entrou em insolvência, com uma dívida de dois milhões de euros a meia centena de credores - como foi noticiado na altura -, e as marcas foram vendidas num leilão judicial, bem como outros bens da editora.

Na sequência dessa declaração de insolvência, a marca editorial Europa-América foi adquirida, em 2021, pelo grupo editorial independente EA/CZ Editora.