A Zara Home, marca do Grupo Inditex, estreou em Portugal a primeira loja do programa for&from, uma iniciativa já experimentada no estrangeiro e levada a cabo em Portugal pela Associação VilacomVida que, num projeto de "marketing positivo", quer mostrar às empresas o potencial das pessoas com capacidades especiais. O novo espaço localiza-se no Freeport Lisboa Fashion Outlet, em Alcochete, e abriu no final do mês passado com coleções da loja de campanhas anteriores.

Portugal passa a ser assim o terceiro país com estabelecimentos deste projeto da marca Inditex, que conta atualmente com 16 lojas no total, em Portugal, Espanha e Itália, e emprega mais de 750 pessoas com diferentes capacidades especiais, além de oferecer mais de oito milhões de euros a projetos sociais das diferentes organizações gestoras.

Este novo espaço é gerido pela Associação VilacomVida, responsável pelo recrutamento dos empregados.

Antes deste projeto, a VilacomVida já representava em Portugal, desde 2021, a marca Café Joyeux, a primeira família de cafés-restaurantes solidários e inclusivos, criada em França em 2017, tendo já quatro cafés abertos e 30 jovens empregados em Lisboa e Cascais.

Em entrevista ao SAPO24, a presidente da instituição, Filipa Pinto Coelho, refere que "o grupo Inditex já tinha este conceito e, tal como Portugal foi o primeiro país fora de Espanha a abrir uma loja Zara Home, também fazia sentido termos acesso a este conceito for&from. Tentaram depois encontrar um parceiro de confiança. Ouviram falar de nós na gestão dos cafés Joyeux e entraram em contacto connosco".

Sobre este projeto da Zara Home, conta que foram conhecer primeiro o projeto em Espanha e a equipa da Inditex fez o mesmo com os cafés Joyeux. "Depois, a própria marca comprou a loja e nós recrutámos uma equipa com vários tipos de incapacidade através de várias parcerias, nomeadamente o Centro de Recursos da Casa Pia, o Centro de Emprego do Montijo, o centro de recursos da Rumo, Valor T e a Cercimb", refere.

Foram identificados candidatos que vivem perto de Alcochete com algum tipo de incapacidade e foram alinhados os perfis com a loja Zara Home. "Recrutámos 13 candidatos para esta loja, que antes estiveram dois meses em formação nas lojas da Guerra Junqueiro e Montijo", aponta.

Atualmente, a loja conta com 17 colaboradores, dos quais 13 são pessoas com diferentes tipos de necessidades especiais físicas, sensoriais e intelectuais. Os colaboradores trabalham em turnos de 5 ou 7 horas, 5 vezes por semana.

"Queremos provar que estas lojas com aproximação à diferença resultam"

Sobre o futuro, Filipa Pinto Coelho destaca: "Estamos focados no sucesso desta primeira loja, mas esperamos poder abrir mais. Queremos provar que estas lojas com aproximação à diferença resultam. Se cada um contribuir com aquilo que faz melhor, pode nascer um modelo positivo de ambas as partes. Do lado da Zara Home, aplica o seu know-how e confia numa instituição competente para fazer este modelo de recrutamento".

Acerca do feedback das pessoas que trabalham neste tipo de espaços, sublinha que "não só gostam como voltam e querem muito ter oportunidades de trabalho". "Um dos nossos objetivos na VilacomVida é fazer algo que ainda não estava a ser feito, que é dar oportunidade às pessoas para que no seu dia-dia possam contribuir. A sociedade normalmente não tem esta realidade, porque existem muitos projetos fora dos centros da cidade".

Já sobre este tipo de espaços destaca que "é mais difícil criar estes espaços no centro da cidade. Queremos aproximar este mundo das diferenças do mundo em frente dos nossos olhos, para que estas pessoas sejam empregadas e lembradas".

"O nosso projeto é sobretudo o projeto de comunicação, de proximidade, de marketing positivo e de convite à sociedade a conhecer a mais-valia de empregar estas pessoas", acrescenta. "Quando convidamos e estamos no caminho das pessoas, eles entram, experienciam o nosso produto, e por ser com qualidade voltam, e por serem tão bem servidos, com o coração e alegria, tornam-se embaixadores da causa".

"Nos cafés Joyeux, nós pagamos rendas, pagamos salários como qualquer restaurante, somos uma empresa como qualquer outra e não temos benefícios por empregar estas pessoas. O que queremos é dar o mote e o exemplo para mostrar que é possível ter equipas inclusivas porque as pessoas querem fazer parte desta realidade", destaca.

Conta ainda que "a proximidade é essencial e, com a Zara Home, uma marca que muita gente procura, mostramos que a marca pode atingir os resultados que esperam, mesmo com uma equipa inclusiva" e "abre as portas a outras empresas e outros projetos a fazerem o mesmo".

O que falta fazer para melhores políticas de inclusão?

No contexto das próximas Eleições Legislativas, em que a inclusão por vezes assume tantas formas, nem sempre envolvendo as pessoas com incapacidade, a presidente da VilacomVida admite que "são necessárias cada vez mais iniciativas destas. Acho que Portugal tem uma boa política de recrutamento e incentivo à inclusão, com bastantes benefícios, e aquilo que o atual governo tem feito, nomeadamente a Secretária de Estado, Ana Sofia Antunes, tem sido essencial. Era importante esta pasta continuar nas mãos de quem sabe e está perto das organizações".

"O trabalho que está a ser feito hoje deve ter mais projetos destes e o nosso é um exemplo, mas pode haver mais", acrescenta.

Dando o exemplo da lei de contratação por quotas de pessoas com incapacidade, refere que "essa lei é bastante inteligente para que as empresas percebam que não estão a fazer um ato solidário, mas um ato inteligente, uma vez que estas pessoas acabam por vestir a camisola, ter menos absentismo, nomeadamente na restauração, e é algo que as empresas podem ver como negócio e cultura empresarial, não tanto como solidariedade".

"Se eu tiver alguém com alguma dificuldade intelectual numa tarefa que é simples e repetitiva que pode aborrecer um trabalhador com mais capacidade, posso fazer com que outra pessoa com outro perfil se torne especialista nessa tarefa", explica. "Existem pessoas que gostam de tarefas simples, e são estas tarefas que conseguem fazer bem que lhes aumenta a autoestima. Um contrato de 8 horas de alguém que podia fazer outra coisa pode passar a ser um trabalho de 4 ou 6 horas com uma pessoa destas e que gosta do que está a fazer", acrescenta.