Aqueles que, tal como eu, gostam de true crime, já estão habituados à mesma fórmula repetitiva. Há um crime macabro que deu origem a várias investigações e anos mais tarde alguém pega nessa história e decide representá-la numa série, num filme ou num documentário e tornar a sua storyline o mais fiel à realidade.
Procuram testemunhas, pessoas que tenham estado envolvidas no caso e fanáticos que se tenham dedicado à sua resolução, vão buscar uns clipstirados das notícias daquela altura e uns títulos que fizeram capas de jornal, tentam encenar os acontecimentos relatados e dão-nos a conhecer as histórias mais arrepiantes. Na Netflix, por exemplo, há vários conteúdos com este formato. Mas nos últimos dias chegou à HBO Portugal uma série de true crimeque dá uma volta de 180 graus com uma estrutura mind blowing.
Chama-se “Landscapers” e, para ser 100% sincera, já tinha conquistado a minha atenção muito antes de ter sequer visto o primeiro episódio. Estreou em dezembro de 2021 e como cartão de boas-vindas tinha dois nomes que não podia combinar melhor: Olivia Colman aka uma das melhores atrizes da atualidade e David Thewlis, que é como quem diz “o ator que fez de Remus Lupin em Harry Potter”. Mas nem só de bons atores se faz uma boa série, por isso, para estar à sua altura era preciso um script cativante que nos fizesse querer ver estes dois a brilhar. E aí a missão ficou nas mãos de Ed Sinclair (marido de Colman).
Pela sinopse, eu achei que vinha aí uma espécie de “You”. Mas quando eu vos digo que está a milhas… certamente não estou a exagerar. Colman e Thewlis vestem a pele de Susan e Christopher Edwards, um casal do Reino Unido que, em 2014, foi acusado de matar e enterrar os pais de Susan em 1998. A história que serviu de base ao enredo é real mas, na verdade, até é bastante aborrecida. A série tem quatro episódios de cerca de 45 minutos cada um, mas, para vos contar os contornos do crime, apenas precisava de dois ou três. E é aí que entra a verdadeira magia que vai transformar um “simples” homicídio numa obra de arte recheada de referências e com mais camadas do que aquelas que poderíamos imaginar.
Metáforas, alegorias e hipérboles vão fazer as delícias dos espectadores. Susan e Christopher são retratados como autênticos lunáticos codependentes. Estão cheios de dívidas, vivem à margem da sociedade e têm graves problemas sociais. E o melhor, para além das suas interpretações quase irrepreensíveis, são todas as histórias que contam, especialmente quando estão em fase de interrogatórios à polícia, que são representadas da forma mais teatral e exagerada possível. Há espaço para declarações de amor a preto e branco, para batalhas campais como se de um western se tratasse e até perseguições que parecem ter sido tiradas de um “Velocidade Furiosa”.
Para terminar, e porque vou tentar não te contar demasiado, os responsáveis pela série tomaram uma decisão desconcertante: a de transformar um crime sinistro numa história de amor quase fofinha. Imaginem só matar os vossos pais e depois irem fazer conchinha para o sofá enquanto veem a Eurovisão antes de enterrar os corpos no jardim da vossa casa. Se isto não é romance…
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