
Maria Abranches conquistou o prémio na categoria Histórias, na região Europa, com a reportagem "Maria" sobre a empregada doméstica e cuidadora Ana Maria Jeremias, "traficada de Angola para Portugal aos nove anos, sob falsas promessas de educação", como indica a apresentação do projeto na página do World Press Photo.
Na vida de Ana Maria "ecoa a experiência de inúmeras mulheres em toda a Europa", prossegue a memória descritiva do projeto, que acrescenta: "Passou mais de quatro décadas a trabalhar na casa de outras pessoas, o que constitui uma contribuição vital para suas vidas diárias. Ao centrar-se na história de Ana Maria, a fotógrafa tem por objetivo incentivar a reflexão sobre privilégios, assim como honrar sua vida e a de tantas outras mulheres como ela".
"Maria", projeto que já tinha sido distinguido no festival italiano Cortona On The Move e nos Prémios Novos Talentos FNAC, é um trabalho desenvolvido no âmbito da 'masterclass' Narrativa, projeto do fotojornalista Mário Cruz.
Maria Abranches optou pela fotografia documental e pelo fotojornalismo, para "destacar questões críticas, amplificar vozes marginalizadas e inspirar mudanças", indica a sua biografia publicada com o projeto, no 'site' da World Press Photo.
Formada em Arquitetura, em que trabalhou durante alguns anos, optou mais tarde por fazer o curso da Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual- , em Lisboa, o que a levou a um estágio em fotojornalismo no jornal Público, "após o qual decidiu dedicar a sua carreira exclusivamente à fotografia".
Abranches mantém a colaboração com o seu jornal de origem e trabalha também com outros meios, como a agência Reuters, o jornal The Guardian e a Fundação Calouste Gulbenkian.
Maria Abranches desenvolveu um interesse pela história colonial portuguesa enquanto documentava a produção de "Pele Escura" (2021), um filme de Graça Castanheira que aborda o racismo e a inclusão.
Esse trabalho está na origem de um dos seus primeiros projetos nesta temática, "Trançar o Mundo" (2022), a partir dos penteados de origem africana e do seu significado cultural, numa abordagem feita com cabeleireiros afrodescendentes.
O projeto "Maria" começou a tomar forma em 2023-2024, quando foi selecionada para a Masterclass Narrativa. O projeto foi finalista do Prix Virginia 2024, do APhF Dummy Award e do Blow Up Press Book Award.
No ano passado, Maria Abranches recebeu o prémio LensCulture para talentos emergentes.
Maria Abranches é, assim, uma das premiadas da 68.ª edição do concurso internacional de fotojornalismo World Press Photo, ao qual se candidataram 3.778 fotógrafos e fotojornalistas de 141 países.
Os vencedores foram escolhidos por regiões e em três categorias, destinadas a reconhecer fotografias individuais, histórias e projetos de longo curso.
Este ano, o júri do World Press Photo reconheceu trabalhos “que trouxeram profundidade e ‘nuance’ a algumas das questões mais prementes do mundo, desde conflitos devastadores e convulsões políticas até à crise climática e às jornadas seguras dos migrantes”, refere a organização em nota de imprensa.
Na região da Europa, além de Maria Abranches, entre os premiados estão os fotojornalistas alemães Florian Bachmeier e Nanna Heitmann, ambos com fotografias relacionadas com a guerra na Ucrânia.
Na região da América do Norte e Central, o fotojornalista Jabin Botsford foi premiado por uma fotografia de Donald Trump quando foi alvejado num comício em 2024, e na região da América do Sul, vários fotojornalistas brasileiros foram reconhcidos, nomeadamente Amanda Maciel Perobelli, André Coelho e Anselmo Cunha.
Na região da Ásia, Pacífico e Oceânia, destaque para uma fotografia do francês Jerome Brouillet que, nos Jogos Olímpicos de 2024, retratou o surfista Gabriel Medina em suspenso no ar, durante uma prova.
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