O romance, que “é a saga de uma família que a história portuguesa do século XX fez existir entre três continentes, Ásia – Índia, África — Moçambique, Europa — Portugal”, segundo o júri, vai ser publicado pela Editorial Gradiva, com a qual a Estoril Sol mantém uma parceria desde o início do concurso, em 2008.
O júri refere que “a diversidade imaginária desses três mundos é dada através de narrativas da memória de algumas das principais figuras da família. Nelas se recordam diferenças promotoras de violências diversas, das dores e angústias do poder sobre todas as suas formas”, segundo informação da Estoril Sol enviada à agência Lusa.
O júri foi presidido por Guilherme d’Oliveira Martins, do Centro Nacional de Cultura, e constituído ainda por José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB), Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, e, ainda, pelos profesores, escritores e ensaístas José Carlos de Vasconcelos, Liberto Cruz e Ana Paula Laborinho, convidados a título individual, e Dinis de Abreu, em representação da Estoril Sol.
O júri destacou também “a riqueza vocabular e os cruzamentos como figuras da cultura literária ocidental, que dão ao texto uma maturidade estilística com assinalável alcance literário”.
Francisco Mota Saraiva é o nome literário de Francisco Saraiva, nascido em 1988, em Coimbra, tendo vivido sempre entre Cascais e Lisboa, segundo informação da mesma fonte.
Saraiva é licenciado em Direito, pela Universidade Nova de Lisboa, e tem um Mestrado em Direito e Gestão, pela Nova School of Business and Economics. Tem trabalhado como jurista e consultor. Em 2021, foi-lhe concedida pela DGLAB uma bolsa de criação literária, na categoria de prosa e narrativa, durante a qual escreveu grande parte do original que venceu este galardão.
No mesmo comunicado, Francisco Saraiva afirma que o romance, “passado entre Tete, em Moçambique, Lisboa e Serpa, com vagas referências aos períodos pré e pós-colonial, pretende ser um conjunto de diversas narrativas que, entrelaçadas umas nas outras, e através de um coro de oito vozes, de algum modo se unem para contarem a história do absurdo da morte, tanto através da imagística como do quotidiano mais corriqueiro”.
“Apesar das diversas narrativas se construírem quase como contos isolados, há toda uma amálgama de pormenores e detalhes que vão surgindo aos olhos do leitor como aparentemente supérfluos e secundários, mas que servem para afinal contar a história única da fragilidade e do desconcerto do ser humano perante a sua condição fatal. A par disto, há relações proibidas ou devastadas pela cor da pele, pela falta de dinheiro, pelo passado, por aquilo que nos torna inevitavelmente mais frágeis. Depois disto, há o luto e mais nada sobra”, conclui Francisco Mota Saraiva.
Sobre o seu percurso, o autor recorda as histórias que o pai lhe leu na infância, antes de adormecer, e desde então nunca mais largou os livros.
“Por volta dos meus 14 anos, inspirado pela leitura dos primeiros ditos clássicos, os quais achava tão difíceis quanto belos, comecei a escrever pequenos contos e narrativas; uma necessidade já decorrente da fraca poesia que punha no papel desde muito cedo”, conta o escritor.
Como suas referências cita autores como Agustina Bessa-Luís, António Lobo Antunes, Eça de Queirós, Ferreira de Castro e Gonçalo M. Tavares, entre os autores nacionais; quanto aos estrangeiros, enumera García Márquez, Dostoievski, Jorge Luis Borges, Proust, Louis-Ferdinand Céline, Lispector e Dickens, citando também referências cinematográficas, como os realizadores Stanley Kubrick, Ingmar Bergman e os irmãos Coen, e na pintura, como Paula Rego, Graça Morais, Goya e Rembrandt. “A arte é um multiplicador”, atesta o autor.
Sobre a sua escrita declara: “Um estilo confuso e enigmático, porém, creio, digno. A linguagem hoje não é a mesma. Amanhã não será. E, no entanto, as palavras, a frase escrita, permanecem”.
A Estoril Sol não adianta quanto será entregue o galardão.
No ano passado o vencedor do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís, entregue no início deste mês, foi o romance “A Guerra Prometida”, de Marco Pacheco.
Comentários