Aos 38 anos, Britney Jean Spears já tem idade para tomar conta da sua própria vida pessoal, profissional, e para tomar decisões. Mas desde 2008 que a cantora norte-americana não é considerada capaz de o fazer. Tudo começou com uma série de episódios causados por vários surtos mentais.

Em 2007, o mundo ficou para sempre marcado pela aparição de Britney com o cabelo rapado. Aquele que podia ser apenas um ato de rebelião e irreverência, traços aos quais os fãs já estavam habituados, foi, afinal, mais uma prova da instabilidade emocional daquela que é conhecida como a princesa da pop. Mas esta foi apenas a ponta do icebergue. Entre relacionamentos que correram mal, abuso de drogas e álcool e o casamento falhado com o bailarino Kevin Federline, do qual resultaram dois filhos, os comportamentos de Britney levaram a que perdesse a custódia dos filhos e passasse alguns períodos em clínicas de reabilitação. 

Num episódio particularmente grave, a cantora trancou-se num quarto com o filho Jayden e recusou a entregá-lo ao ex-marido, acabando posteriormente internada numa clínica psiquiátrica. Britney foi mantida sob observação e acabou por perder a sua liberdade. A sua tutela, em inglês designado de “conservatorship”, foi atribuída por um juíz ao pai, James Spears, que passou então a ter controlo de todos os seus assuntos pessoais e financeiros.

Os termos do acordo nunca foram divulgados publicamente, mas há várias pistas que levam os fãs a considerar que tudo se trata de um abuso de poder contra a vontade de Britney Spears. Assim, em 2009, surgiu a campanha com a hashtag #FreeBritney, um movimento liderado maioritariamente por seguidores da cantora que acusavam James Spears de abuso de poder no que diz respeito ao controlo dos vários aspetos da vida da filha. A campanha tem retomado aos holofotes ao longo dos anos, consoante a evolução dos acontecimentos e a revelação de novas pistas e teorias.

Fora de controlo ou demasiado controlada

Ainda em 2008, no seu documentário para a MTV "Britney: For The Record", quando questionada pelo entrevistador se a sua vida estaria fora de controlo, a cantora respondeu: "Não sinto que esteja fora de controlo, sinto que está demasiado controlada". E esta é uma ideia a que os fãs se têm prendido ao longo de vários anos.

Se, inicialmente, a atribuição da tutela foi temporária, meses mais tarde acabou por ser prolongada. Esta, que é uma decisão normalmente tomada em casos de demência ou doenças mentais, quando a pessoa não é considerada capaz de tomar as suas próprias decisões, tornou-se particularmente controversa quando, dois meses depois de o acordo estar estabelecido, Britney presentear os fãs com videoclip do hit "Womanizer", seguido da tour mundial "Circus" que promovia o seu disco homónimo. 

Nos anos que se seguiram, a artista não parou quieta. Lançou quatro álbuns, fez três tours mundiais, participou no programa "The X Factor - USA", criou a sua linha de perfumes e cosmética, entre muitas outras coisas. Ainda que considerada incapaz de tomar as suas decisões, Britney Spears continuava a fazer música e a dar espetáculos e, consequentemente, continuava a ser uma máquina de fazer dinheiro. Segundo a Business Insider, estima-se que, atualmente, a cantora tenha qualquer coisa como 59 milhões de dólares em património líquido, valor que não controla há 12 anos.

Entre gestão financeira, de carreira, vida pessoal, e até mesmo de saúde, pouco ou praticamente nada estava nas mãos de Britney. James Spears e o seu advogado, Andrew Wallet, eram os dois grandes nomes por detrás de todos os movimentos — até, em 2019, Wallet ter resignado ao cargo de coresponsável de Britney. Ainda no ano passado, Jamie deixou de ser o "guardião legal" e de supervisionar a vida pessoal da filha, devido a problemas de saúde. Sucedeu-lhe a manager da princesa do pop, Jodi Montgomery, depois de alguns pedidos da mãe, Lynne Spears, que também queria estar envolvida na tutela da filha.

Ainda que os contornos do acordo inicial nunca tinham sido tornado públicos, os relatórios de todas as decisões financeiras era obrigatórios com uma periodicidade anual. De acordo com os dados mais recentes, num documento divulgado pela ET, a maior despesa de Britney estava ligada aos gastos legais, com mais de 1 milhão de dólares, uma estatística que não favorece a posição de Jamie e Wallet e que ajudam a alimentar os fãs revoltados da artista.

No entanto, o fim da "prisão" de Britney Spears parecia estar próximo. No dia 22 de agosto terminava o papel do pai como ‘tutor’ e, de acordo com o documento entregue no Tribunal Superior da Califórnia, em Los Angeles, nos Estados Unidos, citado pela CNN, Britney opunha-se "fortemente contra o regresso de James como ‘conservator’ da sua pessoa" e fazia saber que a sua vontade era que a sua ‘manager’, Jodi Montgomery, tomasse o lugar do pai. No entanto, o tribunal decretou, numa audiência à porta fechada, que a tutela se mantinha nas mãos do pai e foi alargada até fevereiro 2021.

Um post nunca é só um post, um like nunca é só um like

Para qualquer figura pública, as redes sociais são uma das principais vias de comunicação com a sua audiência de forma mais próxima e regular. Para alguém cuja vida privada é tão desconhecida e, simultaneamente, tão pública, qualquer movimento torna-se importante. Como uma vez na internet, para sempre na internet, de todas as vezes que #FreeBritney volta a estar na lista das tendências, as páginas da cantora são alvos de análise e um dos principais argumentos para quem suspeita de algum tipo de anomalia.

É na conta de Instagram de Britney Spears que surgem a maior parte das desconfianças de que alguma coisa não está bem. Entre vídeos e fotos que transmitem mensagens ambíguas e pouco claras, misturam-se as típicas selfies que trazem alguma aparente espontaneidade à página, mas a maior parte dos fãs não parece acreditar que estas publicações não tenham qualquer tipo de intenção maldosa. Há quem ache que há todo um planeamento que antecede aquilo que é publicado, assumindo que não é a cantora a controlar a rede social.

Mas há quem vá mais longe e ache que há mensagens subliminares que precisam de ser interpretadas: desde a cor da roupa ao movimento dos olhos, cruzando a mensagem das descrições das publicações com letras de músicas da artista. Ao fazer um scroll pelos comentários deixados nos posts, facilmente encontramos frases como "Algo não está certo", "Acho que esta foto já foi publicada antes", "O que ela diz não faz sentido, parece um guião" ou mesmo coisas mais radicais, como "Veste uma peça cor-de-rosa no próximo post se precisares de ajuda". Quem teme pela vida de Britney Spears ou desconfia de que algo está mal parece procurar decifrar a alegada mensagem encriptada para perceber se está tudo bem ou se a cantora está a pedir ajuda ou a tentar comunicar caso que precise mas que não possa.

Ainda no mundo das redes sociais, e porque ninguém acredita que as coisas acontecem por acaso, as suspeitas aumentaram ainda mais quando Lynne Spears, a mãe, começou a interagir com as publicações de #FreeBritney, a partilhar frases igualmente misteriosas e a meter like em quem dizia que a cantora precisava de ajuda para se libertar da tutela do pai. 

O mundo digital facilita o encontro de blogs, artigos e vídeos feitos por fãs que investigam a vida da cantora ao detalhe e que explicam toda a situação de forma exaustiva, até para quem não está a par da situação. Alguns, dão-nos os factos e outros aprofundam-se em teorias de conspiração mais ou menos credíveis. Há, inclusive, um podcast intitulado "Britney’s Gram", que desde 2017 se dedica em exclusivo à análise das publicações da cantora no Instagram e que é, assumidamente, um dos maiores apoiantes do movimento de libertação.

Britney Spears The Zone immersive experience in Los Angeles
créditos: EPA/EUGENE

Uma das teorias mais macabras de quem desconfia que Britney seja a vítima tem origem nas declarações de Ed Steinberg ao The Post. O produtor musical destacou que "quer esteja algo errado com ela ou não, o movimento #FreeBritney está a torná-la relevante ao longo do tempo, enquanto várias estrelas pop [dos anos 2000] estão a envelhecer aos olhos do público". Steinberg afirma ainda que quem gere a carreira, a marca e a própria Britney não é estúpido e ainda que possam não ser os responsáveis pela sua origem, estão definitivamente a beneficiar de todas as vezes em que Spears volta às luzes da ribalta, mesmo que pelas piores razões, quase como se tudo isto pudesse ser utilizado como uma estratégia de marketing.

Esta é uma daquelas histórias cujo fim é incerto, mas cujo enredo parece saído do argumento de uma série ou filme sinistro. Na verdade, há até quem faça a comparação do caso com o episódio "Rachel, Jack and Ashley Too", o terceiro da quinta temporada da série "Black Mirror", em que a cantora pop Ashley Too (interpretada por Miley Cyrus) vê a sua vida completamente controlada. Será que houve alguma inspiração ou será que ainda vamos ver futuramente um documentário detalhado na Netflix sobre os detalhes desconhecidos da vida de Britney Spears?

Já foram várias as figuras públicas que se manifestaram acerca do assunto. Miley Cyrus, Missy Elliot, Cher, Ruby Rose e Courtney Love são alguns dos nomes que já se juntaram ao movimento. Entre quem defende que esta era uma estratégia utilizada em prol da artista, há também quem, entre posts, likes e partilhas, espalhe a palavra do #FreeBritney. O fim desta história ainda é incerto e o maior medo dos fãs é que não termine com “E viveram felizes para sempre”.

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