Ao 10.º número, a revista Granta Portugal despede-se e une-se ao Brasil, onde a edição desta revista literária estava suspensa já há algum tempo, desde que a editora que a publicava foi comprada por um grupo editorial, disse à Lusa fonte da editora Tinta-da-China, responsável pela Granta em Portugal.
Tendo a Tinta-da-China uma editora também no Brasil, país com quem tem vindo a fazer um “trabalho consistente de ponte literária entre os dois países”, entendeu que envolver a Granta neste processo seria o seguimento natural.
Assim, a responsável pela Tinta-da-China, Bárbara Bulhosa, e o diretor da Granta Portugal, Carlos Vaz Marques, “apresentaram a proposta à Granta-mãe, e ela foi imediatamente aceite, devido ao enorme sucesso da Granta Portugal, que continua a ser a edição internacional mais bem-sucedida” desta revista.
A Granta do Brasil, na realidade designada “Granta em Português”, publicou 13 números entre 2007 e 2015. Agora regressa numa revista literária publicada em simultâneo nos dois países, com a mesma periodicidade semestral e com direção de Carlos Vaz Marques, que escolhe todos os autores e textos a publicar.
“O público-alvo aumenta exponencialmente e o trabalho de divulgação de novos escritores torna-se mais estimulante”, sublinhou a editora.
Outra das novidades desta nova revista é o fotógrafo Daniel Blaufuks como curador da parte visual da revista, ficando responsável pela escolha dos fotógrafos e dos ilustradores.
Embora mantendo a publicação de textos do arquivo da ‘Granta-mãe’, e também, pontualmente, de textos publicados nas outras edições internacionais da revista, a Granta Portugal/Brasil terá um maior enfoque nos autores lusófonos.
A prioridade será para autores portugueses e brasileiros, mas continuarão também a ser publicados autores de outros países de língua portuguesa, como já tem acontecido.
A edição que fecha a publicação da Granta Portugal é dedicada às “revoluções”, evocando o centenário da Revolução Soviética, e revisita “sonhos e pesadelos”, na perspetiva objetiva dos historiadores e na perspetiva “subjetiva, intima e ínfima” da literatura, diz Carlos Vaz Marques no editorial da revista, no qual recorda também a sua memória da revolução portuguesa: “pueril”, um “grito ao amanhecer”, na aldeia dos pais, “anunciando guerra em Lisboa”.
Este número da Granta faz-se, por isso, num "movimento de pêndulo, oscilando entre o particular e o universal", tanto nos textos, como nas ilustrações de Cristina Sampaio ou nas fotografias do arquivo pessoal de Alfredo Cunha.
Num conto “irónico e desencantado” de Mário de Carvalho, “Revolução” é apenas um filme sem nada de memorável, projetado num cinema de bairro frequentado por uns poucos reformados que aproveitam a sala escura para passar as tardes.
A escritora Isabela Figueiredo põe em cena o lema de Cândido, personagem de Voltaire, que sugere que cada pessoa tem o dever de cultivar o seu próprio jardim, para sugerir que, na ausência de jardim, se faça a revolução em floreiras clandestinas.
As flores são também protagonistas no conto de João Tordo, que fala de uma buganvília temporariamente abandonada, num verão de calor trágico, por causa de uma viagem à Polónia, mas que no fim sobrevive.
Saindo do mundo da ficção, a poeta Golgona Anghel, nascida na Roménia, reflete sobre o modo como a execução sem julgamento do casal Ceausescu ainda ensombra a Roménia.
Rui Cardoso Martins aproveita o centenário da revolução bolchevique para uma viagem física e literária à Rússia, que inclui textos de Gogol a Dovlatov – nome até agora inédito em português.
A abrir as páginas da Granta, Susana Moreira Marques interroga-se sobre “como escrever sobre a revolução” e descobre que ao tentar escrever sobre o passado, está a escrever para o futuro.
Andrei Platónov, Milan Kundera, Mouna Abouissa, Jen George e Pola Oloixarac são os nomes que assinam os restantes textos deste número, que estará nas livrarias a partir de dia 20.
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