Nota: este artigo contém spoilers e informação relevante sobre a série Guerra dos Tronos (Game of Thrones). Se não quiser saber o que acontece no episódio ontem à noite transmitido, o SAPO24 tem todo o prazer de convidá-lo/a a ler as restantes notícias que escrevemos e editámos. Basta ir a 24.sapo.pt e está "spoiler-free".

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Passava pouco das 22h quando o canal por cabo transmitiu o último episódio da sétima (e penúltima) temporada da mais mediática série de televisão dos últimos anos. Passámos sete temporadas à espera que o “inverno” chegasse e parece que desta vez é que é. Mas já lá vamos.

Primeiro, um olhar para aquilo que foi esta sétima temporada.

Sem o “suporte” das obras de George R. R. Martin desde a temporada passada — os produtores e guionistas da série seguiram a série de livros escritos por Martin até à quinta temporada, altura em que passaram a ter de criar eles próprios uma continuação para a história, ainda que com a ajuda do escritor americano —, a temporada que teve mais de 10 milhões de espetadores de audiência no seu episódio de estreia foi alvo de inúmeras críticas pela forma como a história foi “conduzida” pelos guionistas.

A coerência da série — algo tantas vezes apontado como um dos seus pontos mais fortes, ainda que estejamos a falar de um universo onde cabem dragões, mortos-vivos e ressurreições — foi colocada em causa (a questão da distância percorrida por Jon Snow vs. os chamados “white walkers” ou, num tom abrasileirado, “caminhantes brancos” foi uma das que mais chamou a atenção), a “previsibilidade” do destino das personagens (a não-morte de Jaime Lannister no final do quarto episódio da temporada é disso um exemplo, ainda que este possa ser considerado o melhor de toda a temporada), o uso excessivo de “comic reliefs” (com Sir Davos ou Tormund à cabeça) ou a exploração do “romance” entre Jon Snow e Daenerys Targaryen são temas que foram sendo levantados ao longo das últimas sete semanas e que abalaram um pouco a confiança dos indefetíveis “game-of-thrownianos” no que respeita à qualidade da série.

Contudo, não deixa de ser normal que um projeto televisivo que já venceu 38 Emmys (recordista dos prémios na categoria de “Série Dramática”) nos “habitue mal”, por assim dizer. Da Guerra dos Tronos espera-se a excelência. O “bom” parece não ser suficiente. O “normal” ou “regular” parece não chegar.

De qualquer das formas, Guerra dos Tronos é Guerra dos Tronos, ainda que a parte fantástica da série tenha tido, pela primeira vez, mais destaque do que a parte política e dramática da mesma. A Guerra dos Tronos nunca foi, para muita gente, uma série fantástica. Era, isso sim, uma série dramática, com enredos políticos altamente intrincados, com dilemas morais a cada esquina e com personagens de difícil definição, uma vez que o Bem e o Mal sempre caminharam de mãos dadas, lado a lado, em muitas das personagens, numa “humanização” de personagens que habitam num universo fantástico. Como o autor dos livros explicou numa entrevista à Al-Jazeera em 2014, “muito poucas pessoas levantam-se de manhã e dizem ‘oh, sou mau, que maldades posso fazer hoje?’. Os maiores ‘monstros’ da história, se olharmos para eles, acharam que eram os heróis da história. O vilão é o herói do outro lado, como às vezes é dito”. E bem dito, acrescente-se.

Só que “disso” viu-se pouco nesta temporada. As personagens foram-se “estereotipando”, o enredo foi-se desenvolvendo a uma velocidade nunca antes vista e o fator surpresa foi diminuindo a cada episódio, ainda que houvesse a esperança de que os últimos capítulos trouxessem o momento “ah!” que nos faz esperar meses a fio pela série.

Não trouxe.

Mas trouxe outras coisas, não temam. Tivemos o reencontro entre Cersei e Tyrion Lannister, que foi provavelmente dos melhores momentos do episódio (“dobremos o joelho” a Lena Headey e Peter Dinklage, pois claro); tivemos o reencontro entre “Mountain” Clegane e Gregor “Hound” Clegane; e tivemos, também, a separação dos incestuosos irmãos Cersei e Jaime. Veremos que destino está reservado a este último, na próxima e última temporada da saga: adotará uma posição neutra ou vai juntar-se a Tyrion numa espécie de aliança “todos-contra-Cersei”?

Assistimos também à emancipação de Theon Greyjoy enquanto líder do grupo de resgate da sua irmã, Yara. É já uma certeza que a próxima temporada trará o “pequeno Theon” a ir em socorro da sua irmã, prisioneira às mãos do seu tio Euron (um dos grandes vilões desta temporada que acabou por ter menos “tempo de antena” do que muitos, provavelmente, desejavam).

Houve também espaço para a morte, ou não estivéssemos a falar da Guerra dos Tronos. Contudo, o desaparecimento de Petyr “Littlefinger” Baelish às mãos das irmãs Stark (ok, de uma delas...) não provocou propriamente choque ou comoção, uma vez que, para além de ter sido algo bastante veiculado na internet durante o tempo que durou esta temporada, a personagem em si não era propriamente amada pelos fãs (ainda que a sua importância no desenrolar de uma série de acontecimentos na série seja, como se viu na cena que antecedeu a sua morte, de vital importância). Não estamos a falar de um Ned ou de um Robb Stark...

No que respeita a revelações, as mesmas estiveram a cargo de Bran Stark, confirmando aquilo que os fãs mais atentos já teriam depreendido das palavras de Gilly no quinto episódio da temporada: Jon Snow é filho de Lyanna Stark (irmã de Ned, a quem Jon chama de pai) e... Rhaegar Targaryen. Esse mesmo, o filho do “Rei Louco” Aerys Targaryen e irmão de... Daenarys Targaryen. Jon Snow – ou melhor, Aegon Targaryen, como é possível perceber no episódio, quando Bran regressa ao passado e ao momento da morte de Lyanna – é, por isso, o herdeiro do Trono de Ferro e sobrinho de Daenarys Targaryen, o que torna a cena de sexo entre ambos (que acontece ao mesmo tempo que estas revelações vão sendo feitas) um momento de incesto. Nada a que não estivéssemos já habituados no universo da Guerra dos Tronos, ainda assim (olá Jaime, olá Cersei!).

Jon e Dany (como o Rei do Norte carinhosamente lhe chamou no episódio anterior) consumaram, portanto, a atração que vinha a ser trabalhada (e desejada por alguns fãs, diga-se) desde o início da temporada. Resta saber o que vai acontecer quando Jon, perdão, Aegon, descobrir a sua verdadeira identidade (e, já agora, a sua verdadeira posição no que à sucessão ao trono deixado livre pelo seu avô diz respeito).

Por último, o inverno. Chegou. E com ele trouxe os mortos. Os “white walkers” chegaram (finalmente!) aos Sete Reinos e contam agora com um "reforço" de peso: Viserion, “filho” dragão de Daenarys Targaryen e que desde o episódio passado deixou de expelir fogo amarelo-alaranjado pela boca, para agora disparar aquilo a que se pode humildemente chamar de “fogo-azul”.

A Muralha foi destruída pelo referido "reforço" e o Exército dos Mortos iniciou (finalmente!) a sua empreitada de dominação do mundo “game-of-throwniano”.

Falta agora uma temporada, de seis episódios, para que se assista à conclusão de um dos maiores fenómenos televisivos de sempre a nível global. Ainda que seja provável que apenas em 2019 voltaremos a ver Cersei, Jaime, Tyrion, Jon (perdão, Aegon), Sansa, Arya ou Daenarys, serão seis episódios que prometem deixar colados ao ecrã os milhões de fãs que a Guerra dos Tronos conquistou ao longo dos últimos seis anos (a série estreou em abril de 2011).

O inverno já chegou. Resta saber quando vai embora.

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Créditos da foto de destaque: HELEN SLOAN / HBO