Em entrevista ao SAPO24, Sara Barros Leitão, encenadora e autora do espetáculo, conta que "a ideia surgiu no dia 25 de abril de 2022, quando contactei com um discurso de um deputado que era intercalado com didascálias, com espaço para aplausos, protestos, apartes - a dizer 'Olhe que não!' - , entre outras curiosidades".

"Este é um espetáculo falhado logo à partida"

"Achei engraçado aquele discurso porque tinha indicações cénicas, como se de uma peça se tratasse. Fiquei curiosa e percebi que essas transcrições, que estão no site da Assembleia da República, num grande serviço à democracia que nos fazem e que qualquer pessoa pode consultar, já são em si teatrais". Isto levou-a "a querer fazer um espetáculo sobre os últimos anos de democracia a partir do ângulo da assembleia livre, plural e representativa".

Mas como fazer uma peça com 50 anos de conteúdo? Para Sara Barros Leitão, "é um jogo de escalas muito difícil, ou mesmo impossível". "Este é um espetáculo falhado logo à partida. E sempre que olho para ele penso que falta qualquer coisa. Eu não diria que o espetáculo é uma coleção de momentos, mas é uma viagem impressionista pela nossa história coletiva", diz.

Guião para um país possível
Guião para um país possível créditos: Teresa Pacheco Miranda

O objetivo é colocar em 1h45 de espetáculo um pequeno resumo daquilo que é o debate democrático. "Eu fico impressionada porque, na verdade, o texto final não tem praticamente nada. Mas este também não é um espetáculo histórico. É um espetáculo que propõe um olhar sobre a Assembleia da República dentro daquilo que é possível. Daí o título da peça", destaca a encenadora.

Com apenas dois atores em palco, João Melo e Margarida Carvalho, a encenadora reforça que a peça "não é um diálogo". "Os dois atores começam por ser os redatores da assembleia, mas a partir daí viajam e são presidentes, deputados, funcionários, são esquerda e direita, são companheiros e rivais, são tudo. É uma viagem a tudo aquilo que os papéis nos proporcionam", aponta.

"A democracia é a arte do possível, ou seja, é o que temos em comum mesmo com ideias opostas e distintas"

Quando lhe perguntamos se é um espetáculo com algum tipo de ideologia política, Sara evidencia que não. "Espero que qualquer pessoa se identifique, porque caso contrário estaria a trair aquilo que deve ser um bom espetáculo. A peça, apesar de ser sobre discursos políticos, não quer dizer que seja sobre esse tema. É sobre uma viagem coletiva, que é a nossa e é política, porque a forma como nos organizamos em sociedade é política. O objetivo é explorar como quando acabámos com uma ditadura férrea em Portugal conseguimos construir um país em que tudo era possível", sublinha.

Guião para um país possível
Guião para um país possível créditos: Teresa Pacheco Miranda

"Eu acho que o 25 de Abril é um exercício de imaginação. Que país é este que nós queremos? Todos os dias nos devemos fazer esta pergunta. A peça não tem uma questão de ideologia política, mas sim uma ode àquilo que é o diálogo, a discórdia e o debate por ideias opostas", explica também.

"A democracia é a arte do possível, ou seja, é o que temos em comum mesmo com ideias opostas e distintas. É esse comum e esse diálogo o que é bom em democracia. A peça é mais sobre isso, sobre o que se consegue construir em comum e não sobre uma solução", acrescenta a encenadora.

Descreve assim um "espetáculo que nos permite olhar para o futuro e pensar no que vamos fazer nos próximos 50 anos de democracia, e está nas nossas mãos fazê-la e imaginar o país que queremos", reforça Sara Barros Leitão.

'Guião para um país possível' vai estrear já no dia 7 de dezembro no Centro Dramático de Viana / Teatro do Noroeste, em Viana do Castelo, onde vai ficar até ao dia 10 de dezembro. Os bilhetes já estão à venda e podem ser adquiridos aqui, com o custo de 10 euros.

Depois de Viana do Castelo parte para Torres Vedras, a 11 e 12 de janeiro, e segue para Ílhavo, a 19 e 20 de janeiro.

Pela capital, a digressão vai passar só em abril do próximo ano, onde irá estar no Teatro do Bairro Alto, nos dias 13 e 14 de abril, passando até lá também pelo Funchal, Coimbra, Famalicão e Pombal.

Depois de Lisboa já se sabe que segue para Viseu, Santarém, Marinha Grande, Vila Real, Loulé, Covilhã, Alcanena, Miranda do Corvo, Tondela e Matosinhos.

As datas e locais da digressão podem ser consultadas diretamente no site da companhia de teatro, sendo que a última data anunciada é no final de 2024.