A 29 de setembro de 1998, penúltimo dia da Expo’98, num edifício onde outrora tinha funcionado uma empresa de estiva, era inaugurado um novo espaço noturno em Lisboa, com vários bares, duas pistas de dança — no rés-do-chão e no primeiro andar — e um terraço.
Ao longo dos anos, o Lux-Frágil, além de funcionar como bar e discoteca, tem acolhido concertos, performances, exposições, apresentações de livros e de discos e até foi ‘set’ de programas de televisão.
O dia de aniversário é hoje, mas as comemorações começaram logo em janeiro, com a primeira de 20 festas LuXX. “Ao longo deste ano vamos recordar-vos porque é que valeu a pena e porque é que o balanço entre os benefícios e os prejuízos é positivo”, lia-se num comunicado divulgado pelo espaço no início deste ano.
Mas um ano que devia ser apenas de comemorações, acabou por ser também de perda, com a morte, em março, do fundador do espaço. Manuel Reis era considerado uma das figuras mais discretas e emblemáticas da vida cultural noturna de Lisboa, desde a década de 1980, inicialmente no Bairro Alto, onde fundou a discoteca Frágil, e, mais tarde, com o Lux-Frágil, junto ao Tejo, e o Rive Rouge, no Cais do Sodré.
Manuel Reis ainda acompanhou a conceção de “Paradisaea”, exposição inaugurada este mês no Hub Criativo do Beato, concebida pelo designer Fernando Brízio, que faz a revisão dos 20 anos de comunicação visual e sonora do Lux, e que estará patente até 11 de novembro.
A mostra revisita o trabalho “dos designers, artistas e criadores que, em diferentes elementos e suportes – convites, flyers, cartazes, websites, fotografias, desenhos, vídeos, podcasts, mobiliário, objectos, esculturas, peças de vestuário, maquetas, adereços, música, textos – fizeram as muitas dimensões do Lux”.
Entre os muitos que colaboraram com o Lux-Frágil aos longo dos últimos 20 anos estão os artistas plásticos João Pedro Vale, Joana Vasconcelos, Pedro Cabrita Reis e Vhils, os designers gráficos Ana Cunha e Ricardo Mealha, os designers de moda Dino Alves, Filipe Faísca, Alexandra Moura e Lidija Kolovrat e os fotógrafos Luísa Ferreira e Pedro Cláudio.
No comunicado divulgado em janeiro, os responsáveis pelo espaço lembram que o Lux Frágil se instalou "numa parte da cidade que esteve esquecida”, tendo tentado “tudo para que não fosse”.
“Não foi fácil. Acreditámos que a parte oriental de Lisboa devia estar ligada ao centro e durante muitos anos não esteve. Aguentámo-nos”, lia-se na nota.
Algo corroborado em 2008 pelo arquiteto Leonel Fadigas, paisagista e urbanista, doutorado em Planeamento Urbanístico, que na altura classificou o Lux-Frágil como "uma ilha no meio de um território que foi limpo, mas não foi revitalizado".
"Entre o centro da cidade e o Parque das Nações é terra de ninguém, e a dinâmica urbana deixou o Lux numa ilha. Em 1998, ainda se pensou que a revitalização daquela zona podia arrancar, mas afinal não", referiu em declarações à Lusa, a propósito do 10.º aniversário daquele espaço.
Depois disso na zona entre o Terreiro do Paço e o Parque das Nações, que acolheu a Expo’98, surgiu o novo terminal de cruzeiros, foi renovado o Campo das Cebolas e está em curso a criação do Parque Ribeirinho Oriente, que visa converter a área da Matinha, Braço de Prata e Doca do Poço do Bispo em zonas de lazer.
No mesmo comunicado, a equipa responsável pelo espaço partilha que a dada altura percebeu que “o Lux é um clube de referência na Europa e no interior do país”. “Mesmo para quem nunca cá entrou, e também por isso estamos contentes”, escreveram.
Em 2014, o jornal britânico The Guardian incluía o Lux na lista dos “25 melhores clubes da Europa – escolhidos por especialistas”, destacando que o espaço “deu vida a uma área de Lisboa, abrindo o clube, restaurantes, uma loja de discos e galeria de arte, onde dantes não havia nada”.
As comemorações continuam até ao final do ano e a grande festa de aniversário está marcada para 2 de outubro. Esta, ao contrário das outras, é apenas para convidados.
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