Colecionar coisas, sobretudo esquecidas ou descartadas, faz parte da vida de milhares de portugueses, uns por mero passatempo, outros que as tornaram uma razão de viver, dedicando toda uma vida a objetos que são muito mais do que isso, têm uma história.
"Comprei umas 20 [gravatas], mas quando cá cheguei, não consegui oferecer nenhuma”
E essa é a história deste autarca, que, em 1993, durante uma viagem que fez à Tailândia, na altura como radialista de uma rádio de Castelo Branco, começou a comprar gravatas para oferecer como recordações aos amigos.
“Em Banguecoque, onde a seda é uma coisa muito vulgar, existe um mercado que só funciona à noite e onde havia imensas bancas a vender gravatas. Comecei a comprar para oferecer aos amigos. Comprei umas 20, mas quando cá cheguei, não consegui oferecer nenhuma”, recordou entre uma enorme gargalhada.
O caminho de uma nova paixão estava iniciado e o mundo peculiar dos colecionadores, ainda sem o saber, tinha acabado de angariar mais um apaixonado.
O ano de 1993 é também de mudança radical para este engenheiro eletrotécnico, que nasceu em Alpiarça, cresceu em Ponte de Sôr e que adotou como sua a cidade de Castelo Branco, onde está há 30 anos.
Em julho desse ano, entra para a vida pública, como autarca. As novas funções justificam o uso da gravata.
“A partir daí, tendo em conta que a gravata é o acessório masculino que pode fazer a diferença, esta passou a fazer parte do seu dia-a-dia. Os fatos são todos mais ou menos iguais, o que faz a diferença é a gravata”, sustenta.
“A partir daí, nunca mais a usei”.
A escolha e o uso são feitos consoante o evento, a época ou mesmo o estado de espírito: Se chove, por exemplo, a escolha recai numa gravata com estampas de guarda-chuva, se é natal, o acessório tem que combinar com a época ou mesmo a disposição.
Das 600 que Jorge Vieira Neves coleciona, há gravatas que têm histórias de vida, umas tristes, outras divertidas e outras ainda exclusivas.
A gravata com os Simpsons que diz “tal pai, tal filho”, por exemplo, é muito especial. Corria o ano de 1999 e o autarca trazia esta gravata no dia em que o seu pai morreu: “A partir daí, nunca mais a usei”.
Já a do Benfica, clube do seu coração, está autografada pelo antigo ponta de lança encarnado Nené. Ou ainda as duas gravatas exclusivas, com o bordado de Castelo Branco, que não se encontram ainda à venda no mercado.
“A primeira gravata personalizada com o bordado de Castelo Branco surgiu quando a minha filha e a minha mulher quiseram oferecer uma prenda original no natal de 2015″, explica.
Depois, há ainda as gravatas que amigos lhe oferecem, as que acaba por comprar via internet, sobretudo oriundos dos Estados Unidos da América e da China, ou ainda aquelas que compra sempre que vai em viagem.
“Há também as que me oferecem e que foram de pessoas amigas. A filha de um amigo, por exemplo, depois de ele ter falecido, ofereceu-me as gravatas dele”, disse.
A cada gravata corresponde praticamente uma história. Os preços destes acessórios vão desde os três euros aos 75, sendo que uma das mais caras foi comprada em Florença, Itália.
“Passei por uma loja de vestuário e a gravata estava na montra. Olhei para o preço e entrei. Contudo, só depois de pedir o artigo é que percebi que o preço que tinha visto na montra correspondia a outra peça. Já não voltei atrás, apesar de me terem subido os calores por causa do preço”.
O autarca, que cumpre o seu último mandato, quer ainda fazer uma exposição original com a sua coleção na Casa do Arco do Bispo, em Castelo Branco, antes de abandonar a presidência da junta de freguesia.
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