“A grande conclusão deste livro é a de que aquilo que de mais avançado foi feito na história da humanidade: a assunção de que toda a gente, independentemente do nascimento, tem o direito a saúde, educação, segurança social, transportes públicos, lazer, limites ao horário trabalho, vida pública, vida privada, direito ao lazer foi conquistado na Europa e foi conquistado por quem trabalha”, destaca Raquel Varela, sublinhando que os direitos dos cidadãos foram conquistados ao longo das décadas, contra o poder dominante.
“Nada foi oferecido nem pelos governos nem pelos Estados. Os direitos foram conquistados ao longo de sucessivas revoluções e movimentos sociais e populares de resistência, na Europa, no século XX.”, afirmou a investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.
O mais recente livro da historiadora Raquel Varela “Breve História da Europa – Da Grande Guerra aos Nossos Dias” percorre o século XX “que começa com uma inusitada” ascensão dos trabalhadores organizados na Revolução Russa (1917).
“Isso não tinha acontecido antes com esta dimensão. Acarretado a isso vem a mobilidade social e termina com a proletarização das classes médias. Isso é uma marca do século XX”, salientou a historiadora.
Para Raquel Varela, “o fim do pacto social situa-se na crise financeira de 2008, altura em que, afirma, se começam a atacar os direitos fundamentais e laborais.
A historiadora considera que o Estado Social não é uma dádiva mas uma conquista e frisa que morreram 80 milhões de pessoas na II Guerra Mundial (1939-1945).
“O Estado Social foi a troca que o capitalismo deu: ‘vocês vão ter segurança e paz segurança social se nos entregarem as armas’. Este é o pacto construído após o fim do conflito na Europa e isso chega ao fim em 2008 e já tinha entrado em crise a partir da década de 1970”.
Raquel Varela, ao longo do livro quer deixar marcado de que “não podemos esquecer” o maior genocídio da História aconteceu na Europa, feito por europeus contra europeus e que no século XX os limites foram sempre “mais longe”.
As conquistas, mas também as barbaridades foram singulares e nunca se verificou tanta diversidade ideológica como no século passado indica a historiadora no livro sobre a história social e que tem o trabalho como questão fundamental.
Sobre Portugal o livro aborda a questão do colonialismo que usou de “forma sistemática e por mais tempo várias formas de trabalho forçado” e a Revolução de 1974.
“A Revolução dos Cravos foi uma revolução urbana, europeia, numa sociedade onde o peso da indústria e dos serviços já era maior do que na maioria das revoluções do século XX. Ao contrário da maioria dessas revoluções dessas revoluções, de base camponesa e apoiadas em partidos-exército, a Revolução portuguesa pode ter sido não só a última revolução do século XX a colocar em causa a propriedade privada dos principais meios de produção, mas a primeira do século XXI” (página 208), escreve Raquel Varela no livro.
“Breve História da Europa – Da Grande Guerra aos Nossos Dias”, de Raquel Varela (Bertrand Editora, 327 páginas) vai ser apresentado hoje em Lisboa.
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