“Júlio Pomar: Pintura de Histórias” dá título a esta exposição com curadoria de Alexandre Pomar e Sara Antónia Matos, diretora do Atelier-Museu Júlio Pomar, tutelado pela Empresa de Gestão e Equipamentos de Animação Cultural (EGEAC), que é inaugurada às 17:00.

O conjunto de obras procura mostrar a forma como Júlio Pomar (1926-2018), desde a década de 1980, retrabalhava e explorava as várias narrativas, histórias e mitos que constituem um imenso património de referências culturais, que deram origem a séries como “O Rapto de Europa”, “Adão e Eva”, “Diana e Acteon”, “Salomé”, “Ulisses e as Sereias”.

Até 02 de outubro, a exposição, como refere o título, “remete quer para a revisitação da História da Arte e dos seus mestres – Rubens, Poussin, Vermeer -, quer para histórias inventadas e/ou recriadas pelo pintor, podendo dizer-se que aí reside uma das componentes conceptuais desta produção”.

“As narrativas mitológicas, carregadas de valor moral, escondem (…) quase sempre as dimensões mais explícitas da sexualidade e da violência, mas, em Júlio Pomar, as simbologias e narrativas mais estabilizadas são como que refratadas com humor e ironia, colocando à vista a sua componente interditada”, aponta um texto dos curadores.

Na sua opinião, a invenção de histórias “faz parte da recriação e continuidade da História e a sua reescrita de um alargamento necessário à atualização histórica”.

“Por outras palavras, os mitos sobrevivem ao tempo através do recontar de histórias, e Pomar, não pretendendo descartar-se do passado, parece apropriar-se dele para o apresentar em novas versões ou possibilidades pictóricas, potenciando a ambiguidade e o enigma inerente à figura, através do gesto e da abordagem abstrata”, acrescenta a curadoria.

Por volta de 1982-1985, altura em que criou os azulejos para o Metro de Lisboa e as variações sobre Edgar Allan Poe e a “Mensagem”, de Fernando Pessoa, começou um novo capítulo da obra de Júlio Pomar, em que se acentua ainda mais a importância dos temas literários e aparecem as figuras da mitologia clássica.

“A pintura de Pomar torna-se ficção pictural, teatro, comédia e drama, transformando as histórias tradicionais em versões próprias, onde se exploram a constante metamorfose das figuras e a aceitação do acaso. O ‘estilo tardio’ é de facto uma nova maturidade”, aponta ainda.

Além dos mitos, Pomar ficou fascinado por figuras como Ulisses, D. Fuas e D. Quixote, que a próxima exposição do Atelier-Museu Júlio Pomar apresenta em obras das últimas décadas de atividade, nas quais, ainda segundo o texto da curadoria, o artista desenvolve elementos cromáticos, em formas e fundos.

Nas últimas décadas, referem, a pintura de Pomar “fica habitada e pulverizada de figuras estranhas, por vezes bizarras: piratas, diabos, sereias, gorilas, touros, cabras e porcos, confluindo para um cruzamento entre cultura erudita e popular, clássica e pop — faces de uma mesma moeda, como próprio pintor gostava de frisar”.

Esta exposição, maioritariamente constituída por pintura, apenas pontuada por alguns desenhos, “procura evidenciar que a pintura de História e de histórias é, não um retorno unidirecional para o passado, antes um impulso para a construção de uma história futura, ampla, pulverizada de muitas outras, com lugar para figuras bizarras, diferenças, estranhezas, além de toda a convencionalidade”.

No decurso da exposição será publicado um catálogo com textos de vários autores, numa edição do Atelier-Museu Júlio Pomar/ Documenta, e imagens das obras instaladas no espaço.