A decisão foi anunciada através do Facebook.

"Olá. Hoje é um bom dia para olharmos para a frente. Os Xutos vão continuar. Temos entre mãos as músicas novas, muitas delas com a guitarra do Zé já gravada, estamos a contar com o disco de originais neste ano. Temos alguns convites para actuações especiais de homenagem ao Zé Pedro. Temos vários pedidos para concertos que vamos aceitar. Não é fácil, a ausência pesa toneladas, sabemos que vai ser diferente, esperamos que seja bom. Com a ajuda de todos a gente não vai parar. Abraços !"

Os Xutos & Pontapés cumprem hoje 39 anos de existência, a 13 de janeiro, dia em que, em 1979, deram o primeiro concerto nos Alunos de Apolo, em Lisboa.

O primeiro concerto dos Xutos & Pontapés sem Zé Pedro foi na passagem de ano para 2018, em Albufeira, um mês depois da morte do guitarrista, um dos fundadores. Cerca de 70 mil pessoas saudaram efusivamente a banda.

O último concerto no qual Zé Pedro participou foi a 04 de novembro, no coliseu de Lisboa, que assinalou o fim da digressão de 2017 dos Xutos & Pontapés.

O percurso de uma estrela do rock, sem "vaidade exagerada"

José Pedro Amaro dos Santos Reis (Zé Pedro) nasceu em Lisboa, em 14 de setembro de 1956, numa família de sete irmãos, “com um pai militar, não autoritário, e uma mãe militante-dos-valores-familiares”, como recordou num dos capítulos da biografia “Não sou o único” (2007), escrita pela irmã, Helena Reis.

A relação com a música vem desde novo, por influência do pai, e uma das memórias é uma ida ao festival Cascais Jazz, na adolescência.

Nos anos de 1970, escreveu crónicas de música no suplemento Mosca, do Diário de Lisboa, e gastou o primeiro ordenado num aparelho de rádio. No verão de 1977, numa viagem de comboio pela Europa foi a um festival punk no sul de França, que terá sido decisivo para a formação pessoal e para o que queria fazer de futuro.

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De regresso a Lisboa, mergulhado na estética punk rock, conheceu o músico Pedro Ayres Magalhães, então dos Faíscas, do qual se torna 'manager' oficial.

Foi no final dessa década de 1970 que Zé Pedro, juntamente com Zé Leonel e Paulo Borges, decidiu criar uma banda, batizada de Delirium Tremens. Passou depois a chamar-se Xutos & Pontapés, já com a entrada de Kalú e de Tim para o lugar de Paulo Borges.

O primeiro ensaio aconteceu em dezembro de 1978, na Senófila, em Lisboa, e o primeiro concerto realizou-se em 13 de janeiro de 1979, nos Alunos de Apolo, em Lisboa. São estas as datas-chave do aparecimento do mais duradouro grupo rock português, que fez de Zé Pedro um dos mais carismáticos, conhecidos e acarinhados guitarristas da música portuguesa.

Em maio de 2011, por causa de novos problemas de saúde, fez um transplante de fígado e, pouco tempo depois, voltou aos concertos, porque dizia que estar em cima de um palco lhe dava saúde.

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Colecionador de música, a par da vida nos Xutos & Pontapés, Zé Pedro desdobrava-se noutros projetos, como a rádio, tendo colaborado com Jaime Fernandes e Luís Filipe Barros na Rádio Comercial, com Henrique Amaro, na Rádio Energia, com Miguel Quintão na Vox ou, mais recentemente, na Rádio Radar.

Foi ainda DJ, um dos gerentes e diretor artístico do Johnny Guitar, fez parte dos Cavacos, do Palma’s Gang, dos Maduros, dos Ladrões do Tempo, congregando várias gerações de músicos e de públicos.

Em 2004, quando os Xutos & Pontapés celebraram 25 anos de carreira, os cinco músicos da banda – Tim, Zé Pedro, Kalú, João Cabeleira e Gui – foram agraciados pelo então presidente da República Jorge Sampaio com o grau de comendador da Ordem de Mérito, por “serviços meritórios” prestados ao país.

Em 2011, depois do transplante de fígado, razão pela qual mudou o estilo de vida, Zé Pedro recordou em entrevista ao Expresso que sempre assumiu ser “uma estrela do rock”, com orgulho, mas sem “uma vaidade exagerada”.

Nesse ano, quando lançou o álbum de parcerias "Convidado: Zé Pedro", Zé Pedro disse, em entrevista à agência Lusa, estar agradecido pela vida que teve: "Enquanto se cá está, tem que se estar a fazer coisas e, se tens a oportunidade de as fazer, não se pode desperdiçar. Felizmente, não sou nada nostálgico. As coisas foram vividas na altura certa e o que foi não volta a ser"

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