"A escola não pode ser o que era há 30 anos”, alertou hoje o ex-secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, durante a sua palestra no 1º Congresso de Escolas, que está a decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Para o investigador do Centro de Estudos do Desenvolvimento Humano, “tudo está a mudar à volta da escola”, mas a escola pouco mudou e este desequilíbrio faz com que muitos alunos acabem por se afastar do ensino.
Num tempo em que os alunos têm acesso imediato e sem controlo a informação e em que há um consumo permanente de imagens, a escola parece viver à margem desta realidade, segundo o especialista em educação.
Joaquim Azevedo tem um projeto no Porto em que lida com crianças que abandonaram os estudos e foi graças a esse trabalho que descobriu que nas escolas ainda existem muitas “aulas de passar”.
Perante uma plateia de docentes, repetiu a explicação que lhe deram sobre o significado de "aulas de passar": "São aulas em que o professor escreve no quadro e nós passamos para o caderno”.
“Alguns professores ainda são mais fixes e fecham a luz nas aulas e a gente dorme”, citou ainda o investigador, para demonstrar todo o trabalho que está por fazer nas escolas.
Defendendo que “a motivação dos alunos é um trabalho da escola”, Joaquim Azevedo criticou quem diz que os alunos não chegam às aulas motivados e quem culpa os pais "porque a motivação devia vir na mochila”.
Para muitos alunos que acabaram por abandonar os estudos "a escola foi uma tortura”: “É de uma violência incrível. Há miúdos que abandonaram a escola porque não era aquilo que queriam fazer”.
Se, nos tempos da revolução de Abril, o importante era garantir a universalidade da educação, agora os tempos são outros: “Agora é preciso uma educação para cada um”, sublinhou, lembrando as ainda elevadas taxas de chumbos que significam “alunos cilindrados”.
“Há uma realidade em profunda transformação”, disse o especialista, criticando escolas e professores, mas também partidos políticos e Governo por não se adaptarem aos tempos modernos.
Joaquim Azevedo censurou os partidos políticos por “não perceberem as mudanças” que ocorreram nas últimas décadas e por continuarem a nortear-se por paradigmas desatualizados.
“É preciso um banho de realidade. É preciso perceber o que se está a passar à nossa volta”, criticou.
Sobre os governantes que trabalham no Ministério da Educação, lamentou a ideia de “quem se senta na 5 de Outubro é um iluminado”: “Há uma cultura estadista iluminada, centralista, prepotente e errática que gere dependências e dele se nutre”.
No mesmo sentido condenou o gigantesco investimento financeiro feito nos últimos anos na requalificação do parque escolar que voltou a reerguer “escolas do século XIX”: Criou “escolas lindíssimas, projetos lindíssimos mas para quê? Apetece chegar lá e partir paredes. Trinta alunos em cada sítio?!”.
Para Joaquim Azevedo, a escola tem de ser um local de trabalho, onde os alunos estão empenhados a fazer algo, e em que o espaço físico permite a interação entre todos, com a criação de turmas continuas e equipas educativas.
“É preciso dar voz aos alunos, que são uma parte escondida do iceberg”, defendeu ainda o professor universitário, garantindo que “eles sabem muito bem analisar com acutilância o que se passa nas escolas”.
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