Os dois irmãos dedicaram muito do seu tempo a tentar "compreender" os adeptos desta prática, tendo sido durante este período que concluíram que existia uma grande procura em França. Não é igual inédito, no entanto. Outras cidades já se haviam adiantado neste campo, ao abrir este tipo de restaurantes, como se verificou em Londres, Melbourne ou Tóquio.
Porém, Stéphane Saada explica que, embora se costume associar o nudismo às férias, "ninguém é nudista somente durante o verão". E que esta é uma experiência confortável e onde é garantido que ninguém sai dela exposto.
Saltos permitidos
Nesse estabelecimento, inaugurado no início do mês, o cliente deixa a roupa — e smartphone —, num guarda-roupa e fica apenas com os ténis facultados pela casa, exceto as mulheres que preferirem ir de sapatos altos.
"A nossa proposta é para que se sintam confortáveis: quando entram na sala, são acompanhados até a mesa e é garantido que ninguém está observar", explica Stéphane.
Num salão de paredes azuis, as cadeiras estão forradas com um tecido preto "de uso único". E os dois gerentes servem as mesas vestidos: assim obriga a lei.
Numa das vinte mesas do restaurante, jantam vários membros da Federação Francesa de Nudismo. "Estamos em pleno centro de Paris a comer nus. É um pouco surrealista", conta o presidente, Yves Leclerc. "É como estar de férias, mas melhor".
Bom proveito, está nú!
Cinco homens são direccionados para uma mesa, entre risos, antes de ver o cardápio, com pratos a rondar os 49 euros. Um dos elementos do grupo, é Alexandre, um bombeiro de 21 anos, que considera que se trata de um lugar "sério e íntimo". E que confessa que antes de entrar no restaurante, um pedestre lhe terá desejado, "bom proveito, nu!".
"Estamos claramente entre gente decente", disse.
Outro elemento do grupo aproveita para demonstrar sentido de humor. "Ainda bem que fiz os meus exercícios de peitorais esta manhã", brinca Jimmy Denis. Este militar, de 28 anos, indicou que sentiu "um pouco de apreensão" antes da experiência.
A meras três mesas dali, Melisa e Clement, ambos na faixa dos 30 anos, disseram ser frequentadores de "campings" e praias de nudismo. E contam que vieram do norte da França.
"É diferente das férias de verão", afirma Clément. "A discrição do lugar evita atrair os curiosos, com todas as ideias pré-concebidas que têm sobre os nudistas", opina.
As reservas impertinentes
O restaurante só abre à noite e é preciso fazer reserva previamente. "As surpresas negativas vêm da internet ou quando nos fazem perguntas impertinentes pelo telefone. Em todo caso, não aceitamos (a reserva, nesses casos) ou sugerimos que procurem outro sítio", afirma Stéphane.
"Não é por existir nudismo que há sexualidade", acrescenta Mike, sócio e irmão gémeo de Stéphane.
No entanto, alguns vizinhos demonstram algum incómodo ao passar em frente do estabelecimento, que fica ao lado de uma creche. "Não tenho nada contra o nudismo na praia. Mas não vejo onde está a piada em comer nua com outras pessoas", diz Donatella Charter, de 42 anos.
Durante mês e meio, naquele que é o maior parque público da capital francesa, o Bois de Vincennes, os adeptos da prática tiveram à sua disposição um espaço de 7300 metros quadrados.
Agência AFP/ Marie GIFFARD
Comentários