As minas de Jales foram as últimas de onde se extraiu ouro em Portugal e fecharam em outubro de 1992.
Jorge Mendes, 60 anos, espreita todos os dias para o guincho do poço de Santa Bárbara, o único cavalete que se preserva da antiga concessão mineira e que se situa em frente à sua casa, em Campo de Jales.
O antigo mineiro abriu as portas de casa e da memória à agência Lusa. Memórias partilhadas ao longo de uma vida com Celina Teixeira, a mulher com quem casou há 41 anos.
Jorge foi contando como era trabalhar nas minas e viver nesta aldeia grande, cheia de gente, de negócios e de movimento, e que se foi esvaziando após o encerramento, em outubro de 1992.
Filho de mineiro, Jorge Mendes disse que fez “toda a escola mineira”, que trabalhou a mais de 620 metros de profundidade e que se tornou no “grande capataz geral da mina”.
“Esta mina tem 110 quilómetros de escavação e quase que não houve lugar onde eu não passasse”, afirmou.
Era, recordou, um “trabalho muito difícil”. “O céu era de pedra e a qualquer momento podia desabar, tinha que se ter muita atenção, muito cuidado, tínhamos que andar com olho vivo e pé ligeiro”, salientou.
Aqui, acrescentou, “os mineiros trabalhavam nas minas de ouro e só usavam ouro quando se casavam e era do mais fraco”.
Jorge Mendes referiu que chegaram a trabalhar “entre 500 a 600” pessoas por dia nestas minas, muitas vindas de fora.
Lamentou que a “burocracia e a má gestão” tenham ditado o fim da exploração, embora acredite que o “verdadeiro jazigo de ouro de Jales” nunca tenha sido descoberto.
“Foi uma pena porque não desenvolveram esta mina. Única e simplesmente tinha dois metros de largura por 2,20 de altura, era um buraquinho onde só se podia trabalhar à pá e ao pico, mais nada, não havia uma máquina que pudesse trabalhar ali”, referiu.
Luís Delgado, 62 anos, saiu das minas antes do encerramento, mas numa altura em que já se falava que as coisas não iam bem.
Foi serralheiro mecânico durante 10 anos e de vez em quando descia às galerias para compor as máquinas.
“Esta era uma zona com muito movimento. Eram muitos os que trabalhavam aqui, mais os seus familiares. Na altura parecia uma vila”, afirmou à Lusa.
Os antigos mineiros e todos os homens e mulheres que trabalharam para as minas de Jales vão ser homenageados no dia 23, numa iniciativa que decorre nesta aldeia do distrito de Vila Real.
Em Campo de Jales, conservam-se as recordações das minas e há também ainda muitos vestígios da antiga concessão.
Para além do cavalete de Santa Bárbara, com dois elevadores e por onde os trabalhadores e o equipamento desciam às galerias, ficou ainda o edifício, mesmo ao lado, onde estava instalado o motor que fazia funcionar os elevadores.
A poucos metros encontra-se o Bairro dos Mineiros, onde viviam os capatazes e chefes da mina, depois havia um supermercado, o refeitório, os escritórios, os laboratórios ou as lavarias. A maior parte dos edifícios estão abandonados, outros foram transformados em casas de habitação.
Depois de a mina fechar foi o desemprego, seguido do despovoamento, o abandono dos edifícios e os problemas ambientais, com as escombreiras deixadas a céu aberto.
Em 2005, as escombreiras foram requalificadas, num projeto considerado pioneiro no país.
Recentemente foi concessionada a exploração e prospeção de ouro em Jales/Gralheira, realizaram-se sondagens nesta zona mas, em 2016, o Governo extinguiu a concessão porque o consórcio falhou todos os prazos.
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