A agência Lusa visitou em março o jardim, situado no Largo dos Jerónimos, e deparou-se com um cenário de abandono em que os lagos existentes ou estão sujos com águas verdes e paradas ou não têm sequer água, enquanto a vegetação selvagem cresce livremente e os edifícios, do século XVII-XVIII, estão na sua maioria ao abandono.

José Sousa Dias, diretor dos Museus da Universidade de Lisboa, entidade responsável pelo jardim, em resposta escrita à Lusa reconheceu a necessidade de um “programa de intervenções urgentes, de recuperação de infraestruturas e reabilitação de equipamentos”.

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“As estruturas de manutenção do Jardim Botânico Tropical (JBT) são muito deficientes e a situação atual do estado dos equipamentos é muito crítica, depois de um período prolongado de falta de investimento, que começou vários anos ainda antes da extinção do antigo Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT) por fusão na Universidade de Lisboa”, reconheceu o responsável.

De acordo com o diretor, um dos grandes desafios é levar a cabo “um programa de reabilitação mais profunda do jardim de forma a preservar o património vegetal, cultural e edificado, além do caráter histórico e científico” do espaço, embora reconheça que é “necessário colocar de pé uma estrutura que assegure a manutenção corrente”.

A Lusa explorou o jardim e logo à entrada deparou-se com um lago, cujas águas turvas mal deixam ver os nenúfares, e a vegetação selvagem nas suas ‘margens’ esconde aquilo que um leigo poderá chamar de palmeiras pequenas, mas são na realidade Cycas, Dioon e Encephalartos, espécies da Era Mesozóica, que se encontram ameaçadas de extinção e estão protegidas por convenções internacionais.

O jardim foi palco da Exposição do Mundo Português em 1940, que deu origem a várias infraestruturas ainda hoje existentes mas a precisar de obras, como a Casa Colonial onde funciona a direção, o antigo Restaurante Colonial - que José Sousa Dias indicou estar a pensar concessionar a privados - ou a Casa do Jardineiro destinada a atividades educativas e culturais.

A estufa principal, onde se encontravam espécies dos cinco continentes e onde funcionou o Centro de Estudos Tecnologia Florestal, também se encontra em avançado estado de degradação: a estrutura está a cair e os vidros encontram-se partidos estando, por isso, fechada ao público.

As duas estufas laterais, mais pequenas, uma de chá e outra de café, foram recuperadas graças ao mecenas Rui Nabeiro.

Também o Jardim Oriental já viveu melhores dias expondo à entrada um arco que é uma réplica do Pagode da Barra, o mais antigo de Macau, construída por ocasião da Exposição do Mundo Português.

O espaço, que tem como modelo os jardins orientais, tem agora desníveis que não estão tratados, pontes de madeira a necessitar de manutenção e cursos de água secos, salvando-se as diferentes espécies de bambu, palmeiras, fruteiras e chazeiros que conseguem ainda transmitir alguma beleza.

Segundo José Sousa Dias, a recuperação dos lagos faz parte das “prioridades e medidas urgentes”, bem como o reforço da equipa de jardinagem permanente, mantendo alguns serviços exteriores complementares.

O responsável reconhece que esses serviços não se realizaram em 2016 porque “as três empresas que ficaram melhor posicionadas no concurso público acabaram todas por desistir”.

Considerado como tendo “a flora dos trópicos” num espaço único, o jardim foi criado em 1906 para formar especialistas e técnicos em agricultura colonial, tendo sido transferido em 1912 para Belém, local onde se encontra até hoje.

Em 2007 foi classificado como Monumento Nacional e desde 2015 integra a Universidade de Lisboa, sendo atualmente gerido em conjunto com o Museu de História Natural e da Ciência e o Jardim Botânico de Lisboa.

No ano passado, o JBT teve cerca de 112.000 visitantes, um número que tem aumentado nos últimos anos, tendo passado de 68.241 em 2014, para 88.143 em 2015 e 111.917 em 2016.

Apesar de o dinheiro da bilheteira (dois euros por bilhete) ser uma mais-valia, José Sousa Dias lembra que o Orçamento de Estado ainda tem de cobrir cerca de “20% das despesas de funcionamento, assim como todos os custos com recursos humanos e com o investimento na recuperação das infraestruturas”.

Durante a visita, a Lusa encontrou um casal de turistas britânico que estava “encantado com as árvores e ambiente bucólico”, mas reconheceu que a falta de manutenção era visível.

“Pagámos bilhete e só não ficámos mais chateados porque não foi muito caro. Mas o jardim precisa de muita atenção”, avançou antes de se despedir com um “save our gardens”.

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