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MUDANÇA METABÓLICA: O TRUQUE QUE FALTAVA PARA A PERDA DE PESO
Uma das coisas surpreendentes sobre o corpo é que ele se está constantemente a regenerar. De facto, de sete em sete anos, o corpo é totalmente novo. As células velhas morrem e formam-se novas, cada parte do corpo replica-se a um ritmo diferente. Por exemplo, as células da pele substituem-se a cada duas a quatro semanas. As células que revestem o estômago substituem-se a cada cinco dias, enquanto as células do fígado demoram entre cento e cinquenta a quinhentos dias a substituir-se completamente.
Eis um senão: as células doentes vão reproduzir mais células doentes. Quando uma célula fica doente, ela continuará a replicar células doentes. É sua responsabilidade a forma como o corpo responde às suas atividades diárias. Os fatores de stresse físico, emocional e químico determinarão se as células se mantêm num estado saudável e vibrante ou se passam para um estado mais doente e fatigado. Estas mudanças na saúde celular podem acelerar o envelhecimento, contribuir para a lista crescente de sintomas e privar a vida de alegria. Mas é possível inverter a situação.
Se quiser sair destes estados de doença, tem de começar a produzir células saudáveis novamente. A forma mais eficaz de o fazer é utilizar o jejum como uma ferramenta para a mudança metabólica – a sua fonte celular da juventude.
A mudança metabólica é a passagem da utilização da glicose para a utilização de cetonas derivadas de ácidos gordos como energia. O ato de entrar e sair de duas fontes de combustível provoca uma resposta de cura. Atualmente, temos muitos exemplos populares de mudança metabólica: mergulhos no gelo, rituais de respiração hipóxica e o jejum. Em todos estes cenários, está a levar o seu corpo a um limite em que as células são forçadas a reparar-se. Por mais extremo que isto pareça, o corpo foi primordialmente concebido para a mudança metabólica.
Se examinarmos a vida quotidiana dos nossos antepassados caçadores-recoletores, encontramos provas de que prosperaram apesar de terem passado por períodos em que a comida era escassa. Porque é que os nossos corpos foram capazes de prosperar em condições alimentares difíceis? Vejamos um cenário clássico pelo qual os nossos antepassados passaram. Quando acordavam de manhã, não tinham um frigorífico cheio de comida, pelo que tinham de ir à caça para se sustentarem. Precisavam de combustível para procurar e caçar. Mas lembre-se: eles não comiam desde o dia anterior, por isso os corpos tinham entrado num estado de jejum, no qual produziam cetonas que lhes forneciam os recursos necessários para funcionarem e a clareza e concentração para encontrarem a comida de que precisavam para sobreviver. Estas cetonas energizaram e repararam o funcionamento interno das células para que conseguissem encontrar comida. Quando a encontravam, juntavam-se à volta da fogueira e banqueteavam-se, provavelmente com carne e plantas, estimulando um processo de crescimento celular chamado mTOR, que permitia que os cérebros e músculos se fortalecessem. No dia seguinte, este ciclo de fome-banquete recomeçava. Semana após semana, mês após mês, os nossos antepassados exemplificaram como a mudança metabólica aumentava as suas hipóteses de sobrevivência.
No mundo moderno de hoje, não nos são dadas muitas oportunidades de alternar o metabolismo. Temos acesso a alimentos vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Desde o momento em que acordamos até ao momento em que nos deitamos, temos comida à nossa disposição. Nem sequer precisamos de sair do sofá para que a comida apareça. Assistimos à nossa série favorita da Netflix, decidimos que temos fome, pegamos no telemóvel e usamos uma aplicação como a DoorDash para encomendar comida. No espaço de uma hora, a comida aparece à nossa porta. Embora estas conveniências modernas pareçam luxuosas, estão a deixar-nos metabolicamente doentes. Está na altura de imitarmos os nossos antepassados primitivos.
Vamos analisar mais de perto todas as áreas específicas em que a mudança metabólica nos beneficia. A mudança metabólica diária repara o corpo. Por exemplo, o seu fígado adora quando muda de metabolismo porque, quando entra em períodos de jejum, força as células do fígado a libertarem o açúcar armazenado, permitindo-lhe curar e reparar-se.
Se acompanhar esse jejum com alimentos que apoiam a saúde do fígado, como os vegetais amargos, como o dente-de-leão ou o radicchio, estará a colocar este órgão vital em estados de cura e de cura metabólica. O intestino também beneficia quando se muda metabolicamente. Quando entramos em estados de jejum mais longos, como vinte e quatro horas ou mais, reparamos o revestimento da mucosa do intestino, tornando-o um ambiente melhor para o crescimento de micróbios bons – micróbios que nos ajudarão a metabolizar os alimentos e as hormonas. Se o seu intestino fosse um jardim, o jejum seria a ferramenta que usaria para lavrar o solo e arrancar as ervas daninhas, para que o solo se torne suficientemente fértil para fazer crescer belas flores. Os alimentos prebióticos e probióticos são as flores que quer plantar no seu jardim. É preciso lavrar e plantar para que o jardim floresça.
O cérebro também prospera quando se entra e sai dos dois estados metabólicos. Os neurónios – os biliões de mensageiros dos milhões de bits de informação que se movem pelo cérebro a cada segundo – são danificados por toxinas e excesso de açúcar. Quando jejua, começa a reparar estes neurónios, permitindo que a informação seja transportada de forma eficiente de um neurónio para o outro. Estes neurónios também têm necessidades nutricionais: uma dieta rica em vitaminas, minerais, proteínas e ácidos gordos irá fornecer-lhes o combustível de que necessitam para se manter concentrada e mentalmente lúcida. O jejum limpa estes neurónios, enquanto a alimentação nutritiva os fortalece novamente. Ambos os estados metabólicos são necessários para que os biliões de neurónios do cérebro funcionem no seu melhor.
Porque é que a comutação metabólica funciona tão bem na reparação e cura do corpo? Existem quatro efeitos curativos principais que ela utiliza:
- Alternar entre autofagia e mTOR
- Criar stresse hormonal
- Curar as mitocôndrias
- Regenerar os neurónios do cérebro
Alternar entre autofagia e crescimento celular
Quando se muda metabolicamente, alterna-se entre dois processos de cura celular: autofagia e mTOR. Estes dois processos são como a noite e o dia. Não se pode estar nos dois estados ao mesmo tempo. Falámos de autofagia no capítulo anterior. No lado oposto da autofagia vive um processo celular chamado mTOR. Esta é a nossa via de crescimento celular. Quando a estimulamos, podemos fazer crescer células que contribuem para a produção de hormonas, desenvolver os esqueléticos e até fazer crescer novamente células beta produtoras de insulina no pâncreas. No entanto, existe um lado negro da mTOR. Se estiver constantemente a estimular a mTOR comendo o dia todo, está a colocar as células num estado de crescimento com demasiada frequência. Cada célula do corpo tem um tempo de vida. Quanto mais estimular o crescimento, menor será o tempo de vida dessa célula. Demasiada estimulação da mTOR envelhece as células rapidamente, no entanto, um pouco é benéfico.
Um conceito muito debatido sobre o jejum é o facto de este poder diminuir a massa muscular. É aqui que a comutação metabólica realmente se destaca. Quando se jejua demasiado, estimulando constantemente a autofagia, podemos causar alguma degradação do músculo esquelético ao utilizar a glicose armazenada nos músculos como combustível enquanto se está em estado de jejum. Quando voltamos a comer, a glicose é novamente adicionada aos músculos, dando-lhes o combustível necessário para voltarem a ficar fortes.
Quando se come durante todo o dia, sem deixar tempo suficiente para estar num estado de jejum, colocamos as células num estado de crescimento constante, acelerando o envelhecimento. Mas entrar e sair dos estados de jejum e de alimentação permitir-lhe-á obter os benefícios de ambas as vias de cura. O jejum durante uma parte do dia irá limpar as células e, em seguida, uma boa alimentação saudável irá fornecer os nutrientes necessários para ajudar as células a crescerem fortes. Muitas mulheres descobrem que a mudança metabólica as ajuda a perder peso e a ganhar músculo ao mesmo tempo. Se fizer essa mudança de acordo com o ciclo menstrual, estará não só a perder peso, mas também a construir músculo e a apoiar uma boa produção hormonal.
Criar stresse hormonal
A segunda razão pela qual a mudança metabólica funciona é porque cria stresse hormonal no corpo. O stresse hormético é um stresse de baixa dose que encoraja o corpo a adaptar-se, forçando as células a tornarem-se mais saudáveis e mais eficientes.
Pode já ter experienciado um stresse hormonal durante um treino. Quando faz um novo exercício pela primeira vez, é stressante para o corpo. Por exemplo, o levantamento de pesos. A cada novo aumento de peso, o músculo é levado ao limite, obrigando-o a ficar mais forte. Se se mantiver no mesmo nível de peso, deixará de ser stressante para o seu corpo e a melhoria da força termina. A maioria dos treinadores pessoais sabe isto e continua a variar o treino para levar o corpo a novos níveis de adaptação. O stresse hormonal também acontece com o jejum. Quando se passa de seis refeições por dia para o jejum intermitente, o corpo é forçado a entrar num estado de cura. No meu Jejum de 30 Dias Reset, vou mostrar-lhe exatamente como dar o primeiro passo hormonal no seu estilo de vida em jejum. Muitas vezes, quando as mulheres passam de comer o dia todo para comer apenas duas refeições por dia, notam resultados positivos como a perda de peso, melhoria do sono e maior clareza mental. Esta dinâmica pode ser sedutora, fazendo com que se sintam confortáveis com o novo estilo de vida em jejum. Mas eis o desafio: quanto mais alguém se mantém neste horário, mais o stresse hormonal se dissipa e, consequentemente, menos benefícios daí resultam. Para obter novamente as vantagens do stresse hormético, a duração dos jejuns tem de ser variada. Entrar e sair de diferentes durações de jejuns cria um stresse hormonal contínuo nas células, encorajando-as amavelmente a tornarem-se metabolicamente mais fortes.
Curar as mitocôndrias
A mudança metabólica é mágica para as mitocôndrias. Muitas vezes referidas como as centrais elétricas das células, as mitocôndrias desempenham duas funções-chave: fornecem-lhe energia e desintoxicam as células. Recebem a glicose e os nutrientes dos alimentos que ingerimos e transformam-nos em adenosina-trifosfato, ou ATP, o nome bioquímico da energia. Todas as funções do corpo precisam de ATP para funcionar corretamente. Sem um excedente adequado de ATP, sentir-se-á esgotada, consumida, exausta e com problemas de saúde.
Algumas das partes do corpo que mais trabalham têm as maiores quantidades de mitocôndrias: o coração, o fígado, o cérebro, os olhos e os músculos. Pode haver várias indicações de que as suas mitocôndrias estão com dificuldades. Pode notar menos força muscular nos treinos, pode sentir-se frequentemente sonolenta ou cronicamente fatigada, o seu cérebro pode estar enevoado e ter dificuldade em concentrar-se, ou pode ter dificuldade em ficar sem comer.
Temos constatado que as mitocôndrias são indicadores da nossa saúde. Durante anos, as doenças crónicas foram atribuídas a uma genética infeliz. Descobertas recentes de investigadores como Thomas Seyfried, autor de Cancer as a Metabolic Disease, desafiaram esta teoria, afirmando que não é a nossa genética que causa a doença, mas antes o mau funcionamento das mitocôndrias. Partindo do notável trabalho de Otto Warburg, vencedor do Prémio Nobel pela sua investigação sobre as alterações ácidas que ocorrem nas células cancerígenas, o Dr. Seyfried revelou que a doença começa nas mitocôndrias. Quando as mitocôndrias funcionam mal, a doença pode surgir no interior da célula. A investigação do Dr. Seyfried abriu a porta a outros estudos, analisando as alterações mitocondriais que ocorrem numa grande variedade de doenças crónicas.
A mudança metabólica tem um impacto positivo nestas mitocôndrias, que utilizam tanto a glicose como as cetonas como combustível. Quando comemos, estas pequenas máquinas milagrosas absorvem a glicose que entra nas nossas células e transformam-na em energia. Quando jejuamos, produzimos cetonas, que também são absorvidas pelas mitocôndrias para serem utilizadas como energia. Quando as mitocôndrias estão doentes, tornam-se menos eficientes na utilização da glicose, deixando-a frequentemente cansada após uma refeição. A mudança periódica para diferentes estados de jejum cria cetonas que irão reparar as mitocôndrias e torná-las mais capazes de utilizar a glicose em seu benefício.
A desintoxicação é o segundo trabalho crítico que a mitocôndria realiza para si. Fá-lo de duas formas: produz glutationa e controla a metilação. A glutationa é o nosso principal antioxidante, responsável pela redução do stresse oxidativo, diminuição da inflamação celular, melhoria da sensibilidade à insulina e regeneração da pele, ajudando em condições como a psoríase e doenças como Parkinson e tendo um efeito global positivo na saúde cardiovascular. A metilação é um processo celular complexo que pode ser simplesmente explicado como a via pela qual as células expulsam as toxinas. Quando as mitocôndrias estão saudáveis, ativam a metilação e expulsam rapidamente as toxinas das células. Quando estão danificadas, o nível de glutationa é baixo, a metilação não é feita corretamente e, por conseguinte, as toxinas ficam retidas no interior, o que provoca inflamação, danifica partes das células e, em alguns casos, permite que os genes da doença sejam ativados.
À medida que se aprende a mudar metabolicamente, começa-se a curar estas mitocôndrias e a restaurar a saúde celular.
Regenerar os neurónios do cérebro
Cada pensamento, memória ou emoção que tem viaja através dos biliões de neurónios do seu cérebro. Se estes neurónios degenerarem, verá alterações na cognição mental, pura e simplesmente. Isto pode acontecer quando está a meio de uma conversa e se esquece do que estava a dizer ou entra numa divisão da casa e não se lembra porque o fez. A degeneração dos neurónios também pode dar a sensação de que temos dificuldade em reter novas informações quando estas nos são apresentadas. Os neurónios são afetados por uma dieta pobre, por toxinas como os metais pesados e pela própria falta de uso. O exemplo mais notório do que pode resultar da neurodegeneração é a doença de Alzheimer.
Quando nos colocamos num estado de jejum, não só reparamos estes neurónios que funcionam mal, como também encorajamos o crescimento de novos. Quando se comem alimentos ricos em gorduras boas, aminoácidos, vitaminas e minerais, fortalecemos esses neurónios para que funcionem no seu melhor. É a alternância metabólica entre os estados de jejum e alimentação que repara da melhor forma os neurónios do cérebro. Muitas mulheres notam que quanto mais tempo praticam a arte da mudança metabólica, mais vibrantes se sentem. Já ouvi inúmeras vezes mulheres em jejum na casa dos cinquenta anos dizerem que têm mais energia e clareza mental do que tinham na casa dos trinta.
Ano após ano, notará que o corpo fica mais saudável, porque está a tirar partido dos quatro princípios de cura que a comutação metabólica proporciona. Agora que compreende os mecanismos de cura subjacentes que ocorrem quando se entra e sai dos dois sistemas de energia, vejamos em que condições específicas a comutação metabólica funciona melhor. Embora o seu corpo prospere sempre com este tipo de comutação, há sete alturas muito específicas em que a entrada e saída destes dois estados metabólicos curativos será a cura milagrosa que tem procurado:
- Abrandar o relógio do envelhecimento
- Proporcionar uma perda de peso duradoura
- Potenciar a memória
- Equilibrar o intestino
- Evitar o cancro
- Mobilizar toxinas
- Aliviar as doenças autoimunes
Fazer o relógio andar para trás (ou, pelo menos, atrasar o relógio do envelhecimento)
Embora o envelhecimento seja inevitável, a velocidade a que se envelhece não o é. O truque para abrandar o processo de envelhecimento é garantir que damos às células todos os recursos necessários para continuarem a trabalhar no seu melhor. Lembre-se: as células saudáveis replicar-se-ão em mais células saudáveis. O objetivo do jogo do envelhecimento é manter as células saudáveis. Acontece que proporcionar às células o bom e velho stresse hormonal mantém-nas fortes. Mergulhar rotineiramente em estados de jejum mais longos proporciona a quantidade certa de stresse para as forçar a adaptarem-se.
Mais uma vez, a investigação sobre o stresse hormonal, o jejum e o antienvelhecimento é convincente. Uma forma de jejum chamada Jejum de Dias Alternados aumenta a expressão de um gene antienvelhecimento conhecido como SIRT1. Quando ativado, este gene é um regulador-chave de muitas defesas celulares que permitem a sobrevivência em resposta ao stresse. Este gene também protege contra processos de doença que se podem formar no interior das células. Foi relatado que apenas três semanas de jejum em dias alternados podem aumentar significativamente a expressão deste gene, abrandando o processo de envelhecimento do seu corpo. Muito porreiro, não é?
Proporcionar uma perda de peso duradoura
Todas as dietas que fizer continuarão a falhar se não lhe derem a oportunidade de entrar e sair dos seus dois estados metabólicos: queima de açúcar e queima de gordura. Mudar o interruptor metabólico para o modo de queima de gordura é a forma mais eficiente de fazer com que o corpo vá atrás do excesso de glicose que guardou para um dia chuvoso. O jejum é esse dia de chuva. Temos de ativar esse interruptor metabólico para obtermos resultados duradouros de perda de peso. De facto, existem cada vez mais evidências científicas de que a capacidade dos indivíduos obesos de mudar para o modo de queima de gordura é deficitária, mas, assim que restauram a flexibilidade metabólica, podem começar a perder peso.
Quando comemos, os níveis de glicose no sangue aumentam, as células queimam a energia dos alimentos que acabou de ingerir. Quando jejua, inverte o interruptor metabólico e começa a produzir energia a partir da queima de gordura. A falha das dietas da moda reside no facto de funcionarem apenas com o sistema de queima de açúcar. Se alterarmos o que comemos, mas não o tempo de ingestão dos alimentos, deixamos de fora o sistema energético de queima de gordura.
Quando se procura uma perda de peso duradoura, é importante perceber que precisamos de treinar o corpo para encontrar o açúcar extra que está armazenado no mesmo. Como leu anteriormente, o corpo gosta de armazenar o açúcar extra em três locais principais: gordura, fígado e músculos. Se tem comido mal durante anos, é muito provável que tenha acumulado muito açúcar nesses locais. Quando faz exercício, força a libertação do açúcar armazenado nos músculos. Mas como é que se chega ao açúcar armazenado na gordura e no fígado? Através do jejum. Quanto mais tempo permanecer num estado de jejum, mais o corpo acede a este açúcar armazenado. Se terminar o jantar às seis da tarde e não comer até às onze da manhã do dia seguinte, terá dado ao seu corpo dezassete horas para ir atrás de todo esse açúcar armazenado. Assim que comer, volta ao sistema de queima de açúcar. Quanto mais vezes passar para o estado de jejum, mais forçará o corpo a libertar o excesso de açúcar.
Potenciar a memória
Cinquenta por cento do cérebro funciona com glicose, enquanto os outros 50% são alimentados por cetonas. Se nunca jejuou o tempo suficiente para produzir cetonas, está a privar o cérebro de metade da fonte de combustível de que necessita.
Lembra-se de como o corpo produz cetonas quando jejua? Quando o cérebro deteta a presença de cetonas, aumenta um poderoso neuro- químico chamado fator neurotrófico derivado do cérebro, ou BDNF. Este neuroquímico é como o Miracle-Gro* para o cérebro. O BDNF estimula a produção de novos neurónios, dando ao seu cérebro mais recursos para manter a informação. O aumento de cetonas também estimula a produção de GABA, um neurotransmissor calmante. Quando estes dois neuroquímicos estão presentes, o cérebro encontra- -se no estado ideal para a aprendizagem. Quando o cérebro está calmo, concentrado e equipado com novos neurónios, retém a informação de uma forma que talvez nunca tenha experienciado antes.
Muitos jejuadores sentem-se tão produtivos no estado de jejum que querem ficar assim o dia todo, mas por mais feliz que pareça ter uma onda de cetonas a melhorar a cognição mental, o cérebro é alimentado 50% por cetonas e 50% por glicose. Portanto, por mais que gostemos de cetonas, acabaremos por precisar de voltar ao sistema de queima de açúcar para abastecer o cérebro. É o movimento de entrada e saída de ambos os sistemas de energia que fornece ao cérebro todo o combustível de que precisa para ter o seu melhor desempenho.
Equilibrar o intestino
O jejum cura o intestino. A investigação prova-o. Mas muitas das mudanças positivas que ocorrem no microbioma intestinal param quando se come. Isto significa que as alterações no microbioma são apenas temporárias? De forma alguma! Quando quebra o jejum com alimentos que nutrem o microbioma, continuará a curar o intestino. (O Capítulo 9, «Como Quebrar o Jejum», foi inteiramente dedicado ao ensino de como o deverá fazer.)
Há um termo que é frequentemente usado quando se fala do microbioma intestinal: é o chamado terreno intestinal. Refere-se ao ambiente em que as bactérias intestinais boas podem crescer. Pode alterar o terreno do microbioma intestinal com o jejum. Isto permite que o revestimento da mucosa do intestino digira os alimentos de forma mais eficiente e produza neurotransmissores-chave, como a serotonina, que a mantêm feliz. O crescimento dessas bactérias boas continuará quando comer, se as alimentar com alimentos ricos em polifenóis, probióticos e prebióticos. Os alimentos vão nutrir essas bactérias para que possam produzir neurotransmissores, apoiar um sistema imunitário saudável e fornecer-lhe as vitaminas e minerais necessários. A alternância metabólica entre os estados de jejum e de alimentação irá criar o maior impacto no microbioma intestinal. A minha experiência clínica ensinou-me que esta é a forma mais eficaz de curar qualquer problema intestinal que se possa enfrentar.
Evitar o cancro
As mitocôndrias precisam de cetonas para se curarem. Não pode ficar num estado constante de queima de açúcar para curar as mitocôndrias. Sim, existem alimentos que nutrem as mitocôndrias. Devido ao conteúdo único de nutrientes, entre os alimentos mais poderosos que podem ter um impacto positivo nas mitocôndrias estão as carnes de órgãos. Uma dieta rica em vegetais de uma grande variedade de cores também fornece às mitocôndrias os nutrientes de que necessitam para se fortalecerem. Mas as cetonas são as que melhor curam as mitocôndrias. A mudança metabólica permite-lhe curar as mitocôndrias com nutrientes e cetonas.
A Dra. Nasha Winters, autora de The Metabolic Approach to Cancer, descreve um dos primeiros sinais de que as células se estão a tornar metabolicamente inflexíveis, como quando fica com «fome», especialmente se passaram apenas algumas horas desde a última vez que comeu. Este é um sinal revelador de que as células não estão a fazer a mudança para a queima de gordura. As mitocôndrias saudáveis adaptam-se facilmente ao declínio dos níveis de glicose enquanto aguardam o pico de cetonas. Esta mudança metabólica será fácil, permitindo-lhe passar mais tempo sem comer quando o fígado demora a fornecer cetonas. As mitocôndrias não saudáveis, por outro lado, irão debater-se enquanto esperam por essa mudança. Sabendo que o cancro começa com mitocôndrias disfuncionais, isto torna a mudança metabólica uma arte que todas as mulheres que tiveram cancro ou que não querem ter cancro devem aprender. Lembra-se do estudo que provou que as mulheres que jejuavam treze horas por dia após o tratamento convencional do cancro da mama tinham menos 64% de hipóteses de reincidência do cancro? Este resultado aconteceu muito provavelmente porque a janela de jejum de treze horas lhes permitiu reparar as mitocôndrias disfuncionais que iniciaram o cancro. Não há dúvida de que, se combinassem esse jejum de treze horas com uma boa alimentação nutritiva, a probabilidade de reincidência diminuiria ainda mais.
Mobilizar toxinas
O jejum pode mover as toxinas para fora das células para serem expelidas. Esta libertação de toxinas acontece mais frequentemente quando se entra e sai de jejuns superiores a dezassete horas. Lembre-se de que dezassete horas de jejum ativam a autofagia. Este gatilho é como ligar o médico dentro de cada célula. Esse médico celular decidirá se pode limpar a célula ou se ela tem de morrer. Quando as células são consideradas demasiado danificadas e ocorre a morte celular, as toxinas dentro das células entram na corrente sanguínea para serem expelidas. É nesta altura que todos os órgãos de desintoxicação entram em ação para garantir que essas toxinas saem do sistema. No mundo do jejum, referimo-nos frequentemente a estes órgãos como as vias de desintoxicação: o fígado, a vesícula biliar, o intestino, os rins e o sistema linfático.
Quanto mais se muda metabolicamente usando jejuns prolongados, mais se percebe que as vias de desintoxicação podem estar congestionadas. Referimo-nos a estas vias como vias fechadas; os sintomas de vias fechadas incluem:
- Erupções cutâneas
- Nevoeiro cerebral
- Sensação de inchaço
- Diarreia
- Prisão de ventre
- Pouca energia
Se sentir algum destes sintomas, a primeira coisa que quero que perceba é que é comum. Já vi jejuadores que pensam que o jejum não está a funcionar para eles quando estes sintomas aparecem. Nada está mais longe da verdade! Está verdadeiramente a funcionar. Só precisam de trabalhar para abrir essas vias para que o corpo possa remover as toxinas sem esforço, sem que se dê por isso. (No Capítulo 10, «Truques para Um Jejum sem Esforço», vou mostrar-lhe protocolos específicos que funcionam melhor para abrir as vias de desintoxicação.)
Aliviar as doenças autoimunes
As doenças autoimunes ocorrem por três razões muito específicas: um intestino danificado, uma sobrecarga de toxinas e uma predisposição genética. A mudança metabólica pode ajudar muito em todos os três. Foi dito que mais de 70% do sistema imunitário está no intestino. Por isso, em qualquer condição autoimune, temos de reparar o intestino. Esperamos que agora esteja a perceber que a mudança metabólica é uma das formas mais eficazes de reparar o intestino. Curar as mitocôndrias também melhorará muito uma con- dição autoimune. Lembre-se: as mitocôndrias suportam a capacidade de desintoxicação das células. Quando se curam as mitocôndrias, elas não só ativarão mais glutationa antioxidante de desintoxicação, como as células se tornarão mais proficientes em mover toxinas para fora das mesmas. Quando as mitocôndrias estão a funcionar no seu melhor e as vias de desintoxicação estão abertas, os genes podem ser desligados. Esta é a base da epigenética. O nosso estilo de vida influencia os genes que são ativados, assim como os genes que são desligados.
Há alguns anos, ajudei uma mulher de cinquenta e sete anos chamada Nancy que acumulava várias doenças autoimunes. Não só lhe tinha sido diagnosticada tiroidite de Hashimoto, como o seu corpo estava a atacar as mitocôndrias, dando-lhe níveis excessivos de anticorpos mitocondriais. (Os anticorpos são células especializadas do sistema imunitário que estão pré-programadas para atacar não só certos agentes patogénicos que entram no corpo, mas tudo o que identificam como um invasor estranho.) Nas doenças autoimunes, estes anticorpos atacam frequentemente os tecidos saudáveis. Se o seu corpo estivesse a atacar tanto a tiroide como as mitocôndrias, sentir-se-ia muito mal. Era exatamente assim que a Nancy se sentia. Com uma energia extremamente baixa, pouca clareza mental e muitos sintomas persistentes, como dores crónicas, a Nancy lutava para sobreviver no dia a dia. A sua saúde estava a deteriorar-se rapidamente. Tinha entrado e saído de vários consultórios médicos com diagnósticos errados, medicamentos extravagantes para tomar e muitos conselhos que lhe diziam que tinha de viver com isso. Recusando-se a aceitar esse plano de tratamento, a Nancy contactou-me para ver o que podia fazer para resolver o problema com as suas próprias mãos. Embora tenha demorado algum tempo a pôr a saúde da Nancy no bom caminho, a resolução do seu problema autoimune não foi tão complexa como se poderia pensar. Aplicando os princípios da cura de doenças autoimu- nes, ensinei-a a entrar e a sair de diferentes variações de alimentos e jejuns para ajudar a curar o intestino e reparar as mitocôndrias danificadas que se infiltraram no seu corpo. Ao longo de um ano, ela experimentou todos os seis jejuns de diferentes durações e vários estilos alimentares. Passámos então à desintoxicação, identificando todas as toxinas ambientais e metais pesados que possivelmente se estavam a acumular no seu corpo e a fazer com que o sistema imunitário se atacasse a si próprio. Os resultados obtidos pela Nancy foram verdadeiramente milagrosos. No espaço de um ano, os seus anticorpos mitocondriais foram reduzidos para metade e os anticorpos da tiroide desapareceram. Dois anos depois da sua jornada de cura, os anticorpos voltaram todos ao normal e os seus médicos ficaram surpreendi- dos por ela não apresentar quaisquer sinais de doenças autoimunes. A mudança metabólica combinada com a desintoxicação é mágica para estas doenças.
Quando se treina o corpo para entrar e sair dos estados de alimentação e jejum, cria-se uma resposta de cura no corpo como nenhuma outra. Esta é uma notícia fenomenal para as mulheres. Podemos perder peso, aumentar a massa muscular, equilibrar as hormonas, fortalecer o cérebro, reparar os intestinos, abrandar o envelhecimento e ultrapassar uma doença autoimune, tudo isto aplicando apenas os fundamentos da mudança metabólica às nossas vidas. Então, quando associamos essa mudança ao ciclo menstrual, cuidado! Irá descobrir um nível de saúde que talvez nunca tenha pensado ser possível.
Foi o que aconteceu a uma paciente minha chamada Carrie, que veio ter comigo a pedir ajuda para baixar o seu IMC. Aos trinta e dois anos, a sua saúde estava num impasse, debatendo-se com pro- blemas de fertilidade e resistência à perda de peso, e o ginecologista-obstetra indicou que o seu IMC era demasiado elevado, o que poderia estar a contribuir para as dificuldades em conceber um bebé. Perder algum peso poderia melhorar as suas hipóteses de engravidar. A Carrie conhecia muito bem o insucesso repetitivo das dietas de emagrecimento, por isso, quando o médico lhe disse que perder peso era a única solução para engravidar, entrou numa depressão profunda. Ela não tinha excesso de peso porque comia demais. De facto, a sua dieta era bastante boa. Não lhe faltava força de vontade ou disciplina. A Carrie seguia à risca todas as dietas que experimentava. Então, o que é que lhe faltava?
A mudança metabólica. Iniciei a Carrie num protocolo de jejuns de diferentes durações e tipos de alimentos, o qual lhe permitiu uma mudança metabólica. Mostrei-lhe como programar essa mudança de acordo com os ciclos menstruais, baseando-me nos fluxos e refluxos hormonais. Com uma clara mudança metabólica mapeada, pedi à Carrie que seguisse esta rotina durante noventa dias e que depois me voltasse a contactar. No espaço de um mês, recebi um telefonema dela. Não só perdeu cinco quilos no primeiro mês deste novo regime, como estava grávida. Este é o poder de aprender a mudar metabolicamente com o ciclo menstrual.
Agora que tem uma boa compreensão inicial da ciência por detrás do jejum e do porquê do sucesso com a mudança metabólica, estou entusiasmada por lhe mostrar como pegar nestes conceitos e os mapear para as suas necessidades hormonais. Está na altura de aprender oficialmente a jejuar enquanto mulher!
* Miracle-Gro – Um fertilizante solúvel em água, com muito sucesso junto dos consumidores domésticos. [N. da T.]
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