Livro: O Principezinho

Autor: Antoine de Saint-Exupéry

Convidado: João Marecos, advogado, escritor, consultor de startups, e consultor da OMS

Moderadora: Elisa Baltazar, anfitriã do É Desta Que Leio Isto

Data: 1 de junho de 2021

Ouça aqui a conversa sobre o livro O Principezinho:

 

O Principezinho é aquele livro que lhe dá um quentinho no coração, mas não teve oportunidade de participar no último clube de leitura? Sem problema! Oiça o áudio acima ou leia este artigo para ficar a par da conversa que tivemos com João Marecos, sobre este livro que o próprio já leu e releu várias vezes. A conversa foi moderada pela anfitriã Elisa Baltazar, uma papa-livros que lhe deixa desde já o convite para participar na próxima sessão, com data a anunciar em breve no nosso grupo de Facebook.

 

Sobre o livro O Principezinho:

  • É uma obra de Antoine de Saint-Exupéry, publicada em 1943.
  • Conta a história de um aviador que, durante uma avaria no deserto, conhece um rapaz vindo de outro planeta: o próprio Principezinho.
  • A narrativa gira em torno das histórias contadas pelo Principezinho ao aviador, que estão relacionadas com a sua viagem por vários planetas incluído o planeta Terra, a sua última paragem até então.
  • O livro critica a forma como os adultos esquecem a capacidade de surpresa e da necessidade de questionar as coisas que nos rodeiam.
  • Apesar de dotada de uma linguagem simples, a obra contém várias metáforas que podem revelar-se mais complexas, pelo que não poucas vezes é comum que os leitores se questionem se esta será mesmo uma obra para crianças.

Sobre o livro o autor Antoine de Saint-Exupéry:

  • Nasceu na cidade francesa de Lyon, em 1900. Abastado e de título nobre, era filho de condes.
  • Foi escritor, mas também ilustrador e piloto (tal como uma das personagens deste livro).
  • Para além de França, teve ainda formação na Suíça e em Marrocos.
  • Esteve presente em alguns momentos marcantes da história mundial, tendo sido responsável pela recolha de informação sobre as tropas alemãs antes da invasão do sul de França, nos anos 40.
  • Estima-se que tenha morrido em missão numa queda de avião (já que o seu corpo nunca foi encontrado), em 1944, meses depois de publicar O Principezinho.
  • Para além da presente obra, sobre a qual falamos neste artigo, lançou-se ainda a grandes “voos” com obras como A Terra dos Homens ou o Piloto de Guerra.

Livro para adultos ou livro para crianças?

  • Esta é a reflexão latente e transversal a praticamente todas aqueles que leem O Principezinho, pela sua carga simbólica. João Marecos fala na “ideia de um livro para crianças ser muito mais do que um livro para crianças”, na mesma conversa em que afirma: “se há coisa que este livro nos ensinou é que não há livros para crianças”.
  • Para o escritor este é “um livro que é para a pessoa que o lê no momento em que o está a ler”, ou seja: muda de significado conforme o período da vida em que nos predispomos a lê-lo.
  • É deste modo que, com o natural amadurecimento da idade, se encontrem resposta diferentes ao longo das várias leituras, por ser um “livro cebola” (com várias camadas) e um “livro espelho” (com o qual nos podemos identificar). No entanto, João Marecos frisa que muitas vezes os adultos também procuram “forçar” alguma significação.

 

O absurdo que é ser adulto

  • De acordo com João Marecos, a obra procura, à luz dos olhos de uma criança, evidenciar a “ridicularização dos adultos”, já que o Principezinho concluiu que “os adultos são estranhos e absurdos”.
  • “Na verdade, acaba por expor determinados comportamentos e atitudes que ali achamos bizarras, mas acabam por ser coisas bastante comuns”, acrescenta.
  • Em causa, estão várias personagens-tipo que servem para descrever o stress e o pensamento quase numérico pelo qual se caraterizam adultos, que se esquecem de olhar ao seu redor. Servirá de exemplo o “homem de negócios”, que passa o dia a fazer contas, sem tempo para falar sejam com quem for.

O melhor momento

  • O momento favorito de João Marecos no livro O Principezinho é a conversa com a personagem raposa, que explica àquela criança tudo aquilo de que precisamos de ter com alguém para que tenhamos uma relação com significado.
  • O foco aqui será “a intimidade”, que “começa com as palavras”, já que estas, muitas vezes, “são fonte de mal-entendidos”, como é descrito no livro. Para João Marecos, esta passagem deixa uma sugestão para escutar, estar atento ou dar atenção a algo.
  • É neste capítulo que a raposa explica que, apesar de chorar, acaba por ganhar algo. No sentido de que a proximidade traz uma significação específica, impar e pessoal a algo que, de outra forma, seria absolutamente banal. É deste modo que a raposa descreve que, ao conhecer o jovem, “ganha a cor do trigo”, que agora será um referente de memória em relação à cor do cabelo do Principezinho, que é dourado como o trigo.

 

Um toque Pessoano:

  • Para João Marecos, a personagem Principezinho assemelha-se de certa forma a Alberto Caeiro, um dos heterónimos de Fernando Pessoa.
  • Marecos, também ele autor de um livro que ajuda os mais novos a entender o universo pessoano (Carta ao Cavaleiro de Nada) fala, comparando o heterónimo ao Principezinho, numa certa “visão quase infantil do mundo”, “numa obsessão só com aquilo que se vê, uma certa inocência”.
  • As parecenças são ainda de cariz físico, já que Pessoa descrevia Caeiro como alguém com “olhos azuis de criança que não têm medo” e “cabelo quase abundante louro”.

 

Outros livros de que se falou nesta sessão:

  • O Homem Invisível – Ralph Ellison
  • Amateur – Thomas Page Mcbee
  • Torto Arado – Itamar Vieira Júnior
  • Poemas de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
  • Carta ao Cavaleiro de Nada – João Marecos. O convidado desta sessão do É Desta Que Leio Isto introduz o universo pessoano a crianças mais novas, antes de falarem do mesmo na escola