Meirim faz estas afirmações na obra “Uma Carta à Posteridade. Jorge de Sena e Alexandre O’Neill”, distinguida, em 2022, com o Prémio de Ensaio Imprensa Nacional/Vasco Graça Moura, e que é uma versão da sua tese de doutoramento, “Literatura e Posteridade. Jorge de Sena e Alexandre O’Neill”, que defendeu em 2014, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
A investigadora afirma, numa nota prévia, que desde a defesa da tese até esta edição “o argumento principal [não sofreu] grandes alterações”, mas teve “oportunidade de rever ideias e reescrevê-las”.
O catedrático Miguel Tamen, que orientou o doutoramento de Joana Meirim, realça, no prefácio, “o modo claro e calmo” de a investigadora expor, e refere-se ao livro como “surpreendente, porque compara dois modos quase incomensuráveis de escrever a ‘triste Carta à Posteridade’ que Fernando Pessoa imaginou ser característica de toda a literatura moderna”.
Tamen afirma que, certamente, Sena e O’Neill tinham “ideias firmes sobre como se dirigir à sua posteridade, mas também por vezes interrogar-se sobre se valeria a pena de todo fazê-lo”.
O livro de Joana Meirim não é sobre o pouco que há em comum na poesia dos dois autores, mas sim como ambos pensavam em como se dirigir à posteridade.
Jorge de Sena – afirma Tamen - preocupava-se com “o modo como teria de ser editado”, já O’Neill “tratava esses assuntos com desprendimento”.
Apesar das diferenças entre o autor de “Sinais de Fogo” e o autor de “No Reino da Dinamarca”, os dois escritores eram “adeptos de variedades do modernismo difuso que tinham herdado de Pessoa ou lido nos mesmos livros”, escreve Tamen.
“A diferença entre Sena e O’Neill não é uma diferença entre as teorias da poesia que pudessem ter, ou uma diferença entre conceções de poesia ou de arte”, atesta o catedrático.
“Jorge de Sena e Alexandre O’Neill escreveram cartas à posteridade com um tom e conteúdo diferentes, mas ambos figuram em seletas, em antologias críticas da literatura portuguesa, em manuais escolares, e por enquanto a conversa que deixaram tem sido cooptada por outros poetas”, atesta Joana Meirim.
Quando da divulgação dos vencedores do galardão, em 2022, o júri do Prémio Vasco Graça Moura, ao qual presidiu o escritor Pedro Mexia, destacou, sobre a obra de Meirim, a investigação de "um conjunto de tons e tendências em Sena e em O’Neill (o azedume e a ‘desimportantização’, as polémicas e as paródias, a veemência do gosto e o desgosto da eloquência)”.
“Joana Meirim – prosseguiu o júri - demonstra, com grande conhecimento dos textos e fluidez discursiva, o modo bem distinto como dois poetas portugueses contemporâneos se confrontaram com um tempo e um país, com a fugacidade e a imortalidade, e com a ideia de poesia”.
Joana Meirim é professora convidada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa e colaboradora do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição, da Universidade Nova de Lisboa.
Meirim editou, em 2021, um volume de entrevistas de Alexandre O’Neill, coorganizou um livro sobre o ensino da literatura e, no ano seguinte, um sobre a crítica de Jorge de Sena.
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