A partir de um convite do teatro municipal - que exibiu este filme em 1928, também com música ao vivo -, Filipe Raposo compôs uma nova banda sonora que interpretará entre os dias 15 e 17, acompanhado da Orquestra Sinfónica Portuguesa.

Clássico da história do cinema, da ficção científica e do expressionismo alemão, "Metropolis" é um filme distópico cuja ação decorre em 2027, ou seja, praticamente na atualidade, convocando temas e símbolos que se mantêm pertinentes, contou Filipe Raposo à agência Lusa.

"Ele fala sobre arquitetura, fala sobre as cidades e o futuro. Fala também sobre paixão e sedução, não só a paixão entre duas pessoas, mas também a sedução pelo poder e essa vontade de subjugar os outros através da força", enumerou o pianista.

Filipe Raposo, pianista residente da Cinemateca Portuguesa para exibição de filmes mudos, já tinha acompanhado "Metropolis" noutras ocasiões, mas o convite do teatro municipal permitiu-lhe compor uma banda sonora de raiz.

"Na minha forma de compor estão sintetizadas muitas influências e uma delas é naturalmente o cinema. O cinema trouxe para a minha música uma forma de escutar, uma forma de criar, uma forma de equilibrar harmonias também. (...) O objetivo era que alguém, cem anos depois, conseguisse trazer para o filme também uma ideia desse futuro que o filme trata. (...) Era muito importante fazer essa contemporaneidade na composição", explicou o músico.

A versão que será exibida na próxima semana em Lisboa terá cerca de duas horas, para que coincida com a que passou em 1928 no então São Luiz Cine, nome pelo qual chegou a ser conhecido o teatro inaugurado em 1894, batizado "Theatro D. Amélia", e que é hoje o Teatro Municipal São Luiz.

Isto porque "Metropolis" teve várias versões. A versão original foi apresentada em janeiro de 1927 em Berlim e depois desapareceu. Na altura era a produção alemã mais cara de sempre e durava mais de três horas.

O filme não foi bem acolhido pela crítica nem pelo público e viria a ser reduzido e simplificado, acabando por ficar com pouco mais de duas horas de duração.

Em 2001, a fundação Friedrich Wilhelm Murnau fez um restauro deste clássico da ficção científica, graças a material encontrado em várias cinematecas europeias, chegando o filme aos 147 minutos.

E em 2008, a mesma fundação revelou que tinham sido encontrados fragmentos, com a duração de 25 minutos, nos arquivos de um museu de Buenos Aires numa colecão doada por um particular.

Esse fragmentos provinham de uma cópia levada para a Argentina em 1928 por Adolfo Z. Wilson, diretor de uma distribuidora argentina.

Uma remontagem do filme com esses fragmentos foi exibida em 2010 no festival de Berlim.

A banda sonora original de "Metropolis" foi assinada por Gottfried Huppertz, e a influência artística e impacto cultural do filme revela-se também aqui. Ao longo das décadas seguintes, outros músicos e artistas compuseram músicas para a longa-metragem, de Giorgio Moroder a Jeff Mills.

"Acaba sempre por haver influências naturalmente quando escutamos outros autores, mas aqui o objetivo era mesmo que fosse uma coisa diferente do original. (...) A ideia é que fosse e trouxesse contemporaneidade dos nossos dias e a minha visão também daquilo que é o filme, daquilo que é a nossa própria existência", disse Filipe Raposo.

A par das três sessões programadas no São Luiz, Filipe Raposo apresentará, nos dias 15 e 16, um programa paralelo, vocacionado para famílias, intitulado "Um piano afinado pelo cinema", no qual abordará a relação entre a música e o cinema mudo, com exibição de excertos de filmes de, entre outros, Buster Keaton e Charles Chaplin.

"É uma espécie de introdução à história do cinema e, ao mesmo tempo, também fazer com que os jovens, ou crianças, ou famílias que não conheçam, ganhem esse gosto e sejam convocados para descobrir aquilo que é que são os primórdios do cinema e a forma como esse cinema também acabou por se projetar no futuro", disse.