“É muito importante para eles e é muito importante para nós, também para o que implicou essa luta na transformação do regime em Portugal e do fim do colonialismo e do fascismo em Portugal”, disse à agência Lusa.

Investigadora do Instituto de História Contemporânea (IHC), Sofia Lisboa desenvolve atualmente o seu doutoramento sobre “O Museu Nacional Resistência e Liberdade (Peniche) e a memória da violência política do século XX”, através de um estudo comparado entre Portugal, a África do Sul e o Chile, contando com uma bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), em parceria com a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).

Trata-se de “nações independentes”, mas “há uma quota responsabilidade do Estado português, que foi o colonizador destes povos”, disse.

A criação destes espaços de memória, afirmou, poderão ajudar a pensar o que são neste momento “as tarefas do presente relativamente à descolonização”.

“Tínhamos um sistema político e um regime fascista que se apoiava na colonização de outros povos e esse facto teve um peso muito importante para o que foi o derrube do fascismo em Portugal”, observou a investigadora em história e memória da resistência.

E defendeu: “Os portugueses não se podem esquecer e isso não tem a ver com andarmos a fazer ensaios de culpabilização para o resto da nossa vida”.

A ideia, prosseguiu, é compreender “a memória nestes territórios daquilo que foi a colonização”, mas também da “luta pela independência”.

“Não a ideia de vitimizar os povos que sofreram séculos de exploração por outros povos, mas a ideia de compreender que foram eles que tomaram nas suas mãos a sua própria libertação”, disse.

A questão do colonialismo, do império de prisões e da rede de cárceres do império está presente na exposição principal do Museu Nacional Resistência e Liberdade, que se encontra temporariamente encerrado para obras de requalificação.

Para Sofia Lisboa, o Estado português tem uma responsabilidade para com os países que pretendem preservar a memória da resistência anticolonialista e das suas lutas de libertação e por isso considera positivo o apoio a projetos como o Museu do Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha cabo-verdiana de Santiago, ou o Museu Nacional da Resistência Colonial, a instalar na Vila Algarve, que foi sede da PIDE em Maputo, Moçambique.

“O que temos é um dever de não esquecer a importância destas lutas no desfecho da discussão da nossa democracia”, indicou, acrescentando: “Um povo nunca se poderá libertar, se continuar a oprimir outros povos”, o que “não era evidente no 25 de Abril [de 1974] para todas as pessoas que, apesar de tudo, poderiam estar de acordo para uma eventual transição e mudança. Isso foi discutido no 26 de abril”.

“Temos de nos orgulhar de, para além da nossa própria libertação, compreender que não haveria nenhum tipo de solução que pudesse nos dar a nós a liberdade sem compreendermos que não poderíamos continuar a explorar outros povos”, afirmou.

Sofia Lisboa entende que esta é “uma memória que ainda é muito dolorosa no presente, por várias razões” e defende que os “portugueses têm de começar a falar destes assuntos sem qualquer tipo de constrangimento”.