Tudo começou com “Blurred Lines”, diz a publicação musical Stereogun. A canção levou Robin Thicke e Pharell Williams a ter de responder em tribunal perante a família de Marvin Gaye, que processou os dois artistas devido às semelhanças entre este êxito de 2013 e “Got To Give It Up”, de 1977. O veredicto foi penoso para os primeiros: 5,3 milhões de dólares de indemnização e um crédito de co-escrita para Gaye.

Em causa não estava só uma acusação de plágio, ou de utilização de um sample não autorizado. Thicke e Williams foram processados não por copiar abertamente “Got To Give It Up”, mas porque a sua canção tinha “semelhanças” com o tema de Gaye – no qual admitiram ter-se inspirado, mas nada mais do que isso. Perderam em tribunal, mas obtiveram, desde então, o apoio de vários colegas de profissão: Rivers Cuomo (Weezer), John Oates (Hall & Oates), R. Kelly, os Linkin Park e os Fall Out Boy são alguns dos 200 músicos que, em agosto, assinaram um amicus curiae (instituto processual dos Estados Unidos, em que terceiros são chamados a participar de uma ação com o fim de auxiliar uma tomada de decisão pelo juiz) de apoio ao recurso entretanto apresentado por Robin Thicke e Pharell.

O caso, contudo, criou ondas de choque por toda a indústria musical, potenciando inúmeros processos judiciais por acusações de plágio e levando inúmeros artistas a insurgir-se contra o que chamam um ataque à criatividade. O mais mediático terá sido o que envolveu os membros dos Led Zeppelin e os herdeiros de Randy California, dos norte-americanos Spirit, estes últimos acusando a banda britânica de ter plagiado “Tauros” na composição de uma das suas canções mais icónicas, “Stairway To Heaven” (os Led Zeppelin acabariam por ser absolvidos pelo júri). Mas não foi o único.

Os Blind Melon, por exemplo, processaram a DJ Mandy Jiroux por alegarem que esta plagiou “No Rain”, êxito seu de 1994, na criação de “Insane” - que a norte-americana diz ser apenas uma homenagem, feita com o consentimento da banda (e diz ter trocas de e-mails que o provam). Mais estranho é o caso que opõe Justin Timberlake ao Cirque Du Soleil; os segundos alegam que a estrela pop utilizou um sample não autorizado de “Steel Dream”, tema de 1997, na composição de “Don't Hold the Wall”, tema de 2013 produzido por Timbaland.

Os nomes grandes da pop têm sido, de facto, os alvos preferenciais desde tipo de processos – talvez pelo seu maior estatuto mediático. Justin Bieber, Skrillex e Diplo também foram acusados de plagiar “Ring the Bell”, tema da cantora White Hinterland (Casey Dienel), na criação de “Sorry” - em sua defesa, Skrillex partilhou na sua conta oficial do Twitter um vídeo em que mostra como a melodia da canção de Bieber foi criada. E Demi Lovato foi processada pelos Sleigh Bells, que a acusaram de samplar “Infinity Guitars” e “Riot Rhythm” na composição de “Stars”. O caso ainda está em tribunal.

Nem nomes como Ed Sheeran, Taylor Swift ou Bruno Mars escaparam à “fúria”. O músico britânico é acusado de copiar “Amazing”, canção com a qual Matt Cardle venceu o X Factor inglês em 2009, na composição de “Photograph”. Jesse Braham processou a cantora norte-americana (e perdeu) devido a “Shake It Off”, que diz copiar um tema seu, “Haters Gonna Hate”. E a voz de “Uptown Funk” foi acusada pelos Collage, uma banda dos anos 80, de copiar quase tudo em “Young Girls”: melodias, ritmo, linhas de baixo. Há outros, menos mediáticos; Ariana Grande contra Alex Greggs e Rick Ross contra os LMFAO, por exemplo.

E enquanto não se souber o resultado do apelo de Thicke e Williams, é provável que 2017 também veja mais casos destes a despontar.