Nesta peça do dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra, em que se reflete sobre o teatro, José Raposo e José Pedro Gomes são Rios e Solano, respetivamente, dois atores errantes que trabalham juntos e que mantêm a esperança de continuarem a ser criadores de sonhos.

Num palco onde o cenário é constituído por uma escada com estrutura de madeira e metal, uma árvore estilizada em metal e duas estacas metálicas, que se tornam num estendal, os diálogos dos dois atores vão deambulando sobre o teatro, sobre a carreira paralela que fizeram, ao mesmo tempo que vão discorrendo sobre a própria existência.

Cansados de se aturarem, de trabalharem um com o outro, vão também discutindo sobre o tempo de se retirarem, acabando este tema por surgir como uma parábola sobre quando deve um ator retirar-se dos palcos.

Mal entram em cena, Solano, munido da sua bicicleta, e Rios, com o seu cavalinho de madeira, percebe-se que os dois atores vão também fazer uma análise sobre a sua própria vida, acabando por mostrar que têm desejos e problemas comuns a todas as pessoas.

A iniciativa de juntar José Pedro Gomes e José Raposo partiu da Força de Produção — que também escolheu o texto da peça –, acabando por dar corpo a uma vontade expressa pelos dois atores já há alguns anos.

Encenada por Marco Medeiros, da Palco 13, um jovem de 32 anos que não receou a diferença de gerações em relação aos protagonistas, e que confessou à imprensa ver esta experiência de trabalho como um “um processo maravilhoso”.

Embora conhecesse José Raposo do meio televisivo, e de já se ter cruzado com José Pedro Gomes, sem ser no teatro, Marco Medeiros não tinha como recusar o convite da produtora.

“Era quase uma loucura dizer que não a este desafio”, que se tornou “uma experiência única”, disse.

Apesar da dificuldade do texto, cujo alvo é mais o meio artístico, Marco Medeiros não receia que não chegue ao público até porque, para isso, estão lá os dois atores, indicou.

Os atores funcionam como “piolhos”, espicaçam o público, afirmou. O título original da peça do dramaturgo espanhol é mesmo “Nãque, sobre piolhos e atores”. E este espetáculo “é, realmente, o Zé Pedro e o Zé Raposo”, sublinhou.

Satisfeitos por voltarem a contracenar, depois de o terem feito em 1991 na peça “Depois de Magritte”, numa galeria de arte no Centro Comercial Amoreiras, estão José Pedro Gomes e José Raposo.

“É um prazer enorme estarmos a trabalhar os dois. É muito bom voltarmos a encontrar-nos”, acrescentou José Pedro Gomes, sublinhando que, ao longo destes anos, se têm cruzado nos espetáculos um do outro.

Mas porque se “admiram e respeitam”, é “muito reconfortante” estarem agora a trabalhar juntos num espetáculo que é uma reflexão sobre o teatro e sobre os atores.

“A história é contada do ponto de vista dos atores, mas podemos ser todos nós”, acrescentou José Pedro Gomes, uma afirmação corroborada por José Raposo.

O texto original de “Ñaque” estreou-se em 1980, no Festival de Teatro de Sitges, onde recebeu o prémio Artur Carbonell, e inspira-se em Ñaque, uma companhia de teatro itinerante do século XVII, composta somente por dois atores.

Marco Medeiros assina também o cenário e os figurinos, a música original é de Filipe Melo, a traduição e adaptação Maria João Rocha e o desenho de luz de Luís Duarte.

A peça será representada de quinta a sábado, às 21:30, e aos domingos, às 16:30. Depois do Villaret, iniciará uma digressão por diferentes cidades portuguesas.