“É uma espécie nova que apresenta características que não se encontram noutras já categorizadas taxonomicamente, por isso, fizemos o estudo minucioso que pudemos publicar” disse Miguel Gaspar, investigador no polo de Olhão do IPMA.
A descoberta aconteceu na observação de amostras obtidas nos trabalhos de monitorização na Ria Formosa e levou três anos até que o 'Apseudopsis formosus' – nome atribuído em homenagem ao local onde foi encontrado – pudesse ser confirmado como uma nova espécie.
O crustáceo, com quase cinco centímetros, assemelha-se a um pequeno camarão e vive no substrato da Ria Formosa, tendo a sua caracterização sido baseada no estudo de 223 indivíduos, entre juvenis, machos e fêmeas que mediam entre 2,5 e 4,9 centímetros.
O biólogo disse terem sido encontrados outros espécimes que ainda não estão descritos, o que os investigadores estão a tentar fazer, procurando dar essa “contribuição para a ciência”, mas afirmou tratar-se de "um processo muito moroso, de comparação e descrição” para alcançar uma representação gráfica pormenorizada, que permita uma melhor identificação futura.
“Temos um conjunto de vários organismos, uns que suspeitamos que são novas espécies, outras que temos dúvidas, por isso estamos a trabalhar com especialistas de vários grupos para confirmar se serão novas e fazer o esforço para as descrever, porque o nosso trabalho (dos investigadores do IPMA) não é a taxonomia, mas a gestão pesqueira e ambiental,” disse Miguel Gaspar.
Segundo os investigadores, a dispersão passiva pode explicar a atual distribuição da espécie, apesar de não haver um estudo aprofundado da taxonomia (nomenclatura das classificações científicas) da área da Ria Formosa.
Miguel Gaspar reconhece que estas espécies não são muito estudadas e que muitos destes seres podem já ter sido encontrados, mas a sua identificação “não foi até à espécie”, ficou-se pelo género – neste caso, “Apseudopsis” - uma classificação “mais abrangente”.
Segundo o biólogo, seria como considerar uma cavala ('Scomber colias') e uma sarda ('Scomber scombrus') como “iguais” classificando ambas apenas como 'Scomber sp.', ilustrou.
Esta nova espécie de crustáceo não tem potencial de exploração comercial, mas exerce “um importante papel na cadeia alimentar na Ria Formosa”, sistema lagunar que é um valioso berçário para muitas espécies marinhas, defende o biólogo.
Os exemplares dos diversos organismos foram obtidos através de amostragens efetuadas na Ria Formosa - no âmbito de estudos do impacto humano no ambiente, nomeadamente, relacionados com os efeitos da poluição, pesca, aquacultura e das dragagens.
Neste último caso, as amostras foram obtidas antes e depois dos trabalhos, permitindo avaliar a velocidade da recuperação das comunidades, servindo estas espécies como indicadores do estado do ecossistema.
O artigo científico a descrever a existência do crustáceo tanaidáceo, foi publicado em novembro do ano passado na revista da especialidade “Marine Biodiversity” assinado pelos investigadores André N. Carvalho, Fábio Pereira, David Piló, Miguel B. Gaspar e Patricia Esquete.
[Artigo corrigido às 23:45 - substitui "milímetros" por "centímetros"]
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