Em 2003, Al Pacino e Colin Farrell protagonizaram um filme sobre um novo recruta e um caça-talentos da CIA — sítio "onde nada é o que parece". O primeiro recorria ao seu carisma e confiança natural para fazer de um recrutador irresistivelmente sedutor, o segundo era uma jovem estrela em ascensão pronta a cobrir as exigências de um thriller em que se procurava uma toupeira infiltrada na famosa agência de inteligência (que por acaso tinha recrutado um também muito novinho Harvey Specter de “Suits”).

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Agora, volvidos praticamente 20 anos, a Netflix estreou uma série que apesar de ter o mesmo nome, nada tem que ver com a história desse filme, com os seus agentes-não oficiais (conhecidos como os "NOC", a.k.a as famosas estrelinhas na parede do lobby de entrada do edifício da CIA) ou com o livro infanto-juvenil do britânico Robert Muchamore que fez as delícias dos jovens portugueses. Nada disso. Aqui, os episódios são servidos como pipoca doce, viciante e bem-disposta, onde a ação nos coloca no papel da personagem principal, um verdadeiro maçarico na arte da espionagem (embora super inteligente, desenvincilhado e perspicaz).

Neste “O Recruta” (o da Netflix), seguimos o ator Noah Centineo (que vimos recentemente em "Black Adam”, embora seja mais conhecido por ser o borracho da saga adolescente “A Todos os Rapazes Que Amei" da Netflix e um dos filhos de "A Família de Acolhimento" no Disney+) no papel de Owen Hendricks, um jovem acabado de sair da faculdade e recém-contratado para o departamento legal da CIA — e que se vê numa teia de acontecidos realmente absurdos e improváveis para alguém que está a viver a primeira semana de trabalho, mesmo que se tenha a noção de que esse mesmo trabalho seja num edifício cheio de espiões.

Quando a série começa, Owen é apenas um advogado de 24 anos a trabalhar numa pequena e desoladora sala em Langley. Tanto que numa das primeiras tarefas, como parte da sua praxe, recebe pilhas de "graymail" (código na agência para cartas escritas por pessoas que ameaçam divulgar segredos do Governo) para analisar se há alguma ameaça real entre a maioria dos testemunhos de gente pouco sã (entre outras coisas ameaçam expor quem realmente matou JFK ou revelar a identidade de D.B Cooper).

Mas, amiúde da verificação à mão por ameaças reais à segurança dos segredos da agência, o protagonista repara numa carta de uma mulher chamada Max Meladze (Laura Haddock), atualmente a cumprir uma pena de prisão por ter assassinado brutalmente um camionista. O conteúdo da carta não é simples de decifrar, mas é direto: Max está a ameaçar ir aos jornais contar coisas que os serviços secretos norte-americanos não querem que se saiba — e exige a sua libertação imediata para não o fazer.

Só que quando o novato conhece Max, que na verdade é uma ex-colaboradora de Langley que lidava com a máfia russa, Owen mergulha de cabeça no perigoso e moralmente cinzento mundo da espionagem — e as suas capacidades profissionais e os laços pessoais são postos à prova enquanto viaja pelo mundo à procura da verdade. E é aqui que a teoria do “aprender enquanto se trabalha” na CIA tem um custo um pouco mais chato do que noutros sítios: pode custar-lhe a vida ou não fosse perseguido, interrogado e torturado pelo meio.

Mas não se espere grandes cenas à James Bond ou à Jason Bourne. Porque aqui a história não é essa — pelo menos nos primeiros episódios. Segundo o produtor executivo Adam Ciralsky, não é tudo ação a toda a hora como Hollywood tem vindo a demonstrar ao longo dos tempos. Assim como a CIA não é só os agentes no terreno nem os analistas em salas cheias de alta tecnologia a monitorizar os seus alvos. Nope. Há momentos enfadonhos e de muito trabalho burocrático, levado a cabo, por exemplo, por advogados da agência que se certificam que não se cruzam linhas legais.

Como tal, quis certificar-se de que a série de espionagem, apesar de ter ação e excitação, pinta um quadro realista de como a instituição é realmente. E para garantir que isso acontece, Ciralsky ajudou a compor a personagem principal inspirando-se nele próprio e noutros ex-colegas. Afinal, antes de ter uma carreira como produtor de séries e jornalista de investigação com trabalho feito (que lhe valeram Emmys) para publicações como a Vanity Fair e o programa “60 Minutos”, foi advogado da CIA. Nesta entrevista, vai um bocadinho mais longe e explica o que é real e ficção na série e até ajuda a explicar algum do jargão utilizado.

Escrita e criada por Alexi Hawley (“The Rookie”), "O Recruta" arranca com Doug Liman (“Bourne”, “Edge of Tomorrow”) na realização e está montada e feita para ser consumida em binge. E segundo a maioria das reviews, o protagonista Noah Centineo (que na verdade é também produtor-executivo e ajudou a convencer a Netflix a avançar com o projeto) é um dos seus maiores trunfos — coisa que aliada à ascensão da série ao TOP#10 Global em apenas uma semana deverá fazer com que a plataforma não tarde muito a anunciar mais uma temporada.

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