Recentemente, Teresa Esgaio dedicou grande parte do seu tempo a desenhar um elefante e um rinoceronte - os dois com quase quatro metros de largura, o primeiro com três metros de altura e, o segundo, com 2,20 metros.

Um projeto “muito longo”, que acabou por durar um ano, como recordou em declarações à Lusa, a propósito da exposição “Take a number”.

A dada altura do processo sentiu “necessidade de começar e acabar um desenho num dia”. Então, “em paralelo com o rinoceronte”, começou a desenhar senhas de atendimento, das que ainda se encontram em alguns estabelecimentos comerciais, “porque andava nesta luta com o tempo”.

Desenhou as primeiras senhas “em outubro do ano passado”. Começou no A00 e terminou na A99, e estarão todas expostas na Underdogs, onde haverá uma máquina de senhas, “a partir da série B”, representando “o exercício físico do esperar”, para haver “uma relação com o objeto” que lhe serviu de ‘modelo’.

Teresa Esgaio vê nas senhas “uma unidade de tempo”, e foram estas que deram o mote à exposição.

“Depois comecei a fazer o paralelismo entre o tempo instante, ou o tempo relógio, e o tempo clima. Porque isto também era um trabalho sobre respeitar o tempo que as coisas demoram”, referiu à Lusa.

Foi numa conversa com um antigo professor que percebeu que, no seu caso, “é o desenho que dita o calendário” e não ela, “e que as coisas têm um tempo próprio para acontecer”.

O paralelismo com o tempo clima vem da perceção de que “as estações [do ano] têm um tempo próprio, a chuva vem quando tem que vir”. “Não vale a pena querermos ou não, vem quando tem que vir”, disse à Lusa.

Os desenhos, todos feitos com recurso a pastel seco preto e grafite, são de tal forma minuciosos que parecem fotografias.

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Teresa Esgaio admite que há “essa confusão” em quem vê o seu trabalho, mas não faz os desenhos com esse intuito.

“Quando comecei usava lápis/grafite. Depois comecei a usar grafite em pó, a aplicar com esponjas e pinceis, e deixou de se notar a textura do desenho, por isso há mais essa confusão. Não faço com esse intuito, mas acontece”, contou.

A exposição inclui, entre outros, desenhos que representam parte de um mapa de coordenadas meteorológicas, um pedaço de céu repleto de estrelas, os lençóis desfeitos numa cama, moscas – porque Teresa Esgaio olha para elas quando está “no vazio, no modo espera” – e cinco dálmatas – “porque queria fazer uma fila de espera”.

Teresa Esgaio tem 33 anos e sempre desenhou. Na faculdade acabou por estudar Arte e Multimédia, e esteve vários anos a trabalhar em Publicidade, em produção.

A dada altura, deixou de desenhar, “completamente”. Quando fez 30 anos, deu-se “um clique” e foi “radical”.

“Despedi-me e fiquei a 100% nisto”, recordou, fazendo um balanço muito positivo do novo rumo tomou. “Agora nem consigo imaginar de outra maneira. Sou muito feliz mesmo”, partilhou.

“Take a number”, de entrada livre, estará patente até 08 de dezembro.

A Underdogs é uma plataforma cultural, fundada pela francesa Pauline Foessel e pelo português Alexandre Farto (Vhils), que se divide entre arte pública, com pinturas nas paredes da cidade, exposições dentro de portas, no n.º 56 da rua Fernando Palha, um antigo armazém recuperado e transformado em galeria, e a produção de edições artísticas originais.

A plataforma tem também uma loja, na rua da Cintura do Porto de Lisboa, e começou em 2015 a organizar visitas guiadas de Arte Urbana em Lisboa.