Através de um elenco de 29 biografias de mulheres – de Teresa de Leão e Castela (1078-1130) a Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004) -, esta obra traz “ao conhecimento público aspetos menos conhecidos como o papel, a influência e a atuação, os percursos, objetivos, combates e quotidianos” de mulheres, sem pretender que a lista seja exaustiva.
“É cada vez mais importante que a sociedade tenha em conta o olhar das mulheres, porque é um olhar diferente do dos homens”, mesmo reconhecendo que “é impossível falar de mulheres sem falar dos homens que viveram no seu tempo”, escreve Ana Rodrigues Oliveira, para quem a História foi contada a “metade”.
A autora, doutorada em História pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, refere “o caso concreto das rainhas”.
Em Portugal, apenas foram rainhas por direito próprio Maria I (1777-1815) e a sua neta Maria II (1819-1853), mas Ana Rodrigues Oliveira adverte que, “apesar de afastadas por tradição do governo do reino, a maioria destas mulheres conseguiu projetar o seu poder e a sua capacidade nos homens e nas mulheres que viviam ao seu redor, constituindo extensas redes de natureza muito diversa”.
A historiadora afirma mesmo que as rainhas consorte, “assumindo papéis tradicionalmente atribuídos aos homens, mas mantendo atitudes consideradas tipicamente femininas e por meio de práticas como a mediação, contribuíram para fortalecer pactos e alianças”.
Ana Rodrigues Oliveira enfatiza a forma como o papel das mulheres foi secundarizado, pois até as rainhas “não foram objeto de registo” e “as lacunas são abundantes”.
Na realidade, realça a autora, “a história escrita por homens narrava, sobretudo, os aspetos político e militar e, neste mundo maioritariamente masculino, a história das rainhas, e das mulheres em geral, foi relegada para segundo plano”.
“Durante séculos, os homens registaram a História de uma perspetiva exclusivamente masculina, como se as mulheres não existissem, esquecendo-se que o contributo delas foi fundamental para o desenvolvimento da Humanidade”, enfatiza a historiadora.
“Contaram-nos metade da História”, acusa Ana Rodrigues Oliveira, referindo que “a parte em falta sempre foi filtrado pelo olhar masculino”.
“Porém nem só de rainhas vos falará este livro”, garante a autora, afirmando que versa “também sobre outras mulheres que, com circunstâncias pessoais e experiências de vida muito diversas, agiram e exerceram o poder, foram senhoras feudais, mecenas, filantropas, administraram latifúndios, escreveram, combateram por mais direitos, lutaram por aquilo por aquilo em que acreditavam, alcançando notoriedade em várias áreas e diferentes esferas de atuação”.
Além de algumas rainhas, como Filipa de Lencastre (1360-1415), Carlota Joaquina (1775-1830), Maria Pia de Saboia (1847-1911) ou Amélia (1865-1951), “Portugal. Uma História no Feminino” (editado pela Casa das Letras) inclui biografias de Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911), Maria Lamas (1893-1983), Maria Teresa Cárcomo Lobo (1929-2018), Maria Isabel Aboim Inglês (1902-1963) ou Cecília Supico Pinto (1921-2011).
A autora reconhece que “a biografia é uma forma ‘perigosa’ de fazer História” e reconhece que, “inevitavelmente, se cria alguma empatia (ou não) entre a biografada e a biógrafa”.
Todas as mulheres cujas biografias incluiu neste livro foram “frequentemente coagidas por obrigações, educação e preconceitos, mas souberam agir de acordo com os seus objetivos, lutar por um pensamento próprio e por um mundo melhor”.
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