Falar-se de “Somebody That I Used To Know” é falar de um dos maiores fenómenos musicais da segunda década deste século. Até ao seu lançamento, Gotye era um ilustre desconhecido fora do seu país de origem. Um músico com uma carreira relativamente modesta, que sempre editara os seus álbuns de forma independente. Até que uma música do seu terceiro álbum (“Making Mirrors”) o tornou numa estrela mundial. Mas já lá iremos.

Wouter nasceu na Bélgica. Com dois anos mudou-se para a Austrália (tem dupla nacionalidade) e aos 21 começou a fazer música, já sob o nome Gotye. Lançou o seu primeiro álbum (“Boardface”) em 2003 e o segundo (“Like Drawing Blood”) três anos depois. Estava a caminho de uma carreira relativamente sólida na Austrália que o acolheu, com o respeito da crítica e duas vitórias nos ARIA Music Awards (uma espécie de Grammy’s australianos): Melhor Novo Artista Independente, em 2006, e Melhor Artista Masculino, em 2007.

Até que chega “Making Mirrors”. Mais especificamente, o segundo single de “Making Mirrors”. Ainda mais especificamente, o dia 5 de julho de 2011, data em que Gotye publicou o vídeo do tema “Somebody That I Used to Know” no YouTube. A música, que conta ainda com a colaboração da cantora neozelandesa Kimbra, tornou-se um sucesso à escala planetária (obrigado, internet) e Gotye uma super-estrela vencedora de três Grammy’s em 2013, incluindo Música do Ano (“Record of the Year”).

A canção é fácil de explicar – não são assim quase todos os sucessos? Basicamente narra a história de uma relação que terminou, na perspetiva dos seus dois intervenientes. Primeiro o homem, que na verdade não gostava assim tanto da companheira, mas a quem agora custa a indiferença a que esta o submete. Depois, a companheira, magoada com tudo o que aconteceu, só quer esquecer o relacionamento que ambos tiveram. Há quem diga que o homem está ressabiado e que a ex-companheira se faz de mais forte do que na realidade é. Ora a mim parece-me só que são pessoas magoadas com o final de uma relação que não correu bem. São “só” pessoas, no fundo.

“Somebody That I Used To Know” foi, obviamente, objeto de muitos usos: de versões insuspeitas a paródias (nacionais e internacionais), de artigos de reflexão sobre o fenómeno a versões em séries de TV. O músico chegou mesmo a ter concerto marcado em Portugal que, no entanto, acabou por ser cancelado.

E o que aconteceu desde o lançamento do single? Bom, para além dos prémios e dos concertos dados em todo o mundo... nada mais. Gotye não voltou aos álbuns, mas Wouter voltou a tocar com a sua banda – os The Basics, que fundou em 2002 –, com a qual lançou um álbum no ano passado, sem atingir, contudo, o mesmo sucesso comercial do seu trabalho anterior enquanto artista a solo. E Gotye tornou-se no que a sua música fala: alguém que costumávamos conhecer...

Plays Spotify: 270 milhões

Plays YouTube: 816 milhões (sim, mais de 800 milhões...!)