Reza a lenda que “Oppenheimer” não existiria sem Robert Pattinson. O ator britânico não está no mais recente projeto de Nolan, mas durante as gravações de “Tenet” (lançado em 2020) parece que carregava o livro “American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer” para se distrair entre as pausas das filmagens. Ora, um dia, Nolan prestou atenção ao livro e, como não sabia muito sobre o físico, Pattinson acabou por o recomendar, dando assim início a uma cadeia de acontecimentos que culminou na estreia de um biopic sobre Oppenheimer a 20 de julho de 2023.

Sendo um dos principais realizadores do século XXI, Nolan dispensa apresentações e ganhou o direito a que cada novo filme seu se torne algo com impacto na indústria do cinema, da mesma forma que um novo álbum de Taylor Swift ou Kendrick Lamar acabam por abanar o mundo da música. Por isso, a criação da #Barbenheimer, nome dado à estreia em simultâneo de “Barbie” e “Oppenheimer”, veio dar mais buzz a um filme que por si só - e pelos nomes envolvidos - já chamaria naturalmente a atenção de muitas pessoas.

No entanto, é importante referir que a história da criação da bomba atómica não é o tema mais sexy, especialmente numa altura em as audiências são cada vez mais seletivas no tipo de filmes que valem um bilhete de cinema. Depois de “Dunkirk”, que tem a Primeira Guerra Mundial como pano de fundo, “Oppenheimer” é a segunda aventura de Nolan na recriação de um dos momentos mais importantes do século XX, que em muito molda o mundo como o conhecemos hoje.

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Com um orçamento de 100 milhões de dólares, Nolan utilizou muitas das estratégias que lhe trouxeram sucesso na criação ou incorporação de novas realidades como acontece em “Inception”, “Interstellar” ou mesmo na sua trilogia de Batman.

1. Tudo começa com o elenco

Depois de aparecer em vários dos seus filmes com papéis secundários, Cillian Murphy (Tommy Shelby em “Peaky Blinders”) teve finalmente a oportunidade de ser o “main guy”, trazendo para o grande ecrã o controverso físico americano J. Robert Oppenheimer em diferentes momentos da sua vida. Um jovem cientista a encontrar a vocação na Europa. Um académico nos EUA com ideais políticos ligados à esquerda. Um político que moldou a abordagem americana à investigação científica e que sofreu por isso. São facetas que tornam este o papel mais desafiante da carreira do ator irlandês, que provavelmente merecerá um nomeação para um Óscar da Academia.

Como um filme não se faz sozinho, não se pode descolar a sua performance daquelas que são feitas por Robert Downey Jr, Matt Damon, Emily Blunt e Florence Pugh com os quais acaba por contracenar mais tempo. Downey como Lewis Strauss, o político que se vai tornar no principal antagonista de Oppenheimer numa fase mais avançada da sua carreira. Damon como o general Groves, que nomeia Oppenheimer como coordenador do Projeto Manhattan, nome-código para a operação de desenvolvimento da bomba atómica. Blunt como Kitty, também cientista e mulher de Oppenheimer, que desempenha um papel importante na sua estabilidade e sucesso. E ainda Pugh, a sua amante comunista que acaba por ser a principal desestabilizadora do cientista americano, emocionalmente e politicamente.

2. A cor e o tempo

Não seria um filme de Nolan se não tivéssemos saltos temporais e utilizações diferentes da cor. Em “Oppenheimer”, estamos constantemente a transitar entre vários momentos da vida do físico, do processo para a construção da bomba ao momento em que este está a enfrentar um audiência onde algumas das suas decisões no desenvolvimento da bomba atómica estão a ser questionadas. Em ambos os períodos, tanto temos cenas a cores, como cenas a preto e branco. A razão para esta formatação parece estar relacionado com a forma como o argumento foi desenvolvido, de acordo com Nolan. As cenas a cores estão escritas na primeira pessoa (a de Oppenheimer) e resultam da interpretação que o mesmo faz dos diferentes eventos e momentos que atravessa. As cenas a preto e branco estão escritas na terceira pessoa e tratam-se de uma interpretação mais “imparcial” de acontecimentos que de facto decorreram da forma como são representados.

3. Os efeitos especiais

A explosão da bomba atómica no filme vale o preço do bilhete. Claro que existem outros exemplos, mas a mestria com que o “Trinity Test” (nome dado ao primeiro teste oficial da bomba atómica) é feito, leva-nos imediatamente para dentro da cena. Sentimos estranhamente a ansiedade do impacto que aquele momento podia ter (e teve) na vida de milhões de pessoas, sendo referido inclusive que a probabilidade de o teste destruir o mundo inteiro não era zero. Tanto na parte visual, como na vertente sonora, enquanto audiência estamos ao lado daqueles cientistas que aparecem no ecrã a rezar para que a teoria passe à prática. E o mais interessante é que Nolan partilhou que não foi usado qualquer tipo de CGI, ou seja, aquela explosão foi de facto pensada, criada e captada por câmaras colocadas num cenário criado propositadamente para o filme.

  • Foram estes e outros temas que abordámos no episódio mais recente do podcast, disponível no Spotify, na Apple Podcasts e nas plataformas habituais.