A Orquestra Sem Fronteiras nasceu com um propósito: a dar resposta ao “jovem músico que não tem a possibilidade, depois de feitos os seus estudos, de fixar-se na sua região”. É desta forma que o maestro Martim Sousa Tavares, que lidera o projeto, explica de onde partiu a ideia.  A OSF vai, assim, “trabalhar com os melhores alunos das escolas do Interior” de Portugal, num eixo de Bragança a Beja, incluindo alunos das regiões espanholas no eixo raiano de Zamora a Olivença.

Até ao final deste ano, a OSF tem previsto apresentar cinco programas em 17 localidades portuguesas e espanholas e envolver 102 músicos dos dois países, entre os 14 e os 20 anos.

Em paralelo, a orquestra propõe-se dinamizar em termos culturais estas regiões e a zona da raia luso-espanhola. No dia 22 de março, estreia-se no local onde tem a sua sede, tocando no Centro Cultural Raiano, em Idanha-a-Nova. É o início de uma primeira digressão pelo interior do país: a 23 de março atua no Centro Cultural de Campo Maior, no Alto Alentejo, e, no dia 24, no Palácio de Congressos Manuel Riojas, em Badajoz, na Extremadura espanhola.

O projeto arranca com um orçamento de 100.000 euros mas espera, ainda este ano, aumentar este valor mediante uma campanha de “fundraising” (captação de financiamento voluntário) que ainda está a decorrer.

Do orçamento previsto, explicou Sousa Tavares, 55% destina-se a músicos e pessoal, 27% à logística, despesas que envolvem a realização e produção dos programas, como compra e aluguer de partituras, consumíveis, deslocação e alojamento, referindo que muitas vezes o alojamento é oferecido pelas autarquias ou outras entidades.

Do restante orçamento, oito por cento destina-se à criação da marca e sua identidade e à comunicação, cinco por cento, a assessoria externa (“despesas necessárias para a assessoria operacional da instituição”), e os outros cinco por cento, à administração, envolvendo o funcionamento legal e contabilístico do projeto, assim como o seu desempenho estratégico, explicou.

A programação é gizada conforme for sendo garantido o seu suporte financeiro, disse o maestro, referindo que, para os próximos quatro meses, “está já tudo pago e garantido”. Até junho tem previsto concertos nos concelhos de Penamacor, Covilhã e Sabugal, e ações pedagógicas em várias escolas primárias.

O número de músicos que constitui a OSF não é fixo, dependendo do programa musical a executar, explicou o maestro, referindo um dos projetos, a “Orquestra de Bolso”, com 20 músicos, que vai fazer “algumas maratonas musicais, como atuar de forma seguida em cinco aldeias do [concelho de] Sabugal”, no distrito da Guarda.

Todos os músicos são remunerados, sublinhou Sousa Tavares, sendo os honorários variáveis. E deu como exemplo: “se um músico participar apenas num concerto recebe 150 euros”. São as escolas de música que propõem os alunos e, “escolhendo-se os melhores”, não descarta a possibilidade de incluir outros que, sem comprometerem o conjunto, “as escolas entendam que, para o seu desenvolvimento pessoal, [seja] importante fazerem parte da OSF”.

 “Nós, neste momento, estamos a trabalhar com um ‘pool’ de alunos, porque todas as escolas enviaram a lista [dos] que querem que nós apoiemos, que está em crescimento, e que está nos 200, e a nossa missão é escoar esses alunos todos e garantir que não cheguemos ao final do ano sem que todos eles não tivessem uma experiência de trabalho”, disse Martim Sousa Tavares.

O maestro acredita que o número possa subir até 300 alunos.

Além de Martim Sousa Tavares, responsável pela direção musical e artística, a equipa dirigente da OSF inclui a violoncelista Catarina Távora, que tutelará a parte pedagógica, André Vieira, nas áreas da produção, ‘marketing’ e comunicação, e Miguel Herdade, nos projetos sociais.

A OSF é formalmente uma associação sem fins lucrativos e conta com o apoio de mecenas e parceiros privados, das autarquias e ainda dos ministérios da Educação e da Cultura, bem como do Ministério da Economia, através da secretaria de Estado pela Valorização do Interior.

Sobre a criação da OSF, o maestro Martim Sousa Tavares afirmou: “Uma orquestra nasce da necessidade de nascer”, uma necessidade, acrescentou, que “é sentida nas regiões do interior”.