2024 foi um ano peculiar para o cinema, e um verdadeiro período de transição, já que ficou marcado pelos ecos das greves que paralisaram Hollywood em 2023 e pela antecipação de um 2025 repleto de blockbusters (“Avatar 3”, “Superman”, “The Fantastic Four: First Steps”, “F1” com Brad Pitt, entre outros). Ainda assim, foi um ano recheado de bons filmes, com histórias que aqueceram os corações dos cinéfilos (“Anora”) e de sucessos absolutos nas bilheteiras (“Divertida-Mente 2” e “Deadpool & Wolverine”).

Mas, antes de avançarmos, importa fazer o Disclaimer* (trocadilho forçado para recomendar a série de Alfonso Cuarón): esta lista inclui apenas filmes que estrearam nas salas de cinema portuguesas ou nas plataformas de streaming durante 2024.

Por isso, não se estranhe a ausência de alguns títulos que poderiam estar na lista, como “Nosferatu”, “Brutalista” e “A Verdadeira Dor”, apesar de terem impressionado a crítica internacional. Estes ficaram de fora, pois a sua estreia em Portugal está apenas prevista para janeiro de 2025. Mas não se preocupem – estes e outros filmes terão certamente o seu momento de destaque nesta newsletter no próximo ano!

Por agora, descubram as primeiras posições do nosso ranking dos melhores filmes de 2024. E, naturalmente, na próxima semana desvendaremos os lugares cimeiros e o tão aguardado pódio!

10# - “Deadpool & Wolverine” (Disney+)

Tal como aconteceu com as séries (estamos a pensar concretamente em “The Gentleman”), escolhemos incluir na lista um dos maiores sucessos de bilheteira do ano, utilizando os mesmos argumentos: é um filme que cumpre na perfeição aquilo a que se propõe. É divertido, bem feito, criativo e garante umas horas muito bem passadas.

Já o escrevemos na nossa crítica ao filme aqui, mas vale a pena reforçar: a “fadiga de super-heróis” só existe quando os estúdios aplicam fórmulas repetitivas e não oferecem carisma ou originalidade às personagens. O apelo de “Deadpool” reside precisamente no seu carácter único, mantendo-se fiel às expectativas que o público tem. Não é – e esperamos que nunca venha a ser – “apenas mais um filme de super-heróis”.

9# - “Flow - À Deriva”

“Flow” é um daqueles filmes de animação que transcende o género e que é mais do que uma história (urgente) sobre a crise climática — é uma delícia de cinema. Sem diálogos, o seu forte reside no seu incrível imaginário e na sua mensagem.

Para quem não está familiarizado, o realizador letão Gints Zilbalodis (“Away”) apresenta-nos a história de Gato, um pequeno felino solitário que, após um grande dilúvio, encontra refúgio num barco habitado por várias espécies. O que se segue é uma história sobre aprendizagem e união, onde os animais descobrem que, num mundo agora submerso, a sobrevivência só é possível através da cooperação.

Apresentado na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes e vencedor no Festival Internacional de Animação de Annecy (uma vitrine para as melhores animações do mundo), “Flow” destaca-se como uma das melhores animações do ano e um filme que merece ser descoberto e que não deve ficar na sombra de “Robot Selvagem”.

8# - “Challengers” (disponível nas plataformas de VOD)

O novo filme de Luca Guadagnino prova, uma vez mais, que é um cineasta de excepção. Como bem escreve a IndieWire, a linha entre o desporto e o erotismo é tão ténue que até a tecnologia Hawk-Eye teria dificuldades em distinguir onde acaba o ténis e começa o desejo.

É um filme provocador e emocionalmente complexo. E se juntarmos uma banda sonora (da responsabilidade de Trent Reznor and Atticus Ross) que deixa qualquer apreciador de música eletrónica irrequieto (de felicidade), só nos resta dizer que “Challengers” é um drama desportivo que celebra a paixão em todas as suas formas – física, emocional e competitiva. É divertido, perturbadoramente cativante e mais uma prova que Guadagnino sabe exatamente como marcar um ás no court do cinema.

7# - “As Três Filhas” (Netflix)

O filme de Azazel Jacobs é um dos originais da Netflix que nos relembram que a plataforma sabe, de facto, pegar e selecionar filmes de qualidade. A nossa crítica completa pode ser lida aqui, mas, por ocasião desta lista, aproveitamos para recordar um parágrafo que resume o nosso sentimento geral:

‘“As Três Filhas” custou 7 milhões de dólares à Netflix para garantir a sua distribuição, e é compreensível que receba menos atenção do que um filme de Zack Snyder, cujo orçamento é, no mínimo, 10 vezes superior. No entanto, é uma pena se acabar por ser mais uma vítima de um algoritmo que não o considera apelativo o suficiente para o recomendar a um maior número de utilizadores.”

6# - “Conclave” (Cinema)

Realizado por Edward Berger (“A Oeste Nada de Novo”), “Conclave” desvenda os bastidores de um dos momentos mais secretos e solenes da Igreja Católica: a escolha de um novo Papa. Mais do que uma história sobre fé, é uma análise profunda de moralidade, mentira, poder e ambição. Afinal, apesar de estarem isolados no coração do Vaticano, os cardeais têm plena consciência de que as suas decisões terão impacto no mundo real e na perceção pública sobre a Igreja.

Quanto ao filme em si, Berger demonstra um talento primoroso atrás das câmaras e consegue agarrar qualquer espetador – seja católico ou não, religioso ou não –, pela forma como filma e estrutura os momentos de maior tensão. Antes de chegar às salas de cinema em Portugal, o filme passou pelo circuito dos festivais, conquistando quem o viu, seja pela ansiedade gerada pelo suspense ou pelo magnetismo da interpretação de Ralph Fiennes (que muitos consideram um forte candidato a, pelo menos, uma nomeação ao Óscar). Por isso, não é muito difícil compreender por que este é, para nós, um dos incontornáveis do ano.