Já era do conhecimento dos investigadores que os pássaros, a par das galinhas e codornizes, conseguiam interiorizar várias coisas (saber quem é a mãe ou adquirir a capacidade para se alimentar sem a sua ajuda) através dos sons dos progenitores enquanto ainda estavam em processo de incubação. Mas, em abono da verdade, ninguém acreditava que alguma coisa se passava dentro do ovo com o tipo de pássaros que dependia dos seus progenitores para fazer eclodir os ovos.

Um novo estudo publicado na revista Science, abala essa crença, demonstrando que certos cantos de mandarins conseguem mudar o comportamento e crescimento em idade adulta dos seus filhotes.

“Este sinal acústico é muito provavelmente utilizado no desenvolvimento das suas crias”, revela Kate Buchanan, professora adjunta do Centro de Integração Ecológica, da Universidade de Deakin, na Austrália, e autora principal do novo estudo.

“Ouvir o canto afeta a tolerância ao nível de temperatura em que este se encontra. Os animais tem uma maneira muito subtil de sentir as alterações climáticas, e consequentemente, como melhor se podem adaptar a elas”, disse. “Estamos a olhar para a ponta do iceberg em termos do que podemos reconhecer até ao momento. É uma mudança de paradigma”, conclui.

Como as famílias de mandarins respondem às alterações climáticas

Originários do interior australiano, em ambiente de extrema seca, os mandarins são bastante populares entre os donos de animais domésticos. Na maioria dos casos, é uma espécie que acasala para a vida. Os machos são mais coloridos e dotados de um timbre de fazer inveja a muito cantor, enquanto as fêmeas passam mais tempo a incubar os ovos.

Ainda que o estudo se encontre numa fase muito prematura, os investigadores acreditam que as implicações deste comportamento podem fornecer uma rara oportunidade de perceber como os animais se conseguem adaptar à mudança de clima.

Mylene Mariette, também da Universidade de Deakin, já tinha ouvido falar nesta possibilidade e quando descobriu um novo som que havia passado ao lado a todos os outros investigadores de mandarins, decidiu criar uma experimentação para confirmar a sua teoria.

Como não era conclusivo qual dos géneros cantarolava a ordem para a incubação, a equipa gravou sons de 61 machos e 61 fêmeas, em gaiolas exteriores, expostos à temperatura ambiente. De seguida, os investigadores retiram os ovos dos ninhos para uma câmara em temperatura controlada, criando dois grupos diferentes de ovos (um ouvia os sons dos progenitores, outro ouvia som de socialização normal dos pássaros) nos últimos dias de incubação. Quando eclodiram, foram colocados novamente nas gaiolas exteriores, e descobriram que o seu tamanho e desenvolvimento diferiu consoante se tinham ouvido.

Quando a temperatura no ninho, depois da eclosão, estava mais elevada, aqueles que foram expostos às cantigas dos pais, tinham tendência para serem mais pequenos. É uma descoberta que impressiona, porque temperaturas quentes têm sido relacionadas com pássaros mais pequenos em muitas espécies, pois ter tamanho reduzido traz benefícios para a saúde destes (ter um corpo pequeno influência a termorregulação e reduz os ataques às moléculas).

“Ouvir o canto antes de eclodir afeta o seu desenvolvimento, afeta crescimento, comportamento, provavelmente a sua vocalização, e escolhas nos 100 a 200 dias mais tarde quando regressar ao ninho”, diz Buchanan.

O estudo revela ainda que os mandarins estudam o ambiente e a sua imprevisibilidade, para escolher o melhor momento incubar os ovos. Ainda assim, ainda que saibam lidar com essa mudança, não conseguiriam sobreviver caso a temperatura subisse de forma acentuada e sustentada. 

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