Filme a filme, festival em festival, ei-los, os Óscares. Mas poupo o parágrafo habitual de introdução destas andanças em que se escreve que esta noite (madrugada em Lisboa) se vai celebrar em Hollywood o que melhor fez durante o ano e que haverá gente bonita, passadeira vermelha, discursos e outras coisas tais. Isso o leitor já o sabe, por isso vamos à discussão que importa sobre quem tem mais hipóteses de sair a sorrir e com uma estatueta na mão. Nem que seja porque com o fim dos BAFTA e com a maioria dos prémios mais importantes já entregues, será só normal tentar prever algumas nomeações, dar alguns palpites e perceber se os nossos filmes favoritos vão triunfar.
Mas antes disso, antes de se pegarmos na pequena bola de cristal, talvez seja importante avisar — assim é a opinião dos sites especializados internacionais — que num ou outro caso não parece existir grande dúvida. Ou seja, há categorias que chegam à cerimónia de hoje com uma percentagem de sucesso bastante blindada. Um desses casos, claro, é Joaquin Phoenix. O seu Arthur Fleck, em Joker, não deixa ninguém indiferente - apreciado ou não - foi decididamente um dos papéis que marcou o ano. Tendo limpado a categoria de Melhor Ator durante a temporada de prémios (ganhou nos Globos de Ouro, no Sindicato dos Atores e nos BAFTA) parece uma daquelas apostas certeiras. Outra vencedora quase pré-anunciada, será a sua contra-parte feminina (que ganhou os mesmissimos prémios) Renée Zellweger, no filme Judy.
Contudo, apesar de algumas críticas — corretas — que foram surgindo após serem conhecidas as nomeações — já lá irei — podemos afirmar que 2020 foi um bom ano nesta coisa dos filmes. Ou, melhor, um ano em que não sairei com os cabelos em pé a pensar para com os meus botões: "porque é que me dou sequer ao trabalho de assistir a mais edição dos Óscares?". Este pode bem ser apenas o meu caso, bem sei, mas quero acreditar de que nestas coisas da subjetividade há sempre espaço para algum consenso.
É importante lembrar que a corrida aos Óscares este ano conta com aproximadamente 20% de corpo internacional presente na Academia — o que vai ajudar a combater um pouco a diversificação do voto de Los Angeles que ainda é predominante masculino e branco. Recorde-se que apenas 32% da academia é composta por mulheres e só 16% é não-branca.
E desde que há o sistema de votos pelo método de ranking (em que o votante lista do filme de que mais gostou para aquele que menos gostou) o Óscar para Melhor Filme pode ter surpresas quando menos se espera (para saber mais sobre o método espreite aqui). Se por um lado já consagrou títulos como 12 anos de Escravo, O Caso Spotlight, A Forma da Água, outros como The Revenant — O Renascido, Dunkirk ou Gravidade ficaram por terra. Prever ao certo? É complicado. Com esta lógica, tudo ou quase tudo é possível. Por exemplo, se o número de pessoas a colocar Parasitas em 2º lugar for elevado, este pode muito bem ganhar o prémio de Melhor filme.
Ainda assim, 1917 parece destinado para ganhar em muitas das categorias, mas é por esta altura o candidato na principal de todas elas, a de Melhor Filme — afinal ganhou o prémio dos produtores de Hollywood. Nos últimos dez anos, apenas por duas vezes o vencedor da estatueta não coincidiu com este prémio. Porém, uma adenda: tal não quer dizer que Parasitas não esteja na corrida porque, se o filme de Sam Mendes saiu vencedor nos produtores, no sindicato dos atores, foi o elenco do filme sul-coreano que saiu por cima. O que quer dizer que O Irlandês e Era uma vez… em Hollywood devem ficar-se pelo caminho. Fazem parte da contenda, mas dificilmente — a menos que haja uma surpresa — devem ultrapassar os outros dois.
Depois é a tal coisa: não é só o comum mortal que não consegue ver os filmes todos que estão nomeados. Isto é coisa que acontece a quem vota também. O IndieWire escreve mesmo que muitos votantes apressaram o visionamento dos filmes animados, língua estrangeira ou documentários, para deitar a baixo o site dos Óscares assim que o tempo para votar estava a terminar. E muitos membros queixaram-se que não foram capazes de ver o que precisavam em tempo útil. Nestas categorias, portanto, é se calhar apostar naqueles que "são mais populares".
Melhor Filme
1917
O Irlandês
Jojo Rabbit
Joker
Mulherzinhas
Marriage Story
Era uma vez... em Hollywood
Parasitas
Le Mans '66: O Duelo
Quem deve ganhar: 1917
Quem também pode ganhar: Parasitas
É possível satisfazer a tudo e todos? Claro que não. É a tal subjetividade de que falava. Este ano, um rol de 10 nomeados talvez fizesse mais sentido. Haveria espaço para outros que mereciam estar por aqui. Uncut Gems, é um desses casos. Até pode dividir opiniões, mas é um filme que poderia estar entre os contemplados. Se vai ser um daqueles casos (snubs) de que dará que falar durante anos ao estilo de The Big Lebowski (1998) Zodiac (2007) ou Donnie Darko (2001) — que não tiveram uma única nomeação para os Óscares — só o tempo o dirá.
Como disse, sem se identificar, um membro da Academia ao Indiewire: "Lá no fundo, quando chega a hora de votar, votas nos filmes de que mais gostaste. É engraçado porque as pessoas falam de que temos uma agenda em curso. Como membro votante dos Óscares há já uns anos, eu tinha a minha agenda acerca dos filmes que vi, gostei e daqueles que mais gostei. Eu só posso votar nos filmes pela ordem dos que gostei", disse.
Enquanto cinéfilo e observador que acompanha o que se passa na indústria e sobretudo nos ecrãs, este é um ano em que não tenho um claro favorito. De todos os nomeados, gostei bastante de três filmes e cada um à sua maneira. Não ficarei mais ou menos insatisfeito, nem lidarei mal na hora da derrota caso um dos filmes que pouco ou nada me disseram saírem vitoriosos. Entre 1917, Parasitas ou Era Uma vez... em Hollywood, qualquer um serve. Tanto sorrirei se for Tarantino a receber o seu primeiro Óscar, como se voltar a ver todo o elenco de Bong Joon Ho tal aconteceu nos SAG ou se for o realizador de Beleza America a regressar a um palco 20 anos depois. À sua distinta maneira, todos têm algo que me fazem pensar que o mundo só tem a ganhar com estes filmes.
É por isto que vamos ao cinema
Pouco importa que muitos limitem 1917 ao cânone técnico ou que o tenham apelidado de primo cinematográfico de um videojogo. Aquilo que senti depois de o ver é exatamente aquilo que procuro no cinema: emoção, imersão, viajar no espaço, lugar e tempo. A intenção de Sam Mendes é essa: colocar o espectador nas trincheiras com o seu avô. E fê-lo duma maneira difícil de explicar a quem não viu o filme.
Este não foi um ano de remakes, adaptações ou de franchises. "Avengers: Endgame" poderia ser um das opções a figurar entre os eleitos, é verdade, mas penso que Era Uma Vez… Em Hollywood tem um encanto diferente. É um ficção disfarçada com a realidade, mas provocativo o suficiente para deixar qualquer alma penada intrigada.
Tarantino de início ao fim
Tem uma fórmula que nem precisava de créditos no final da sua exibição para saber quem é o seu realizador: é Tarantino de início ao fim. É um filme sobre a Cidade dos Anjos e dos bastidores de Hollywood, em 1969, mas o seu centro de gravidade acaba por ser a relação entre a personagem de Brad Pitt e a de Leonard DiCaprio - e deste último com o sítio e identidade do lugar que vive, i.e, onde está Margot Robbie. É um guião original que mistura ficção com personagens reais e, como habitualmente acontece nos seus filmes, um universo tarantiniano com tudo aquilo que o cineasta gosta - e nem faltam pés. Sim, caso nunca tenha reparado nos 8 filmes anteriores, há voyeurismo banhado a podolatria nos seus filmes.
Referências, mais referências e ainda mais referências. Assim é Era Uma Vez… Em Hollywood. Desconfio que só apanhei 1/3, mas as que apanhei, mesmo passadas semanas após vez ter visto o filme, ainda me sinto tentado a procurar mais sobre elas. A polémica em torno da morte por afogamento, em 1981, da atriz Natalie Wood, ainda hoje assola fãs e polícia. O marido da estrela, Robert Wagner é ou não culpado? No entanto, esta foi apenas uma que apanhei. Outras há em que fiquei a ver navios. Uma razão para me sentir menos mal? Leonardo DiCaprio também diz que não consegue acompanhar a memória fotográfica do realizador, segundo confessou numa entrevista (de ambos) à Vanity Fair.
Uma aula de Bongjoonlogia
Parasitas, por seu turno, tem beleza na sua subtileza pouco subtil. É um filme sobre classes, feito com classe. Nada acontece por acaso, nada é dito para ser apenas dito. Uma imagem não é só uma imagem. Bong Joon Ho conduz aqui uma das melhores narrativas dos últimos anos - os elogios não são colocados ao desbarato e cada plano assemelha-se a uma aula semiologia social de uma disciplina de cinema na faculdade - Bongjoonlogia - acabada de inventar. A montagem é imaculada e as suas personagens nunca perdem qualquer pingo de humanidade. Há cenas tão intensas que, quando se misturam com os seus planos altamente meticulosos, obrigam o espectador a rir, chorar ou a ter uma reação que não era bem o suposto. Damos por nós a torcer por quem não devemos, a reagir de um modo contrário à racionalidade tal é a sua capacidade em humanizar as suas personagens. O que mais se pode pedir?
Netflix, algo se perdeu pelo caminho
O Irlandês era — é — a aposta forte da Netflix para a edição deste ano dos Óscares. No entanto, das suas 24 nomeações, aposto que Ted Sarandos — diretor de conteúdos vulgo boss — da plataforma, trocava a sua maioria pela consagração do filme de Scorsese. Porém, assim que o furacão 1917 entrou em cena durante o percurso dos prémios e Parasitas foi ganhando não só a crítica como a opinião geral, a força da Netflix parece ter desvanecido à semelhança de uma história recente. Roma esteve perto de o conseguir o ano passado, mas foi ultrapassado por Green Book. Como resposta, O Irlandês parecia ser então a resposta ganha — os críticos acabaram mesmo por colocar o filme como um dos melhores filmes do ano —, mas as suas quase quatro horas de duração podem ter assustado os votantes. Ninguém duvida da qualidade, mas algo se perdeu pelo caminho.
No entanto, apesar de todo o investimento — não financeiro mas também emocional (falo por mim) com a reunião de nomes como Al Pacino, Joe Pesci e Robert DeNiro — foi Marriage Story que conquistou as atenções. Mas também aqui há demasiado Kramer vs Kramer. Está bem escrito, puxou pelos galões dos atores principais, mas se daqui a 10 anos me perguntaram se foi o melhor que vi 2020? Tenho quase a certeza que ou vou falar doutros ou falo deste como o "filme em que gostei mais da Scarlett Johansson".
Le Mans '66: O Duelo vê-se bem, o que sendo a análise mais coloquial possível, não deixa de surpreender. Pouco vi de Fórmula 1 e pouca atenção presto ao mundo automobilístico, mas isso não me impediu de gostar bastante do filme que está bem feito — especialmente na sua montagem — e ainda tive o bónus de me rir várias vezes com Christian Bale. Foi, por isso, uma surpresa muito agradável, mas não está ao nível dos outros. Num contexto completamente diferente, embora o juízo final seja o mesmo, está Jojo Rabbit. Melhor do que estava à espera, sem no entanto estar ao nível dos outros.
Joker, por seu turno, está naquela zona cinzenta que me obriga a estar calado em muitas conversas em que sou desafiado a participar. Faço o meu papel aqui e acolá, mas sem grandes avarias porque sei que vou caminhar por terrenos pecaminosos. Não me interpretem mal: é um filme espetacular de se olhar; toda aquela cor viva, quente, num mundo sujo, conta uma história por si só. Assim como a "cena" das escadas é qualquer coisa. Mas tanto Travis Bickle in your face foi demasiado para mim. Todd Phillips saiu da comédia, fez um belo filme, mas, roubando novamente as palavras ao anónimo do Indiewire, "não é um clássico". Já os filmes em que (MUITO) se inspirou… Depois, o facto de The Dark Knight não ter estado sequer nomeado para Melhor Filme em 2008 e mais de 10 anos Joker depois ser o mais nomeado em 2020 ainda me faz confusão. Azia, rennie, é saber "lidar", chamem-lhe o que quiserem. Mas é o que é.
Mulherzinhas tem uma virtude: tem frescura quando podia cheirar a mofo e não é uma mera adaptação numa miríade de adaptações. O mérito é de Greta Gerwig. E Saoirse Ronan traz o seu charme do costume apesar da tenra idade. Mas, lá está, com tanta adaptação pode ter caído no esquecimento da Academia.
Melhor Realizador
Bong Joon-ho (Parasitas)
Sam Mendes (1917)
Todd Phillips (Joker)
Martin Scorsese (O Irlandês)
Quentin Tarantino (Era uma vez... em Hollywood)
Quem deve ganhar: Sam Mendes
Quem também pode ganhar: Bong Joon Ho
Greta Gerwig devia de estar nesta categoria. Não é para encher quotas, mas devia. E se não fosse ela, então que fosse Lulu Wang, por A Despedida. Se estas não servissem, então que se colocasse aqui Olivia Wilde por Booksmart: Inteligentes e Rebeldes. Na modesta opinião deste escriba, qualquer uma destas mulheres estava bem melhor numa vaga, do que, vá, Todd Phillips. Percebo o entusiasmo em torno de Joker, de que muita gente gostou, mas era o que faria.
Mas tendo em conta algumas das últimas escolhas da Academia (A Vida de Pi, Gravidade ou The Revenant — O Renascido) parece que a escolha vai recair em Sam Mendes. Mas pode haver troca de galhardetes: Parasitas é premiado com Melhor Realizador, 1917 com Melhor Filme. Ou vice-versa. Percebe-se a ideia.
Vá para quem for, fico contente. Excepto se for para Todd Phillips. Aí, fico arreliado. Pequeno alerta: Alfred Hitchcock não teve nenhum óscar e vamos dar agora um ao homem que fez a Ressaca III? É algo no qual se deve perder algum tempo a ruminar.
Melhor Ator
Joaquin Phoenix (Joker)
Leonardo DiCaprio (Era uma vez... em Hollywood)
Antonio Banderas (Dor e Glória)
Adam Driver (Marriage Story)
Jonathan Pryce (Dois Papas)
Quem deve ganhar: Joaquin Phoenix
Quem também pode ganhar: Adam Driver
Quem eu acho que devia ganhar: Leonardo DiCaprio
Joker/Phoenix vai ganhar. Mas não custa sonhar, não é? Nem é que não mereça a estatueta. Merece. Volto é a destacar algo que os sites especializados que recalcam Hollywood e os filmes até ao tutano já disseram também: não foi uma atuação "única" nem será a última que Phoenix fará deste estilo. É (re)ver O Mentor (2012) de Paul Thomas Anderson. Nota-se que deu o que tinha e não tinha à personagem para ele desenhada. É uma performance mágica que chega por vezes a ser hipnótica.
Já Adam Driver é um daqueles casos que me faz repensar toda a minha capacidade de análise desta coisa de ver e escrever sobre filmes. Talvez deva ir para uma escola de atores tirar umas notas — para conseguir ver aquilo que não consigo ver, mas que aparentemente todos estão a ver. Sem Joker, Driver iria ganhar pela certa. Mas não considero que esteja qualquer furo acima de Johansson em Marriage Story.
É verdade que há mérito no seu trabalho, mas não vejo ofuscação alguma à sua parceira como tanto oiço dizer que existiu (apesar de ambos estarem nomeados). Num momento estou com um, na cena a seguir estou com outro. Na seguinte acho que a mulher é intragável, noutra tenho pena dela. Quinze minutos depois, acontece-me o mesmo com o marido — ou ex. O que revela o seu valor, mas não para ser colocado neste pedestal onde a crítica o quer pôr. Até porque vejo a mesma cara revoltada do seu fanfarrão Kylo Ren ou do grunho Adam Sackler em Girls. Sei também que já esteve nomeado para um Tony, pelo que ele não deve mesmo nada mau nisto de ser ator. E saberei fazer mea culpa no futuro quando achar que terei razões para tal. Esse momento só não é agora.
Sinto é que DiCaprio devia de estar mais nesta conversa do Óscar de Melhor Ator. São várias as cenas em que o seu acting dá vontade de lhe entregar a estatueta logo ali, naquele preciso momento em que estamos a ver a cena. A cena em que está sentado com a pequena — e talentosa — atriz é dos melhores momentos que vi de um ator. Quando ela sussurra ao seu ouvido "é uma das melhores performances que já vi", sinto que ela está a falar por mim, enquanto espectador. Não em 2020, mas de sempre. Além de o ter feito apenas com recurso às linhas do guião e sem esmurrar nenhuma parede falsa.
E o Adam Sandler? Eu sei que é difícil associar o homem à categoria, mas já que não se dá carinho a Diamante Bruto / Uncut Gems que se dê crédito ao homem. De qualquer das formas, é um ano tremendo e todas as interpretações são de altíssimo nível. Custa, dói, mas não é daqueles anos em que fico muito escandalizado por Sandler não estar nomeado.
Melhor Atriz
Cynthia Erivo (Harriet)
Renée Zellweger (Judy)
Scarlett Johansson (Marriage Story)
Charlize Theron (Bombshell)
Saoirse Ronan (Little Women)
Quem vai ganhar: Renée Zellweger (Judy)
Quem eu gostava que ganhasse: Scarlett Johansson (Marriage Story)
Longe vão os tempos em que me apaixonei por Johansson na sua viagem a Tóquio durante a crise de meia idade de Bill Murray. Desde então já foi uma espécie de musa de Woody Allen, uma rapariga com um brinco de pérola ou uma super heroína. Até já foi uma voz que por só ser voz (em Her) foi ignorada pelos Óscares enquanto representou mais naquele papel que muitos nomeados pela Academia ao longo dos anos. Mas, como eu não mando nada, este ano é de Renée Zellweger (que pode ser surpresa para muito boa gente mas já que já vai soprar 51 velas no seu próximo bolo de aniversário daqui a uns meses). Só que a vitória nos Globos, SAG, nos críticos e agora nos BAFTA, desfaz qualquer dúvida nesta categoria. E que não se deixem levar pela lengalenga inicial: é merecido. O filme é que, enfim. Meh.
PS: Onde está Awkwafina? Hellooooooooooo? Alguém? Serve para todos menos para os Óscares?
Melhor Ator Secundário
Brad Pitt (Era uma vez... em Hollywood)
Al Pacino (O Irlandês)
Joe Pesci (O Irlandês)
Anthony Hopkins (Os Dois Papas)
Tom Hanks (Um Amigo Extraordinário)
Quem vai ganhar: Brad Pitt
Quem eu gostava que ganhasse: Estou feliz e contente com o Cliff / Brad Pitt
Neste ano de regressos (super? mega?) consagrados, não vejo rival à altura para o grande Cliff Booth. Ensinou uns moves como deve ser ao Bruce Lee, fez o Encantador de Cães (aquele homem que tem programas e livros sobre o melhor amigo do homem) corar de vergonha e ainda dá tudo o que tem e o que não tem em prol da amizade com DiCaprio. Além disso, quero ver outro discurso de aceitação de prémio como os que tem feito. O Tinder já veio à baila, a ver o que se segue.
Melhor Atriz Secundária
Laura Dern (Marriage Story)
Florence Pugh (Mulherzinhas)
Margot Robbie (Bombshell - O Escândalo)
Kathy Bates (Richard Jewell)
Scarlett Johansson (Jojo Rabbit)
Quem vai ganhar: Laura Dern
Quem eu gostava que ganhasse: Ana de Armas ou outra
Vou direto ao assunto. Laura Dern já ganhou este prémio. Mas não é por ser a clara favorita — e aquela que vai ganhar quase, quase, quase de certeza. É só que já a vi a representar este papel em Big Little Lies. Bom papel, belíssima atriz. Mas não se podia tentar arranjar outra solução? Gostei bastante quer da série, quer do filme. Mesmo. Só não consegui foi perceber a diferença.
Posto isto, digo que se fosse para Florence Pugh também não me importava. Ou para Scarlett. Ou para a Ana de Armas (Knives Out: Todos São Suspeitos) que devia mesmo estar nesta lista. E, já que estamos a falar de quem devia de estar nesta lista, convém recuperar o nome de Jennifer Lopez. A mulher está em forma na tela e no palco (Super Bowl). Outra daquelas coisas que vá-se lá perceber. A veterana Kathy Bates tem uma carreira que fala por si e até já ganhou um Óscar. Tenho a certeza que dava o seu lugar a uma destas jovens. Ela e eu. Vá, se calhar só eu.
Melhor Argumento Original
Rian Johnson (Knives Out: Todos são suspeitos)
Noah Baumbach (Marriage Story)
Sam Mendes & Krysty Wilson-Cairns (1917)
Quentin Tarantino (Era uma vez… em Hollywood)
Bong Joon-ho (Parasitas)
Quem deve ganhar: Quentin Tarantino
Quem também pode ganhar: Bong Joon-ho
Esta é uma categoria complicada. Joon-ho ganhou nos BAFTA, mas Tarantino tem a vantagem de ter saído por cima nos Globos e nos Critics' Choice Awards. E pode ser mais uma jogo de compensações. Caso 1917 vença na categoria de Melhor Filme, talvez este prémio possa ir para o sul-coreano. De qualquer das maneiras, é entre estes dois, apesar de ter gostado bastante do guião de Rian Johnson e de achar que é Tarantino escreveu um dos seus melhores argumentos da carreira.
Melhor Argumento Adaptado
Steven Zaillian (O Irlandês)
Greta Gerwig (Mulherzinhas)
Taika Waititi (Jojo Rabbit)
Anthony McCarten (Dois Papas)
Todd Phillips & Scott Silver (Joker)
É a tal coisa. A falta de mulher de mulheres na categoria de realização pode dar aqui um "prémio de consolação" a Greta Gerwig. Só que, na verdade, não é bem consolação. É só uma das melhores adaptações do ano. Mas, como estamos nos Óscares, há que dizer que Zaillian e Waititi também estão na corrida. Noutro mundo paralelo, Gerwig.
Melhor Filme de Animação
Como Treinares o Teu Dragão: o Mundo Secreto
J’ai Perdu Mon Corps (I Lost My Body)
Toy Story 4
Klaus
Mr. Link
Quem deve de ganhar: Toy Story 4
Quem poderá ganhar: Klaus
Com todo o historial que existe nos Óscares desde 1995, é difícil de ir contra a Pixar nesta categoria. Ainda assim, mesmo com todo o carinho pelo Woody (e do Toy Story 4), aquele que me encheu realmente as medidas foi o filme francês I Lost My Body (disponível na Netflix e que conta com o apoio de Phil Lord e Chris Miller (responsáveis por "Spider-Man: Into the Spider-Verse").
E custa-me um bocado porque Klaus tem mão portuguesa e venceu os Óscares de animação (os Annie). E a Pixar é a Pixar. Mas há qualquer coisa no "filme da mão" que me puxou. Não é que o desenho seja propriamente espetacular ou seja um pedaço de história que nunca tenha visto, mas a banda sonora e a personagem principal têm algo trágico e real que me fez ter uma conexão absurda qualquer.
Melhor Fotografia
Rodrigo Prieto (O Irlandês)
Lawrence Sher (Joker)
Jarin Blaschke (O Farol)
Roger Deakins (1917)
Robert Richardson (Era uma vez… em Hollywood)
Quem deve de ganhar: Roger Deakins
Quem poderá ganhar: Lawrence Sher ou Robert Richardson
Robert Richardson fez um trabalho notável para climatizar o ambiente de Los Angeles de 1969. Mas Lawrence Sher é o principal responsável por gostar tanto de como o filme de Todd Phillips acabou por ser ficar e ser tão agradável ao olho. Sher, de resto, parece ser um daqueles tipos incrivelmente talentosos com quem se ia beber um copo depois do trabalho (é só ver o vídeo que fez para Vanity Fair a falar sobre a cor no cinema).
Só que Roger Deakins (Blade Runner: 2047) é o homem que tem de levar a estatueta. E não só "tem que a levar" como as casas de apostas ditam que deve começar por preparar o seu discurso de agradecimento. O trabalho e desenvolvimento que fez com Sam Mendes merece. Se 1917 um banquete visual, Deakins é o seu arquitecto — ou chef, para mantermos a analogia.
Melhor Banda Sonora
Hildur Guðnadóttir (Joker)
Alexandre Desplat (Mulherzinhas)
Randy Newman (Marriage Story)
Thomas Newman (1917)
John Williams (Star Wars: A Ascensão de Skywalker)
Quem deve de ganhar: Hildur Guðnadóttir (Joker)
Quem poderá ganhar: Thomas Newman (1917)
A islandesa Guðnadóttir — de apenas 37 anos… — não só é responsável pela banda sonora de Joker, como também meteu o dedo (e violoncelo) em Chernobyl (e limpou Emmy e Grammy) em 2019. E é a primeira mulher compositora a ganhar, no mesmo ano, os Globos de Ouro e os BAFTA. Se tudo correr como esperado, vai ganhar também o Óscar. Não obstante, segundo Todd Phillips, compôs a banda sonora que lhe valeu a nomeação através de duas meras páginas do guião que este lhe escreveu. Ou seja, Joaquin Phoenix é extraordinário, mas Guðnadóttir compôs a música sem ver uma única imagem e soube tirar das palavras todas a melancolia esquizofrénica para o papel principal. Phoenix agradeceu porque Phillips colocava a trilha sonora durante as filmagens para criar o "ambiente" certo ao ator.
Por outro lado, a banda de sonora de Thomas Newman é um trabalho que faz cair a lágrima no canto do olho. Aliás,1917, em toda honestidade, parece ter três ou quatro bandas sonoras originais. Senti a intensidade, ansiedade, tristeza, fé, alívio. E num filme que vive tanto da imagem como este, a banda sonora desempenha um papel importantíssimo. Além disso, Newman, que até começou por trabalhar no mesmo estúdio do pai (ele próprio um compositor de cinema), já conta com 13 nomeações para os Óscares e nunca ganhou nada. Por acompanhar tudo o que escreveu/compôs desde que fez Beleza Americana em 1999, sou obrigado confessar um pouco de tristeza por não achar que ainda não vai ser desta. Mas é o que é e Guðnadóttir tem de sair vitoriosa. Fim de história.
Eu sei que há John Williams e Desplat. Mas tanto um como outro já devem estar cansados de ver o seu nome na listas de nomeados. Especialmente quando já tiveram outros trabalhos BEM merecedores. Enfim. Julgo que nos últimos anos os membros da academia nem ouvem nada e vão simplesmente ao IMdB Pro ver se o Desplat tem qualquer coisa na calha e metem o nome do homem — em sua defesa parece escolher de forma criteriosa com quem trabalha e por isso merece crédito, mas… 11 (tem mais de 250 na carreira em todos os prémios) nomeações para os Óscares desde 2007?
Melhores Efeitos Visuais
Vingadores: Endgame
O Irlandês
Rei Leão
1917
Star Wars: A Ascensão de Skywalker
Quem deve de ganhar: Rei Leão
Quem poderá ganhar: 1917
Star Wars. É um filme visualmente bonito. Vingadores: EndGame, é outro caso semelhante. Ainda assim, creio que 1917 está uns furos acima. Nem que seja porque os outros casos, apesar do CGI bonito e bem feito, não deixam de parecer algo que já vi. Não vi algo "inovador". Também me posso estar a queixar porque a Marvel me habituou mal desde que lançou o primeiro Homem de Ferro, mas é o que é. (O mesmo se aplica à última trilogia de Star Wars.)
O Rei Leão, por outro lado, credo. Se o filme é uma cópia demasiado insípida do original sem conseguir qualquer encanto como fez o primeiro, visualmente, diga-se, é só das melhores coisas em que já pus os olhos em cima. Se me esquecer de que já conheço a história de Simba e companhia, é de ficar de queixo aberto durante quase toda a sua duração. Se é para premiar o cabaz visual, que se faça de sua justiça.
Sei que foram gastos muitos milhões, sei que Scorsese esperou muito até ter a tecnologia disponível, mas o andar de Robert de Niro pareceu-me sempre esquisito e pouco "jovem" nas cenas em que foi "rejuvenescido".
Melhor Filme Internacional
Corpus Christi - A Redenção (Polónia)
Dor e Glória (Espanha)
Honeyland (Macedónia)
Os Miseráveis (França)
Parasitas (Coreia do Sul)
Quem deve ganhar: Parasitas
Quem também pode ganhar: Dor e Glória
Vai depender de muita coisa e de muito jogo de xadrez. Por um lado, Dor e Glória não menos é do que um dos melhores filmes de Almodóvar nos últimos anos. E não só o é, como Banderas iguala o seu homólogo cineasta. Agora, há a eterna questão destas andanças: a Academia costuma por norma ignorar os filmes cuja legendagem é necessária, mas este ano Parasitas tem tido tanta atenção mediática que me custa a crer que até mesmo o maior calão dos membros tenha falhado o seu visionamento. Por isso, acho que deve ganhar o filme de Bong Joon Ho. Se não, Almodódar pode levar uma estatueta para fazer companhia ao que ganhou com Fala com Ela (2002).
Melhor Documentário
Democracia em Vertigem
Honeyland
Para Sama
The Cave
Uma Fábrica Americana
Quem deve ganhar: Uma Fábrica Americana
Quem pode ganhar: Para Sama
Penso que Uma Fábrica Americana teve uma fábrica de promoção que faz com que seja difícil haver um documentário mais favorito. É da Netflix, dos Obama, e envolve um "conflito" entre duas superpotências económicas (China vs EUA) e duas maneiras de estar e trabalhar.
Por outro lado, o documentário Para Sama, conta a história de uma mulher síria em Alepo que dá à luz em plena zona de guerra — daí o nome do documentário, que é também o da filha, a quem o dedica. Mostra uma realidade dura, demasiado cruel, demasiado real para ser verdade. Uma carta de amor no meio da guerra. E que também tem aqui uma oportunidade de ganhar um Óscar.
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