Elvas
«Elvas, dezembro de 1580
[Filipe] Distraiu-se com a paisagem. Admirou os olivais, os jardins de rosas que ainda floriam, e apreciou os quintais de árvores de fruta e de hortaliças, mas foi a imagem da vila de casas imaculadamente brancas, do campanário da Sé e da torre de menagem onde esvoaçava um estandarte com as armas de Portugal que mais o impressionou.
[...]
– Vossa Majestade, a Porta de Olivença – indicou-lhe o sobrinho Alberto de Áustria, que cavalgava ao seu lado.»
O QUE VER
- Porta de Olivença
Elvas é o primeiro lugar a receber D. Filipe e torna-se, durante alguns meses, não só a «capital» do reino, mas do império onde o Sol nunca se punha.
Situada a sul da muralha da cidade, foi pela Porta de Olivença que D. Filipe I entrou oficialmente, a cavalo, no seu novo reino, no dia 5 de dezembro de 1580. Vem de Badajoz ainda convalescente e viúvo de Ana de Áustria. Neste lugar estão unidos os alcaides, o povo da cidade, os nobres e os fidalgos castelhanos e portugueses para o receber. E para cobrar as promessas feitas em seu nome...
- Sé de Elvas
Este templo chamava-se Nossa Senhora da Praça. Em 1570, com a criação do bispado de Elvas, passará a ser a Sé de Elvas. Após entrar na cidade, o rei dirigiu-se para a Sé, onde foi recebido pelo bispo, juntando-se a uma procissão e ajoelhando-se perante uma cruz.
Durante a sua estada, esta será a capela real, a que terá acesso por uma porta lateral. A traça original é manuelina, obra de Francisco de Arruda, o arquiteto do avô D. Manuel, e onde a sua mãe, a imperatriz Isabel, terá ouvido missa antes de «passar» a Badajoz. Ironicamente, situa-se agora na Praça da República.
- Paço – Casas de Mesquita Pimentel
Largo Primeiro de Dezembro | 7350-058 Elvas
Enquanto permaneceu em Elvas, foi na casa que pertencia ao nobre Luís de Mesquita Pimentel que se alojou o rei. E sim, ainda existe, curiosa mente no Largo Primeiro de Dezembro, sinal da Restauração que poria fim ao governo dos Filipes, dando o trono ao neto de D. Catarina! Mas isso é muito depois. Neste momento celebramos a sorte de podermos imaginar melhor o rodopio de pessoas que vinham cobrar ao rei os favores prometidos pelos seus embaixadores.
Foi também aqui que o duque de Bragança e o filho, D. Teodósio, vieram prestar homenagem ao novo rei – mas a infanta D. Catarina não foi, era o que faltava!
- Castelo
Olhe para o ponto mais elevado da cidade e verá, claro, o castelo. Esta obra de fortificação islâmica era um importante ponto estratégico de defesa da fronteira nacional. Viu, por isso, muitos conflitos entre Portugal e Castela. Mas foi também palco de tratados de paz e de banquetes de casamentos reais.
Como aconteceu com todos os castelos, sobretudo os da raia, foi sendo reconstruído e ajustado às necessidades bélicas do momento, e o que vê agora é «obra» do século XVI, mas vai conseguir descobrir nele as partes mais antigas – no tempo de D. Filipe, seria possível ver bem daqui a muralha fernandina, com os seus vinte e dois torreões, e algumas das onze portas originais da cidade.
- Visite também
Pouco depois de D. Manuel tornar Elvas cidade, ergueram-se vários monumentos que ainda pode visitar. Entre eles, o Aqueduto da Amoreira, a Ponte da Ajuda, o Paço Episcopal, as Igrejas de São Martinho, de Nossa Senhora da Nazaré e de São Sebastião, e ainda os conventos das dominicanas, dos franciscanos e das clarissas.
Posto de Turismo de Elvas
Praça da República | 7350-126 Elvas
turismo@cm-elvas.pt
Mais informações do que pode visitar no site da Câmara Municipal de Elvas
Monsaraz
«Monsaraz, janeiro de 1581
Proíbo o duque de justificar com uma indisposição o facto de não os acompanhar a Elvas. Duvido que cumpra o prometido, mas pouco importa, o meu primo entenderá a mensagem que lhe envio: sou infanta de Portugal e se pretende conhecer-me terá de o solicitar formalmente e vir ele ao meu encontro. Não tenho pressa. Aliás, não tenho pressa nenhuma.
Recolhi-me em Monsaraz, procurando ares livres da peste, e deste bastião forjado na pedra sigo a comitiva do duque de Bragança e do duque de Barcelos, até os perder de vista.»
O QUE VER
- Monsaraz
A menos de uma hora de Vila Viçosa encontra Monsaraz, uma vila medieval linda, que pertencia à Casa de Bragança. Pode entrar pela Porta do Buraco, visitar a cisterna, sobretudo se estiver um dia de calor, e subir até ao terraço que recolhe a água, com um engenho que nos faz respeitar os nossos antepassados.
Siga para a igreja matriz, a Igreja de Nossa Senhora da Lagoa, cuja versão primitiva é do tempo de D. Dinis, reconstruída no tempo de D. João I e com o atual desenho datado do século XVI. Ao lado tem o Museu do Fresco, nos antigos paços do concelho, e delicie-se com o fresco do juiz bom e do juiz mau na sala do tribunal – estava lá no tempo da nossa infanta, que bem se terá revisto como vítima de uma justiça corrupta.
Passeie pelas ruas e escadinhas, ladeadas de casas caiadas de branco, tão bonitas, mas que descobri que só se tornaram brancas no século passado. E depois suba até ao castelo/alcáçova e à torre de menagem, pisando um dos lugares onde D. Catarina certamente esteve. Quando sair, visite o Centro Interativo da História Judaica, uma comunidade próspera em Monsaraz e que, discretamente, D. Catarina protegeu e pôs ao seu serviço, nomeadamente quando foi necessário resgatar o filho de África.
E de todos estes lugares deslumbre-se com a vista, sobretudo a do lado da albufeira de Alqueva – essa não estava lá, juro, mas o rio Guadiana sim. Sugestões de lugares para um vinho ou uma refeição ligeira: o Sahida, perto do castelo, com um pátio onde apetece ficar, e o Xarez, para o melhor pôr do Sol acompanhado de uma tábua de queijos e de um vinho da região.
Visite também a loja da Fabricaal – Fábrica Alentejana de Lanifícios, perto da Porta da Vila, na Rua do Celeiro, que continua o fabuloso trabalho de recuperação das mantas tradicionais começado por Mizette Nielsen.
Posto de Turismo de Monsaraz
Rua Direita, s/n | 7200-175 Monsaraz
turismo@cm-reguengos-monsaraz.pt
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