Pelas 18:00 de hoje, um pouco antes de apresentar a nova coleção Creative Resistance em homenagem a Amelia Earhart, a primeira mulher piloto a fazer um voo transatlântico, a ‘designer’ Susana Bettencourt disse acreditar que, no seu caso particular, a crise económica vivida no passado recente em Portugal está a ser ultrapassada, porque as multimarcas estão a comprar e a vender bem as suas criações.
“O que eu penso é que a crise fez com que nós aprendêssemos a fazer negócio de outra forma. As lojas neste momento estão a guardar o contacto das clientes e a fazer um atendimento mais personalizado e entendem que para conseguirmos ultrapassar esta crise, vamos ter de melhorar os nossos serviços”, explicou a ‘designer’, que terminou o desfile ao som de “People have the Power”, de Patti Smith.
Para a criadora, há uma grande a diferença nas vendas com o pós crise, porque houve lojas que anteriormente não estavam interessadas e estão neste momento a comprar.
“Ainda estamos a trabalhar com orçamentos muito apertados, ainda não abrimos os cordões à bolsa. No entanto, sinto grandes diferenças e, por isso, estou muito esperançosa do nosso futuro”, concluiu.
A criadora Carla Pontes, lançada na competição do Espaço Bloom e que apresentou hoje a nova coleção ‘Raw’, onde se destacam as misturas culturais árabes, africanas e asiáticas, com materiais mais naturais como o linho, algodão e malhas de algodão, considera que a sua marca está a crescer e a vender mais atualmente, mas atesta que a crise em Portugal só será ultrapassada se todos consumirmos mais produtos portugueses.
“Sinto que a crise está a ser ultrapassada, o consumidor português consome mais ‘design’ português e isso reflete-se nas vendas. Eu sempre tive uma consciência muito social na escolha dos materiais. Uso sempre materiais desenvolvidos em Portugal, produzidos em Portugal, muito porque eu acho que a nossa crise é ultrapassada se nós consumirmos também produtos portugueses”.
O ‘designer’ Estelita Mendonça, outro dos ‘graduados’ do Bloom, plataforma criada pelo Portugal Fashion para apoiar jovens emergentes, apresentou hoje a sua coleção primavera/verão 2018 onde se destaca o “grafismo”, a “ideia de felicidade”, “uma certa ironia e o “enjoy yourself” (diverte-te).
Questionada pela Lusa sobre se a crise foi ultrapassada, Estelita Mendonça afirmou que a crise não vai passar tão depressa.
“Acho que se as pessoas estão a achar que a crise passou estou um bocadinho enganadas. Acho que não passou nem vai passar tão cedo. Acho que existe uma ilusão de que a crise passou”, argumentou, comentando, todavia, que a sua forma de trabalhar mudou com a crise, designadamente na escolha de materiais.
O ‘designer’ Diogo Miranda, que apresentou hoje a coleção primavera/verão 2018, onde celebra uma “mulher sexy”, “feminista” e “poderosa”, e onde não faltaram vestidos, folhos, laços volumosos e decotes, também é da opinião que a crise no setor da moda em Portugal ainda se sente.
“A crise não está ultrapassada em Portugal, mas acaba por ser em todos os fatores, não é só na moda. Mesmo que não haja crise, as pessoas pensam e dizem que sempre que há”, considerou o ‘designer’, acrescentando que não existe cultura de moda em Portugal, pois “as pessoas preferem gastar 100 ou 150 euros numa loja de massas e trazerem dez peças, enquanto provavelmente, uma peça de criador custa esse valor e estão ajudar o país, estão a comprar produtos portugueses o que é uma mais-valia”.
Diogo Miranda assumiu que só com as vendas para o estrangeiro é que consegue manter-se no setor.
“Se me tivesse focado cá em Portugal nem sequer aqui estava”, confessa, explicando que a exportação aconteceu sem estar a contar mas que foi um fenómeno que ajudou a contornar a “crise nas vendas” em Portugal.
O segundo dia da 41.ª edição do Portugal Fashion no Porto, hoje com o quartel-general montado na Alfândega do Porto, ainda vai receber os desfiles de Hugo Costa, Anabela Baldaque e Miguel Vieira.
A 41.ª edição do Portugal Fashion termina este sábado com as propostas de Katty Xiomara, Luís Buchinho ou Alexandra Moura, entre outros.
Em 2016, o volume de negócios do setor do têxtil e do vestuário registado em Portugal foi de sete mil milhões de euros e as exportações cifraram-se em cinco mil milhões de euros, segundo dados sendo que desse volume de negócios cinco mil milhões, segundo dados disponíveis na página oficial da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal.
As exportações do têxtil e o calçado representam 10% do total nacional e contribuem com 20% do emprego da indústria transformadora, 9% da produção e 8% do volume de negócios da indústria transformadora, indicam dados fornecidos pela Associação Têxtil e Vestuário de Portugal.
Comentários