Cutscene1
Depois de ter vencido a competição de Halliday, mantive-me offline durante nove dias seguidos — um novo recorde pessoal.
Quando finalmente voltei a ligar-me à minha conta do OASIS, estava sentado no meu novo escritório de canto no piso superior do arranha-céus da GSS na baixa de Columbus, no Ohio, preparado para desempenhar as minhas funções como um dos novos proprietários da empresa. Os outros três ainda estavam espalhados pelo globo: o Shoto regressara ao Japão, onde assumiu a gestão da filial da GSS em Hokkaido. A Aech ainda estava a aproveitar as férias prolongadas no Senegal, um país que toda a vida quisera visitar porque os seus antepassados eram de lá. E a Samantha regressara a Vancouver para fazer as malas e despedir-se da avó, Evelyn. Só regressaria a Columbus dali a quatro dias, o que me parecia uma eternidade. Tive de me distrair até nos voltarmos a ver, por isso decidi entrar no OASIS e testar mais alguns poderes de superutilizador que o meu avatar agora tinha.
Entrei na minha plataforma de imersão no OASIS, topo de gama e novinha em folha, uma Habashaw OIR-9400, depois coloquei a viseira e calcei as luvas hápticas, dando início à sequência de acesso. O meu avatar reapareceu no local onde me desligara pela última vez, no planeta Chthonia, à saída dos portões do Castelo Anorak. Como seria de esperar, já lá estavam reunidos milhares de avatares, todos pacientemente à espera que eu aparecesse. Segundo os boletins noticiosos, alguns deles tinham passado a semana aqui acampados — desde que eu os ressuscitara no rescaldo da nossa batalha épica contra os Seizes.
O meu primeiro ato oficial como um dos novos proprietários da GSS, poucas horas depois de a batalha ter acabado, foi autorizar os nossos administradores a restaurar todos os itens, créditos e níveis de poder que aqueles utilizadores heroicos tinham perdido, bem como os seus avatares. Pareceu-me o mínimo que podíamos fazer para lhes agradecer a ajuda que nos deram. E a Samantha, o Aech e o Shoto concordaram comigo. Foi a primeira decisão que votámos na nossa qualidade de novos proprietários da empresa.
Assim que fui visto pelos avatares que estavam mais próximos, começaram todos a correr na minha direção, rodeando-me por todos os lados ao mesmo tempo. Para não me arriscar a ficar soterrado, teletransportei-me para o interior do castelo, para dentro do escritório do Anorak — uma divisão na torre mais alta, onde só eu podia entrar, graças às Vestes de Anorak, que eu agora envergava. O traje negro como obsidiana dava ao meu avatar os poderes divinos que o avatar do próprio Halliday antes possuía.
Olhei em redor do escritório atulhado. Neste local, há pouco mais de uma semana, o Anorak declarara-me o vencedor da competição de Halliday e mudara a minha vida para sempre.
O meu olhar incidiu sobre um quadro com um dragão preto que estava pendurado na parede. Por baixo desse quadro, havia um pedestal de cristal ornamentado sobre o qual estava pousado um cálice com joias incrustadas. Aninhado no interior do cálice, encontrava-se o objeto que eu passara tantos anos a procurar: o ovo de Páscoa prateado de Halliday.
Aproximei-me dele para admirá-lo e foi então que reparei numa coisa estranha: uma inscrição na superfície do ovo que, fora isso, era imaculada. Uma inscrição que, de certeza absoluta, não estava lá quando eu o vira pela última vez, nove dias antes.
Mais nenhum avatar conseguia entrar nesta divisão. Ninguém teria conseguido mexer no ovo. Portanto, só havia uma explicação possível para a inscrição ter lá aparecido. O próprio Halliday devia tê-la programado para aparecer na superfície do ovo. Podia ter aparecido no momento em que o Anorak me dera as suas vestes e eu estava demasiado distraído para reparar.
Curvei-me para ler a inscrição: «GSS — 13.º Piso — Cofre n.º 42-8675309.»
Comecei a ouvir o coração a pulsar nos ouvidos, desliguei-me imediatamente do OASIS e saí da plataforma com alguma atrapalhação. Depois, saí do meu novo gabinete a correr, fiz um sprint pelo corredor e entrei no primeiro elevador que apareceu. A meia dúzia de funcionários da GSS que se encontrava no interior evitou olhar-me nos olhos. Imaginei o que estariam a pensar: Ora aqui está o vosso novo patrão, tão estranho quanto o antigo.
Acenei-lhes educadamente com a cabeça e pressionei o botão «13». Segundo a lista de endereços no meu telemóvel, o décimo terceiro piso era onde se situavam os arquivos da GSS. É claro que o Halliday os teria colocado ali. Num dos seus programas televisivos preferidos, Max Headroom, o laboratório secreto de investigação e desenvolvimento da Network 23 situava-se no décimo terceiro piso. E O 13.º Andar era também o título de um velho filme de ficção científica sobre realidade virtual, lançado em 1999, na peugada de Matrix e eXistenZ.
Quando saí do elevador, os guardas armados que asseguravam a segurança do edifício puseram-se em sentido. Como mera formalidade, um deles scaneou as minhas retinas para verificar a minha identidade, antes de me conduzir para lá do posto da segurança, fazendo-me atravessar as portas blindadas que iam dar a um labirinto de corredores bem iluminados. Finalmente, chegámos a uma grande divisão, cujas paredes continham dezenas de portas numeradas que pareciam caixas-fortes enormes, cada uma com um número gravado.
Agradeci ao guarda e disse-lhe que se podia ir embora, enquanto me pus a analisar as portas. Lá estava ela: a número 42. Mais uma das piadas do Halliday — segundo um dos seus romances preferidos, À Boleia pela Galáxia, o número 42 era a «Derradeira Resposta à Vida, ao Universo, a Tudo».
Fiquei ali especado durante alguns segundos, durante os quais tive de me lembrar de respirar. Depois, introduzi no painel que se encontrava ao lado da porta do cofre a combinação de sete dígitos inscrita no ovo: 8-6-7-5-3-0-9, uma combinação que nenhum gunter que se prezasse teria qualquer dificuldade em recordar. Jenny, tenho o teu número. Tens de ser minha…2.
A fechadura abriu-se com um ruído surdo e a porta escancarou-se, revelando o interior cúbico do cofre, onde estava um grande ovo prateado. Tinha um aspeto idêntico ao ovo virtual que se encontrava em exibição no escritório do Anorak, só que este não tinha qualquer inscrição na sua superfície.
Enxuguei as palmas das mãos transpiradas nas minhas coxas — não queria, de maneira nenhuma, deixar aquilo cair ao chão — e retirei o ovo, colocando-o depois sobre a mesa de aço que se encontrava no meio da sala. A parte de baixo do ovo tinha um peso, pelo que ele balouçou ligeiramente antes de ficar muito direito — como um -sempre-em-pé Weeble. («Os Weebles balouçam, mas não caem.») Quando me aproximei para o ver melhor, vi um pequeno scanner oval junto à parte de cima, na superfície curva. Quando encostei lá o meu polegar, o ovo dividiu-se e abriu-se ao meio.
Lá dentro, aconchegados em veludo, encontravam-se uma espécie de auscultadores.
Tirei-os para fora e revirei-os nas mãos. Tinham uma zona central segmentada que parecia estender-se desde a zona da testa do utilizador até à nuca, às quais se ligava uma fila de dez bandas de metal com o formato de meia-lua. Cada banda era composta por segmentos articulados e retráteis, e cada segmento tinha uma fila de sensores circulares na parte de dentro. Estes elementos faziam com que a série de sensores fosse ajustável de modo a poder adaptar-se a cabeças de todos os tamanhos e feitios. Um comprido cabo de fibra ótica saía da base dos auscultadores e terminava numa ficha standard de entrada numa consola OASIS.
O meu coração, que momentos antes batia descompassado contra as costelas, parecia-me agora ter parado. Isto devia ser algum tipo de periférico do OASIS — algo totalmente diferente de tudo o que eu vira até então, anos-luz mais avançado.
Um curto bip eletrónico emanou do ovo e voltei a olhar para ele. Uma luzinha vermelha passou-me em frente aos olhos quando um minúsculo scanner de retina verificou a minha identidade pela segunda vez. Depois, um pequeno monitor de vídeo integrado na tampa aberta do ovo ligou-se e surgiu o logótipo da GSS durante alguns segundos, antes de ser substituído pela face enrugada do James Donovan -Halliday. A julgar pelo seu rosto e pelos traços emaciados, gravara este vídeo pouco antes de morrer. No entanto, apesar da sua condição, não usara o avatar do OASIS para gravar a mensagem, como fizera com o Convite do Anorak. Por alguma razão, escolhera aparecer de carne e osso desta vez, à luz brutal e implacável da realidade.
— O aparelho que agora tens na mão é uma Interface Neuronal OASIS, ou ONI. — Ele pronunciou «ó-éne-i». — É a primeira interface cérebro/computador não invasiva, totalmente funcional, alguma vez produzida em todo o mundo. Possibilita a qualquer utilizador do OASIS ver, ouvir, cheirar, provar e sentir o ambiente virtual em que o seu avatar se encontra, através de sinais transmitidos diretamente para o seu córtex cerebral. A bateria de sensores dos auscultadores também monitoriza e interpreta a atividade cerebral do utilizador, o que lhe permite controlar o seu avatar no OASIS tal como controla o seu corpo físico… simplesmente com o pensamento.
— Estás a gozar — ouvi-me sussurrar.
— E isto é só o início — disse o Halliday, como se me tivesse ouvido. — Os auscultadores ONI também podem ser utilizados para registar as experiências do utilizador no mundo real. Todos os dados sensoriais recebidos pelo cérebro do utilizador são digitalizados e guardados num ficheiro .oni («ponto-ó-éne-i») num disco externo ligado aos auscultadores. Assim que esse ficheiro é carregado no OASIS, essa experiência pode ser reproduzida na totalidade e pode voltar a ser expe-rienciada pela pessoa que a viveu ou por qualquer outro utilizador da ONI com quem essa pessoa queira partilhar o ficheiro.
O Halliday esboçou um sorriso breve.
— Por outras palavras, a ONI permite reviver momentos das vidas de outras pessoas. Podes ver o mundo através dos seus olhos, ouvi-lo através dos seus ouvidos, cheirá-lo através do seu nariz, prová-lo com a sua língua e senti-lo através da sua pele. — O Halliday fez um aceno de cabeça neutro. — A ONI é a ferramenta comunicativa mais potente que os seres humanos alguma vez inventaram. E acho que será provavelmente a última que teremos de inventar. — Ele bateu ao de leve no centro da testa. — Agora podemos simplesmente ligar-nos à cachola.
Ouvi as palavras dele, mas não as consegui processar. Estaria o Halliday a falar a sério? Ou estaria ele delirante quando fez esta gravação, tendo perdido a noção da realidade à medida que a sua doença avançava e entrava na fase final? A tecnologia que estava a descrever ainda era matéria da ficção científica. Era verdade que milhões de pessoas com deficiências físicas usavam interfaces cérebro/computador todos os dias para ver, ouvir ou mover membros paralisados. Mas estes milagres médicos ainda obrigavam a que se abrisse um buraco no crânio do paciente para enfiar implantes e elétrodos diretamente no cérebro.
O conceito de auscultadores que funcionassem como interface cérebro/computador e que nos permitissem gravar, reproduzir e/ou simular toda a experiência sensorial de um ser humano aparecia numa série de romances, séries televisivas e filmes de ficção científica de que o Halliday tanto gostava. Por exemplo, a simstim — a tecnologia ficcional de estimulação simulada que o William Gibson idealizou no romance Neuromante. E uma tecnologia parecida que gravava experiências também surgira em dois dos filmes preferidos do Halliday, Brainstorm e Estranhos Prazeres…
Se a ONI conseguia mesmo fazer tudo o que o Halliday dissera, então, mais uma vez, ele fizera o impossível. Só com a sua força de vontade e com a sua inteligência, transformara novamente a ficção científica em ciência real, sem ter em conta as possíveis consequências no longo prazo.
Também me questionei sobre o nome que o Halliday escolhera para a sua invenção. Eu já vira animés suficientes para saber que oni também era uma palavra japonesa que designava um demónio gigante com cornos vindo das profundezas dos infernos.
— O software e a documentação da ONI já foram enviados por e-mail para a tua conta privada do OASIS — continuou o Halliday. — Juntamente com os planos completos dos auscultadores e os ficheiros para impressora 3D necessários para fabricares mais.
O Halliday fez uma pausa e olhou fixamente para a câmara antes de continuar.
— Depois de testares a ONI, julgo que vais perceber, tal como eu percebi, que esta invenção pode alterar drasticamente a natureza da existência humana. Creio que pode vir a ajudar a humanidade. Mas também pode piorar tudo. Acho que vai depender do momento. É por isso que estou a deixar o seu destino nas tuas mãos, já que és o meu herdeiro. Tens de decidir quando, ou se, o mundo estará preparado para esta tecnologia.
O seu corpo frágil foi sacudido por um ataque de tosse. Depois, ele respirou fundo com dificuldade e falou pela última vez.
— Demora o tempo que precisares para decidir — disse ele. — E não deixes que ninguém te apresse. Assim que se abrir a caixa de Pandora, não há como fechá-la outra vez. Por isso… toma uma decisão sensata.
Ele despediu-se, acenando para a câmara com pouca energia. Em seguida, a gravação terminou e surgiu a mensagem FICHEIRO DE VÍDEO APAGADO no monitor no instante antes de se desligar.
Fiquei ali sentado muito tempo. Seria tudo isto uma piada de mau gosto póstuma? Porque a alternativa não parecia fazer qualquer sentido. Se a ONI podia mesmo fazer tudo o que ele dissera que fazia, então seria efetivamente a ferramenta de comunicação mais potente que alguma vez fora inventada. Porque teria ele guardado segredo? Porque não teria patenteado a invenção para lançá-la em todo o mundo?
Olhei novamente para os auscultadores que tinha nas mãos. Haviam passado os últimos oito anos trancados neste cofre, pacientemente à espera que eu os encontrasse. E agora que os encontrara, só me restava uma coisa a fazer.
Voltei a guardar os auscultadores dentro do ovo, depois dei meia-volta e levei-o comigo quando saí dos arquivos, tencionando caminhar calmamente, com passos dignos, até ao elevador. Mas o meu autocontrolo evaporou-se em poucos segundos e comecei a correr o mais depressa que as minhas pernas me permitiam.
Os funcionários que fui encontrando pelo caminho enquanto me dirigia ao piso superior viram o patrão, de olhos tresloucados, a correr pelos respeitosos corredores da Gregarious Simulation Systems, agarrado a um ovo prateado gigante.
De regresso ao meu gabinete, tranquei a porta, desci as persianas e sentei-me em frente ao computador para ler a documentação relativa à ONI que o Halliday me enviara.
Fiquei muito satisfeito por não ter a Samantha ao lado naquele momento. Não queria dar-lhe a oportunidade de me convencer a não testar a ONI porque temia que ela me tentasse demover e, se o fizesse, seria bem-sucedida. (Recentemente, descobrira que, quando estamos perdidamente apaixonados por alguém, essa pessoa consegue convencer-nos a fazer praticamente tudo.)
Não havia qualquer hipótese de eu abdicar de uma oportunidade histórica como esta. Teria sido como abdicar da possibilidade de ser a primeira pessoa a caminhar na Lua. Além disso, não tinha receio de que a ONI fosse perigosa. Se utilizar os auscultadores fosse potencialmente prejudicial, o Halliday ter-me-ia avisado. Afinal, eu acabara de vencer a competição e tornara-me o seu único herdeiro. Ele não haveria de querer que me acontecesse alguma coisa de mal.
Fui repetindo estas palavras a mim próprio enquanto ligava os auscultadores ONI à minha consola OASIS e os colocava cuidadosamente na cabeça. As bandas telescópicas retraíram-se automaticamente, encostando com firmeza a bateria de sensores e transmissores aos contornos únicos do meu crânio. Depois, os encaixes metálicos apertaram-se e todo o dispositivo, que parecia uma aranha, trancou-se em redor da minha cabeça para que os sensores não se movessem nem se separassem enquanto o aparelho estivesse ligado ao meu cérebro. Segundo a documentação que acompanhava a ONI, remover os auscultadores à força enquanto estivessem em utilização podia causar lesões profundas no cérebro do utilizador e/ou deixá-lo num coma permanente. Portanto, as bandas de segurança reforçadas com titânio serviam para que isso não acontecesse. Este pequeno pormenor pareceu-me tranquilizador em vez de perturbador. Andar de automóvel também era perigoso se não usássemos um cinto de segurança…
A documentação relativa à ONI também salientava que uma falha de energia súbita podia provocar lesões no cérebro do utilizador, razão pela qual dispunha de uma bateria interna de reserva que alimentava o dispositivo o tempo suficiente para completar uma sequência de logout de emergência e acordar com segurança o utilizador do estado de sono induzido artificialmente pelo aparelho enquanto estava em utilização.
Portanto, eu não tinha nada com que me preocupar. Absolutamente nada. Apenas tinha uma aranha de metal gigante firmemente agarrada ao meu crânio, prestes a ligar-se ao meu cérebro.
Deitei-me no sofá de veludo azul que havia num canto do meu gabinete e certifiquei-me de que o meu corpo ficava numa posição confortável para adormecer, tal como dizia nas instruções. Depois, inspirei fundo e liguei tudo.
Senti um ligeiro formigueiro no couro cabeludo. Pelo que lera na documentação da ONI, sabia que os auscultadores estavam a scanear o meu cérebro para mapear a sua geografia singular. O resultado ficaria guardado na minha conta e seria utilizado para verificar a minha identidade no futuro em vez de ser feito um scan de retina. Uma voz feminina sintetizada pediu-me que dissesse a minha expressão-passe. Recitei-a lentamente, tendo o cuidado de pronunciar bem cada palavra: Everybody wants to rule the world.
Após a verificação, um ecrã minúsculo de realidade aumentada desceu pela parte da frente dos auscultadores e deteve-se em frente ao meu olho esquerdo, como se fosse um monóculo. Apareceram vários parágrafos de texto, que ficaram a flutuar no ar à minha frente, sobrepostos no centro do meu campo de visão:
Aviso! Por razões de segurança, os auscultadores da Interface Neuronal OASIS só podem ser usados durante um máximo de doze horas consecutivas. Quando este limite for alcançado, será automaticamente desligado da sua conta e não poderá utilizar os seus auscultadores ONI até terem decorrido doze horas sem utilização. Durante este tempo de pausa obrigatório, continuará a ter acesso ao OASIS utilizando um equipamento de imersão convencional. Manipular ou desativar as salvaguardas de segurança incorporadas nos auscultadores ONI para exceder os limites de utilização diária pode desencadear uma Síndrome de Sobrecarga Sináptica e lesões permanentes no tecido neuronal. A Gregarious Simulation Systems não poderá ser responsabilizada por quaisquer danos provocados pela utilização inadequada da Interface Neuronal OASIS.
Tinha visto este aviso de segurança na documentação dos auscultadores, mas surpreendeu-me que o Halliday o tivesse incluído na sequência de acesso. Tudo fazia indicar que ele já tratara de todos os preparativos necessários para lançar a ONI no mercado há oito anos. Mas não o chegara a fazer. Pelo contrário, levara o segredo da existência da ONI consigo para a sepultura. E agora eu herdara esse segredo.
Reli o aviso algumas vezes, tentando ganhar coragem. A parte acerca das lesões cerebrais permanentes era perturbadora, mas eu já estava habituado a ser usado como cobaia. Segundo a documentação da ONI, a GSS já levara a cabo uma série de testes de segurança independentes em seres humanos com os auscultadores ONI há mais de uma década, e todos os resultados haviam mostrado que a sua utilização era totalmente segura, desde que o utilizador respeitasse o limite de utilização diária das doze horas. Além disso, as características de segurança incorporadas no firmware dos auscultadores garantiam que esse limite não seria ultrapassado. Portanto, recordei-me novamente que não tinha absolutamente nada com que me preocupar…
Estiquei a mão e toquei no botão «Aceito» por debaixo do aviso de segurança. O sistema concluiu a sequência de ligação e um texto piscou no centro do meu campo de visão:
Identidade validada com sucesso.
Bem-vindo ao OASIS, Parzival!
Acesso concluído: 11:07:18 OST-25.01.2046
O registo da hora foi sendo substituído por uma mensagem brevíssima, apenas uma palavra e um número, que seria a última coisa que eu veria antes de sair do mundo real e entrar no virtual.
Porém, a palavra e o número que surgiram não foram aqueles que eu estava habituado a ver. Tal como todos os utilizadores da ONI que viessem a existir, fui recebido por uma nova mensagem que o Halliday criara para receber os visitantes que tivessem adotado esta nova tecnologia:
JOGADOR 2
1Cutscene é uma interrupção narrativa num videojogo, composta por uma sequência de imagens com o caráter de uma filmagem cinematográfica, na qual o jogador não tem o domínio da ação. É geralmente usada para narrar acontecimentos e fazer avançar a ação. (NT)
2No original, «Jenny, I’ve got your number. I need to make you mine…», versos da canção «867-5309/Jenny», interpretada pelos Tommy Tutone. (NT)
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