Bob Dylan compôs o tema com Jacques Levy em 1975, o ano da proclamação da independência de Moçambique, e, quando foi lançado no álbum “Desire” e também como “single”, em 1976, gerou discussão por ser uma letra de um cantor de intervenção que trata o país com alguma ligeireza, ao fim de uma década de luta armada contra o colonialismo português.

Quarenta anos depois, Aurélio Le Bon, um dos mais conhecidos empresários de espetáculos de Moçambique, considera que o tema do novo Nobel da Literatura deve ser um motivo de orgulho para os moçambicanos, mas o escritor Mia Couto acha justamente o contrário.

“Não é uma grande letra, tem uma relação de quem está apenas de passagem turística por Moçambique e não me parece que deva haver grande orgulho nisso”, assinalou à Lusa Mia Couto, que se escusou a comentar a controversa nomeação do Nobel da Literatura deste ano.

O romancista e poeta, vencedor do Prémio Camões em 2013, recorda-se de a canção ter circulado em Moçambique em 1976, mas de forma discreta, e que só agora, com a atribuição do Nobel, há mais moçambicanos a procurar o tema, que “tem uma harmonia bonita apesar da letra superficial”.

Há quatro décadas, Bob Dylan escreveu que “gosta de passar algum tempo em Moçambique”, embora seja duvidoso que alguma vez tenha visitado um país onde “o céu ensolarado é azul-água” e todos os casais dançam encostados, há mulheres bonitas, muito tempo para o romance e, na única referência que pode ser claramente interpretada como política, habitado por “pessoas adoráveis que vivem livres”.

Quando foi lançado como “single”, “Mozambique” atingiu o 54.º lugar do top Billboard Hot 100, dando popularidade a um país que acabava de conquistar a sua independência, mas que, logo a seguir, foi devastado por uma guerra civil, que durou 16 anos e custou as vidas de cerca de um milhão de pessoas.

Ao contrário de Mia Couto, Aurélio Le Bon defende que o Nobel da Literatura atribuído a Bob Dylan deve,” sem dúvida, ser motivo de orgulho” para Moçambique.

“Quando poucos no mundo sabiam que há uma terra chamada Moçambique, já Dylan falava dos encantos deste país”, disse à Lusa o promotor de espetáculos, que em 1989 trouxe a Maputo Eric Clapton para um memorável concerto na capital moçambicana.

Numa altura em que Moçambique tem sido notícia no mundo por escândalos financeiros e insegurança, assinalou o empresário, ter o nome do Nobel da Literatura associado ao país ajuda a elevar a autoestima.

“Moçambique nunca foi só país de aspetos negativos, mas a ligação a uma estrela como Bob Dylan reforça essa imagem de um país hospitaleiro e aprazível”, considerou Aurélio Le Bon.

O empresário lembra que quando “Mozambique” saiu em 1976, os amantes de música, principalmente nas principais cidades moçambicanas, deram conta do interesse de Bob Dylan pelo país e isso ajudou a galvanizar a cena musical local ligada ao género do artista norte-americano.

“O que gostaria mesmo que acontecesse era que o Dylan viesse tocar cá, para concretizar de forma física essa ligação afetiva, porque nunca veio cá”, enfatizou Aurélio Le Bon, numa alusão à ideia generalizada de que o autor nunca esteve no país, embora tenha escrito “Mozambique” motivado por razões igualmente incertas.

Segundo a Academia Sueca, Dylan, de 75 anos, venceu o Prémio Nobel da Literatura de 2016 por “ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição da canção norte-americana”.

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