Num artigo de opinião, intitulado “Se acreditas em Diretos Humanos, Madonna, não atues em Telavive”, publicado hoje no jornal britânico The Guardian, o músico exorta “todos os jovens concorrentes — na verdade todos os jovens, na verdade todas as pessoas jovens e velhas, e isso inclui Madonna — a lerem a Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU)”, lembrando que esta “foi traduzida em 500 línguas, para que qualquer pessoa possa conhecer os seus 30 artigos”.

A 08 de abril, a estação pública israelita, que coorganiza este ano o Festival Eurovisão da Canção, confirmou que Madonna vai atuar na final do concurso, marcada para 18 de maio, em Telavive.

Para Roger Waters, o facto de Madonna ter aceitado o convite para atuar em Telavive, na final do concurso, “levanta, mais uma vez, questões éticas e políticas fundamentalmente importantes para todos e cada um ponderar”.

O músico considera que “atuar em Israel é um concerto lucrativo, mas fazê-lo serve para normalizar a ocupação, o ‘apartheid’, a limpeza étnica, o aprisionamento de crianças, o abate de manifestantes desarmados… todas essas coisas más”, sublinhando que é “treta” quando alguns músicos que atuaram recentemente em Israel dizem que o fazem “para construir pontes e promover a causa da paz”.

Roger Waters defende que, “até o governo israelita reconhecer o direito dos palestinianos a autodeterminação, os artistas devem manter-se longe”.

Este não é o primeiro apelo que o músico britânico faz relacionado com a edição deste ano do Festival Eurovisão da Canção.

Em março, Roger Waters dirigiu uma carta aberta ao representante português no concurso, Conan Osiris, e aos outros finalistas, na qual revelava que tinha escrito “há alguns dias”, uma carta particular ao “jovem e talentoso cantor português”.

Roger Waters considera que, entre os finalistas da Eurovisão, o representante português é aquele que tem “amor suficiente no coração para se erguer e fazer a diferença”, ao “defender o lado certo da história”, bastando-lhe, para isso, “fazer a coisa certa” e ser “o tal”.

Até hoje, Conan Osiris não respondeu ao apelo de Roger Waters. Numa entrevista a um canal de televisão israelita, quando questionado sobre se era verdade que Roger Waters lhe tinha enviado uma carta Conan Osiris respondeu: “Bem, é o que se vê”. De acordo com o regulamento do concurso, os concorrentes não podem tomar posições políticas, correndo o risco de serem desclassificados.

No início de março, já o Comité de Solidariedade com a Palestina, o SOS Racismo e as Panteras Rosa tinham apelado a Conan Osiris para não ir a Telavive representar Portugal, em solidariedade com artistas palestinianos.

O artigo de opinião do músico britânico publicado hoje surgiu um dia depois de terem sido tornadas públicas duas cartas abertas: uma de artistas palestinianos de várias áreas a apelar aos concorrentes do Festival Eurovisão da Canção deste ano para que se retirem do concurso, e uma outra subscrita por “artistas, músicos, realizadores e autores” israelitas, na qual é feita o mesmo apelo.

“Nós cantores, compositores, bailarinos, músicos e outros artistas palestinianos apelamos a todos os concorrentes do Festival Eurovisão da Canção 2019 para que se retirem do concurso, evitando participar na agenda explícita de Israel de usar atuações de artistas internacionais para branquear os seus crimes contra a Humanidade”, lê-se na carta, subscrita por 113 pessoas, divulgada em vários órgãos internacionais de comunicação social.

“Nós, enquanto artistas, não podemos ficar calados enquanto os nossos homólogos palestinianos sofrem silenciamento, desumanização e violência, e pedimos que se juntem a nós numa tomada de posição. Artistas palestinianos apelaram-vos para desistirem do Festival Eurovisão da Canção, e nós juntamo-nos a esse apelo, pelo bem deles e pelos nossos futuros”, lê-se na carta subscrita por 27 artistas israelitas.

Israel acolhe o concurso este ano, depois de o ter vencido em Lisboa, pela quarta vez, no ano passado com o tema “Toy”, interpretado por Netta.

O Festival Eurovisão da Canção é disputado este ano por 41 países. Portugal é representado por Conan Osíris, com o tema “Telemóveis”, que irá atuar na primeira semifinal, marcada para 14 de maio. A segunda semifinal decorre a 16 de maio e a final a 18 de maio.

Várias organizações de todo o mundo têm apelado ao boicote à edição deste ano do Festival Eurovisão da Canção, por realizar-se em Israel.

Em janeiro, mais de 60 organizações, a maioria de defesa dos direitos LGBTQIA, de vários países, Portugal incluído, apelaram aos membros daquela comunidade para que boicotem o concurso.

Em junho do ano passado, diversas organizações culturais palestinianas apelaram ao boicote ao concurso, sublinhando que “o regime israelita de ocupação militar, colonialismo e apartheid está descaradamente a usar a Eurovisão como parte da sua estratégia oficial ‘Brand Israel’, que tenta mostrar ‘a face mais bonita de Israel’ para branquear e desviar a atenção dos seus crimes de guerra contra os palestinianos”.

Em setembro, mais de uma centena de artistas de todo o mundo, incluindo de Portugal, manifestaram apoio a esse apelo.

Em novembro, vários artistas portugueses apelaram, numa carta aberta dirigida à RTP, responsável pela escolha do representante nacional, ao boicote de Portugal ao Festival Eurovisão da Canção.

Também a BBC recebeu uma carta aberta na qual várias personalidades, incluindo a designer de moda Vivienne Westwood, o músico Peter Gabriel, o realizador Mike Leigh e a banda Wolf Alice, instavam a estação, responsável pela escolha do representante do Reino Unido, a pedir à organização que alterasse a localização da edição de 2019 do concurso.