Da autoria da multipremiada escritora polaca Olga Tokarczuk, “Viagens” levanta questões como “de onde provimos?” e “para onde vamos ou regressamos?”, através do cruzamento de histórias de viagem moderna com a história de um anatomista do século XVII, que dissecou a sua própria perna amputada, e a viagem do coração do compositor Frederic Chopin de Paris até Varsóvia, após sua morte.

“Fascinante, intrigante e de uma originalidade rara, este livro é uma resposta sublime a todas estas questões, uma teia de reflexões que entretece ficção, memória e ciência. Uma exploração profunda sobre o corpo humano, a vida que surge, a morte e o movimento, levando-nos ao âmago do próprio significado de humanidade”, destaca a editora.

Publicado em Portugal pela Cavalo de Ferro, chancela da editora 2020, que desta forma inaugura o nome da escritora polaca entre os autores traduzidos e comercializados em Portugal, “Viagens” é uma obra que o júri do prémio Man Booker Internacional definiu como “espirituosa” e na qual “a condição contemporânea do movimento perpétuo” encontra a certeza da morte.

Entre as histórias desta história, contam-se a do coração de Chopin, que é secretamente levado de volta para Varsóvia pela sua irmã; a de uma emigrante polaca residente na Nova Zelândia, que se vê obrigada a regressar ao país de origem para envenenar o seu primeiro amor, moribundo numa cama; a de um homem que começa a enlouquecer quando a mulher e o filho desaparecem misteriosamente, apenas para, do mesmo modo, reaparecerem subitamente.

Conta-se também a história do anatomista holandês Philip Verheyen, que existiu na realidade e descobriu o tendão de Aquiles; de um escravo tornado cortesão do século XVIII na Áustria; ou de uma mulher, na era presente, que acompanha o seu marido num cruzeiro nas ilhas gregas.

“Através destas e outras histórias e personagens, brilhantemente relatadas ou simplesmente imaginadas, ‘Viagens’ explora, ao longo dos séculos, o significado de se ser um viajante, um corpo em movimento, não apenas através do espaço, mas também do tempo”, acrescenta a editora.

“Viagens” é um romance no qual os críticos do The Guardian encontraram “ecos” de W G. Sebald, Milan Kundera, Danilo Kis e Dubravka Ugresic, mas num registo “rebelde e habilidoso”, muito característico de Olga Tokarczuk.

Já a The New Yorker considerou que a “perspicácia” da visão da autora “transforma o mundo”, da mesma forma que “o seu livro altera as formas convencionais de escrita”.

Nascida em 1962, Olga Tokarczuk é autora de oito romances e de duas coleções de contos, sendo também coorganizadora de um festival literário perto da sua casa, no sul da Polónia.

A escritora venceu já múltiplos prémios e é autora de ‘bestsellers’ na Polónia, mas o seu trabalho só agora começa a adquirir reconhecimento no mundo anglófono, o que ficou expresso pela atribuição do prémio Booker internacional do ano passado.

Olga Tokarczuk foi ainda finalista do National Book Award para literatura traduzida, e este ano está novamente nomeada para o Prémio Man Booker Internacional com o livro “Drive your plow over the bones of the dead” (“Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos”, em tradução livre), frase retirada de uma poesia de William Blake, de quem a excêntrica protagonista desta história é uma apreciadora.