Plutonio, nome artístico do 'rapper' Ricardo de Azevedo, de 34 anos, prepara-se para editar o terceiro álbum de originais - depois de "Histórias da minha life" (2013) e "Preto e vermelho" (2016) -, mas o lançamento é encarado como uma estreia, porque acontece num momento de grande sucesso entre fãs, contou à agência Lusa.
Do alinhamento de 18 canções de "Sacrifício" foram já revelados oito temas, todos com milhares de visualizações e escutas nas plataformas digitais e, segundo a Sony Music, líderes de tendências no Youtube.
Entre as novas canções já em circulação estão "Meu deus", "Lucy Lucy" e "1 de abril", que "somam mais audiência do que os outros dois álbuns inteiros juntos", disse.
A abrir caminho para este álbum esteve, no entanto, um tema 'afrotrap' que fica de fora do alinhamento, intitulado "Cafeína", feito com DJ Dadda e lançado em 2018. Soma, só no Youtube, perto de 17 milhões de visualizações.
"Foi o primeiro 'boom' que eu tive", reconheceu.
No critério de escolhas em estúdio para "Sacrifício", Plutonio disse que quis experimentar outros registos, para provar que é versátil e que não é músico de um género específico. Há canções mais orgânicas, há registos mais introspetivos, outras com mensagens mais impactantes.
"Sacrifício" tem como subtítulo "Sangue, Lágrimas e Suor" e remete para as realidades em que vive.
"'Sangue' tem a ver mais com a realidade de rua, com a realidade mais pesada, o lado de bairro, o lado das vivências de periferia, e que tem a ver com criminalidade e essas coisas que vivenciei [quando era] mais novo. 'Lágrimas' tem a ver com a parte mais introspetiva, com temas mais relacionados com amor e família, com os meus sentimentos. 'Suor' tem a ver com ultrapassar todas as situações más e transformar em algo de bom", elencou.
Há ainda um detalhe que Plutonio insiste em explicar. O novo álbum é dedicado ao rapper Chullage que, em 2001, se estreou com o álbum "Rapresálias" e que tinha o mesmo subtítulo "Sangue, Lágrimas e Suor".
"É o meu 'rapper' preferido do hip hop português. (...) Foi o primeiro 'rapper' que ouvi a falar de coisas com que eu me identificava, coisas que eu vivia dentro de casa, no meu bairro. Ele despertou-me vontade de fazer rap também", contou.
Plutonio, luso-moçambicano, é filho de uma geração que emigrou de África depois da independência das ex-colónias. Cresceu e ainda hoje vive no bairro da Cruz Vermelha, na periferia do concelho de Cascais.
É "um bairro que tem vindo a mudar em muita coisa por fora - já não tem barracas, tem prédios - mas teve muitos abusos policiais, tem muita gente que tinha talento que foi presa, tem muitos jovens que cresceram sem pais, mães com dois trabalhos, mães aos 16 anos. Todos esses problemas acabam por influenciar a forma como faço a minha música. Não consigo fechar os olhos a esta realidade", sublinhou.
Sabendo que tem centenas de seguidores, em particular um público muito jovem, Plutonio tenta encontrar um meio termo entre a liberdade artística e o sentido de responsabilidade pelo impacto nos outros.
"Continuo a fazer as músicas da mesma maneira, mas lembro-me de que a música pode servir como forma de incentivar jovens e pessoas mais desfavorecidas ou que têm as condições todas para vencer na vida, mas não estão motivadas", disse.
Plutonio prepara uma agenda de concertos para 2020, estando já marcadas datas a 14 de fevereiro, no Coliseu de Lisboa, e no dia 21 desse mês, no Hard Club, no Porto.
Ainda este ano, Plutonio estará pela primeira vez no Brasil. Tem marcado um concerto, no dia 23 de novembro no Rio de Janeiro, assegurando a primeira parte da atuação da cantora norte-american Erykah Badu.
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