O restauro da pintura de Domingos Sequeira e Cirilo Volkmar Machado, que reveste as paredes e o teto da sala, "permite estudar de maneira diferente estes pintores e fazer uma leitura dos elementos decorativos que até agora era impossível, por estarem obscurecidos pela sujidade", explicou o diretor do palácio, Mário Pereira, à agência Lusa.
A Sala do Trono, usada para as cerimónias do 'beija-mão', sempre que a família real se encontrava em Mafra, vai na quarta-feira reabrir ao público, depois de ter estado durante sete meses em obras. A inauguração oficial deverá ocorrer a 17 de novembro, o ponto alto das comemorações dos 300 anos, após o lançamento da primeira pedra para a construção do monumento.
Durante os trabalhos de restauro, os conservadores/restauradores conseguiram identificar por cima do estuque os esboços feitos por aqueles dois artistas para a própria pintura mural da sala.
Domingos Sequeira e Cirilo Volkmar Machado seguiram "de um modo geral os esboços" e esses desenhos preparatórios "iam ao encontro da descrição" deixada por Cirilo Volkmar Machado, nos registos escritos sobre "a empreitada", explicou Sofia Lopes, que coordenou o restauro.
Além disso, sublinhou, "os esboços destes dois artistas eram até agora desconhecidos, o que é importante para perceber todo o trabalho que realizavam desde a conceção até à execução da obra e contribui para o estudo da sua obra".
Os trabalhos permitiram remover a sujidade que ao longo de dois séculos a pintura mural foi acumulando. "A sala amarelou imenso e, quando começamos a limpar, viemos a encontrar enormes diferenças de cor, sobretudo no azul e rosa, que trouxeram uma maior luminosidade à sala", explicou.
Por outro lado, os técnicos conseguiram intervir em partes da pintura que estavam em risco de desaparecer por causa de infiltrações que durante décadas ali foram detetadas.
"Tínhamos uma figura feminina decorativa, cuja pintura caiu de uma altura de nove metros, foi guardada no palácio e conseguimos montar os fragmentos originais, que estavam apesar de tudo intactos", relatou a conservadora/restauradora.
As obras foram viabilizadas pelo mecenato e financiadas pela Fundação Millenium BCP.
A pintura foi encomendada a Cirilo Volkmar Machado pelo então futuro rei D. João VI, ainda no final do século XVIII, e foi iniciada em 1804 - quase cem anos depois da construção do Palácio - para substituir as tapeçarias e tapetes orientais e flamengos, com que o seu avô D. João V tinha mandado decorar a sala em 1735.
Cirilo, autor da pintura do teto, convidou Domingos Sequeira, pintor da corte e coautor das pinturas do Palácio da Ajuda, para efetuar a pintura das paredes, composta por figuras que representam as diversas virtudes.
Estas pinturas neoclássicas diferenciam-se do estilo barroco, de que o Palácio de Mafra é o monumento mais paradigmático no país, e exaltam a nacionalidade, descrevendo as campanhas da Índia, num período em que as forças de Napoleão Bonaparte já avançavam sobre grande parte da Europa.
Foram o primeiro passo de uma campanha de decoração no interior do palácio, que não chegou a ser terminada, com a entrada das tropas napoleónicas no reino e a fuga do rei para o Brasil, em 1807.
Inaugurado como palácio real para descanso da família real, em 1735, o Palácio de Mafra veio a abrir ao público em 1911, enquanto a Sala do Trono na década de 1940.
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