Inês Rosa é filha, enteada, mãe e madrasta, mas foi neste último papel que mais desafios encontrou: "Ser madrasta dói e é profundamente solitário". Neste episódio do podcast Um Género de Conversa, a autora da página portuguesa da comunidade “Somos Madrastas” fala com Patrícia Reis e Paula Cosme Pinto sobre os medos, estigmas e angústias de se estar nesta posição.

Inês Rosa, 36 anos de idade, tinha uma certeza desde sempre: não queria ser madrasta. A vida trocou-lhe as voltas e acabou por ter de assumir esse papel com uma menina de um ano e meio. Sete anos depois, e agora também mãe de uma menina de três, continua a debater-se com muitas dúvidas sobre o que é certo ou errado. “Há muitas coisas que soam mal a uma madrasta. Por exemplo, o cansaço. Dizer que quero tempo só para mim. Ou ‘que bom que não é a semana de ela estar cá em casa’. Ou ‘tenho saudades de estar sozinha com o meu marido’. Tudo isto ainda soa mal. Mas a quem? Aos olhos dos outros. Não podemos dizer isto porque ou os outros vão achar que somos más, ou nós próprias achamos que é isso que podem pensar. Mas na realidade é só normal sentir estas coisas”.

Encontrou muitas respostas e apoio na página Somos Madrastas, criada no Brasil por Mari Camardelli para acolher as dúvidas e angústias das mulheres que se tornaram madrastas. Com o apoio da fundadora desta comunidade online, abriu uma versão portuguesa da mesma no Instagram, onde atualmente se dedica a quebrar estigmas e ideias feitas. Jurista de formação, com especial gosto pelo Direito da Família, não esconde, contudo, a sua paixão pela psicologia. Assume que a psicoterapia foi essencial no seu processo de auto-construção enquanto madrasta, papel que hoje abraça com amor: “Quando me tornei madrasta também não gostava da palavra. Mas vendo a sua etimologia, percebemos que vem da palavra latina mater, matris, ou seja, mãe”, explica. “Hoje gosto de pensar que a madrasta é alguém que pode desempenhar um lugar de mãe. Não é o lugar da mãe, mas é um lugar de mãe.”.