A primeira mostra individual em Portugal da obra de Anish Kapoor, um dos mais importantes escultores contemporâneos, inclui quatro peças distribuídas pelo Parque de Serralves, acompanhadas por uma escultura no museu e 56 maquetas concebidas pelo artista ao longo dos últimos 40 anos.
A peça “Sectional Body preparing for Monadic Singularity” (“Corpo seccional preparando-se para uma singularidade monádica”, na tradução para português), apresentada pela primeira vez em Versalhes, em 2015, e construída em PVC vermelho vivo, é uma das integrantes da exposição e pretende refletir, nas palavras do artista, sobre “a mudança do espaço” e a articulação entre “o interior e o exterior do objeto”.
Trata-se de uma estrutura cúbica metálica em módulos, com sete metros de altura, em que a forma e material funcionam como “uma espécie de pele ou membrana entre o corpo e o mundo”, com aberturas elípticas em três dos lados que evocam “órgãos do corpo humano”, e cuja cor remete para “carne e vísceras”, referiu Serralves em comunicado.
“Sky Mirror” (“Espelho do céu”), outra das obras em exposição, que já passou por cidades como Londres, Nova Iorque e Mumbai, é constituída por um espelho côncavo de aço inoxidável que “obriga os observadores a entrarem no domínio da própria peça” para a poderem experienciar na sua totalidade, refletindo o local onde está exposta, numa espécie de trazer “o céu à terra”, afirmou Anish Kapoor.
“Language of Birds” (“Linguagem das aves”), um inédito, é outra das obras do artista expostas no Parque de Serralves, que consiste numa escada em espiral onde, uma vez por semana, vai subir ao pedestal um chamador de aves, em referência a uma lembrança de infância do escultor.
“Descent into Limbo” (“Descida para o limbo”) é a escultura mais antiga patente na exposição e cujo título se inspira numa obra homónima do pintor renascentista Andrea Mantegna, que surge do interesse do artista “pelo jogo formal e metafórico entre luz e escuridão, interior e exterior, o contido e o infinito”, refere o comunicado.
No Museu de Serralves estão também em exposição 56 maquetas de Anish Kapoor, entre as quais “Orbit” e “Cloud Gate”, que servem para pensar sobre “forma, espaço e as possibilidades de objetos”, referiu o artista, acrescentado que “são uma forma de pensar sobre como os objetos são no mundo e o que podem fazer”.
“White Out” é outra peça exposta no museu, uma escultura “monolítica branca” que faz a ponte entre os trabalhos de grande escala do exterior e as 56 maquetas apresentadas na galeria central.
Anish Kapoor nasceu em Mumbai, na Índia, em 1954, e na década de 1990 alcançou reconhecimento internacional como membro da geração de novos escultores britânicos, tendo desde então desenvolvido uma vasta obra, como por exemplo “Cloud Gate” (2004), “Marcyas” (2002), “Leviathan” (2011), e “Orbit” (2012).
As suas obras já lhe valeram inúmeros reconhecimentos como o prémio Duemila, em 1990, o prémio Turner, em 1991, e o Padma Bhushan, em 2012.
Duas das caraterísticas do trabalho do escultor são a grande dimensão que têm as suas obras, que para o artista são “parte da linguagem da escultura” e que considera “essencial” para “envolver fisicamente o espectador”, e a experimentação de novas possibilidades.
Suzanne Cotter, curadora da exposição, referiu ser este o seu último projeto associado ao período como diretora do Museu de Serralves, acrescentando que “Portugal merecia ter a possibilidade de poder ver a obra [de Anish Kapoor] numa escala maior”.
A ideia do nome “Anish Kapoor: Obras, Pensamentos, Experiências” partiu da curadora, por serem conceitos abordados pelo artista e, como tal, “uma reflexão sobre estas dimensões no seu trabalho”.
Por seu lado, o atual diretor do museu, João Ribas, realçou a “figura de referência na escultura” de Anish Kapoor, que traz um “projeto pensado de raiz” e “a experiência da arte e da exposição para o ar livre”.
A mostra está patente até 06 de janeiro de 2019.
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