O concerto, que conta, entre outros, com a participação do contrabaixista Alejandro Erlich-Oliva, com quem a pianista tocou e fundou o Opus Ensemble, em 1980, realiza-se no dia 03 de novembro, às 21:00, véspera do aniversário de Olga Prats, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra.
Trata-se de uma iniciativa do musicólogo Bernardo Mariano, que contou com o apoio da filha da pianista, Paula Prats Azevedo Gomes, e do compositor Sérgio Azevedo, autor da obra ”Olga Prats. Um Piano Singular” (2007).
Em declarações à agência Lusa, questionado sobre a ideia da homenagem, Bernardo Mariano disse: “Pareceu-me que a Olga mereceria uma homenagem assim, uma despedida bonita, digna, respeitosa, mas celebrativa, feita com pessoas juntas a fazer música, que era o que ela mais gostava de fazer”.
“A ideia foi minha e surgiu pouco depois de ter sabido do falecimento da Olga. Logo aí a ideia era fazê-lo coincidir com a data do seu aniversário [04 de novembro]. E logo daí também a ideia de um concerto intergeracional e com cruzamentos disciplinares, espelhando o ecletismo da carreira da Olga, com o foco no piano e na música de câmara, que foram os domínios em que mais se notabilizou. O concerto será semi-encenado e com componente vídeo, segundo conceção cénica minha”, acrescentou Bernardo Mariano.
Além de Alejandro Erlich-Oliva, no concerto participam os músicos, compositores e artistas Diana Botelho Vieira, Sérgio Azevedo, Luís Madureira, Quarteto Lopes-Graça, António Victorino d’Almeida, Maria do Céu Guerra, Sara Vaz, Jorge Palma, António Saiote, Artur Pizarro, Irene Lima, João Paulo Santos, e uma bailarina a designar.
“Todos eles pessoas que tiveram uma relação bastante ou muito próxima, profissional e pessoal, com a Olga, uns durante muito tempo, outros mais recentes”, justificou Bernardo Mariano, que também colaborou com a pianista, no projeto discográfico sobre Joly Braga Santos. “Contei com preciosas informações e memórias dela, que depois incluí nos textos de apoio aos CD”, dosse à Lusa.
“Os participantes vão graciosamente. A receita da sala é 80% é para os promotores, 20% para a sala, segundo proposta do Olga Cadaval, e reverterá, se tudo correr bem, para a instituição do Prémio Olga Prats de Música de Câmara, associado ao Prémio Jovens Músicos, e que irá premiar, a cada ano, com início já em 2022, o agrupamento vencedor da categoria de ‘Música de Câmara – Nível Médio'”, disse o musicólogo.
“Associa-se assim, e perpetua-se, o nome da Olga Prats ao domínio por excelência da sua ação artística – a música de câmara — e no principal concurso de jovens talentos musicais do país. E incentiva-se deste modo a que novos grupos de música de câmara surjam no panorama musical português, o que foi sempre o maior desejo dela e o esforço ao longo de tantos anos”, acrescentou Mariano.
Para Bernardo Mariano a morte de Olga Prats, aos 82 anos, ”passou bastante despercebida mediaticamente. Tendo em conta aquilo que foi publicado e passou na televisão – e foi pouco -, não cobre nem de longe o alcance da vida, da obra e da ação da Olga. Não foi por isso que decidi organizar este concerto, mas a sedimentação dessa impressão nos dias que se seguiram como que ‘justificou’ acrescidamente o acerto da minha decisão de levar avante esta iniciativa”, explicou à Lusa.
O musicólogo lembrou que “Olga Prats foi uma das personalidades centrais da vida musical portuguesa ao longo de cerca de 50 anos”. “Só lhe temos a agradecer o facto de se ter devotado à música portuguesa — e à música do seu tempo — estabelecendo relações artísticas que se transformaram em relações pessoais duradouras com personalidades tão relevantes como Fernando Lopes-Graça, António Victorino d’Almeida ou Constança Capdeville, entre tantos outros, executando, promovendo e gravando a sua música, e estabelecendo parâmetros interpretativos que ainda hoje são referência. Ela foi absolutamente pioneira na dedicação que sempre demonstrou para com a música de câmara, domínio ao longo de tantos anos menosprezado em Portugal, de que o exemplo maior [dessa dedicação] é o Opus Ensemble”.
“Enquanto docente e enquanto ‘mestra’, ela sempre também pugnou para que houvesse uma sólida formação em música de câmara nas escolas de música. A Olga Prats devemos a inclusão dessa disciplina nos currículos universitários, integrando os cursos das Escolas Superiores de Música e cursos de Música em Universidades. Mas, sobretudo, devemos recordar a mente aberta e as ‘vistas largas’ de Olga Prats, que a levaram a encetar colaborações com músicos de outros géneros e com outras artes, granjeando a admiração e fazendo amizades em comunidades onde ainda é raro músicos clássicos entrarem. No fundo, era a mesma vontade, o mesmo gosto de comunicação, sempre em prol da Arte, que eram o fundamento do seu amor em reunir-se com colegas músicos para fazerem música juntos”, sublibhou.
A pianista Olga Prats morreu no passado doa 30 de julho, aos 82 anos, na sua residência na Parede, concelho de Cascais, vítima de doença oncológica.
Com uma carreira de 69 anos, Olga Prats foi a primeira pianista a tocar e a gravar o compositor argentino Astor Piazzolla, em Portugal, e a divulgar o fado ao piano, nomeadamente as partituras de finais do século XIX e primeiras décadas do século XX, de compositores como Alexandre Rey Colaço e Eduardo Burnay.
Olga Prats começou a tocar piano aos seis anos, tendo sido aluna particular de João Maria Abreu e Motta.
Numa entrevista à Lusa, em 2013, recordou que “havia sempre música em [sua] casa”.
Deu o seu primeiro recital aos 14 anos, no Teatro Municipal de S. Luiz, em Lisboa.
Maria Olga Douwens Prats nasceu em Lisboa, a 4 de novembro de 1938, fez o Curso Superior de Piano no Conservatório Nacional, que apontou à Lusa como “a sua segunda casa”, e onde tinham sido alunas a sua mãe e uma tia e, um bisavô, professor.
Terminado o curso, em 1957, prosseguiu os estudos em Colónia, na Alemanha.
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