Com 1,70 metros de altura e aproximadamente 74 quilos, Toni Harris não é bem uma montanha entre colinas, muito menos perante aquilo que é a compleição física do típico jogador de Futebol Americano. Harris sabe-o, já lho disseram durante toda a vida, ‘uma mulher não se deve meter num desporto de homens’. No entanto, nada disso a desencorajou de perseguir o sonho de se tornar uma profissional nesta modalidade.

Os primeiros passos já foram dados. Fazendo parte da equipa do East Los Angeles College — uma universidade “junior” que oferece cursos de dois anos e joga num campeonato estadual —, Harris recebeu uma oferta de bolsa de estudo por parte da Bethany College, universidade do estado do Kansas, em janeiro do ano passado.

A esta, outras três se juntaram: Adams State University (Colorado), Graceland University (Ohio) e Kentucky Christian University (Kentucky). Estas universidades fazem parte da NAIA (National Association of Intercollegiate Athletics), uma rede associativa que abrange 250 instituições diferentes e que é responsável por criar programas académicos que integram a prática desportiva com os estudos em torno de 26 modalidades diferentes.

A subida para o futebol americano universitário será, para Harris, apenas mais uma etapa até chegar à NFL, a liga profissional de futebol americano nos EUA, naquilo que tem sido um percurso rodeado de dúvida.

O anúncio da Toyota a que deu a cara serve-se exatamente desse ceticismo em relação às suas possibilidades de singrar no campo gridiron. “Disseram muitas coisas sobre a Toni Harris”, narra o comentador desportivo Jim Nantz, lembrando os avisos de que a atleta era “demasiado pequena”, “lenta” e “fraca”, de que “nunca atingiria o nível seguinte” ou “ganharia uma bolsa de estudo através do Futebol Americano”. Pensado para publicitar o RAV4 Hybrid, o SUV híbrido da marca japonesa, o spot junta o veículo e a atleta pela capacidade que ambos têm para “desabar perceções”.

Harris não é a primeira mulher a jogar futebol americano nas equipas masculinas — Katie Hnida e Liz Heaston são dois exemplos precursores —, nem sequer a primeira a receber uma bolsa de estudo para estudar e jogar ao mesmo tempo. Em abril de 2017, Becca Longo fez história ao mudar-se do estado do Arizona para o Colorado para jogar e estudar na Universidade de Adams State. Contudo, o caso de Harris é diferente.

O que distingue esta atleta de outras mulheres a aventurar-se na modalidade masculina do Futebol Americano é que a sua posição é bem mais física. Por norma, as jogadoras que entram em equipas de homens são “kickers”, uma posição que não é de campo e não está sujeita à intensidade física do jogo corrido, sendo exclusivamente responsáveis por rematar a bola aos postes. Mas Harris joga como “Safety”, uma posição que está na última linha defensiva cuja função, simplificando, é impedir que os recetores da equipa contrária recebam a bola, intercetando-a; ou que estes progridam no terreno, placando-os.

Assumir uma posição tão física é só mais um desafio para Harris, que enfrentou vários ao longo da vida, como escreve o Yahoo Sports. Colocada numa casa de acolhimento aos 4 anos de idade e adotada aos 13, a jovem natural de Detroit teve um percurso exemplar na escola, tanto académica como desportivamente. Contudo, aos 18 anos foi lhe detetado cancro nos ovários, o que a obrigou a submeter-se a quimioterapia, fazendo-a perder peso e massa muscular. Tendo a doença entrado em remissão em 2015, Harris voltou aos relvados e, não tendo sido aceite numa universidade local por ser mulher, mudou-se para Los Angeles.

Ao canal de televisão CBS, Harris referiu os obstáculos que teve de enfrentar, lembrando que as pessoas à sua volta nunca se mostraram particularmente entusiasmadas com a sua vontade de optar pela modalidade masculina. “Pensavam que eu me poderia magoar com muito mais facilidade ao jogar com rapazes”, disse a atleta, revelando que o que a motiva é “ter as pessoas a dizer-[lhe] que não o [pode] fazer”, pois adora “provar que elas estão erradas”.

Com a exibição deste anúncio, Harris disse à CBS esperar tornar-se um exemplo de inspiração. “Uma mensagem que gostava de dar a raparigas mais novas é que mantenham o seu sonho vivo. Nada é impossível”, disse a atleta, acrescentando estar a “abrir o caminho à próxima menina que venha e se torne um exemplo também”.

A jovem, contudo, não se deixa encandear pelo mediatismo da sua causa nem pelo que já atingiu no seu percurso, garantindo que o que lhe interessa é formar-se em Justiça Criminal e que não aceitará a bolsa de uma universidade que não tenha esse curso na sua oferta. Tendo até julho para se candidatar, Harris quer deixar passar o burburinho do Super Bowl para tomar a sua decisão. À ESPN, mostrou que ambição não lhe falta: “O meu grande objetivo é singrar nos quatro anos [de faculdade] e tornar-me a primeira jogadora de NFL. Eu sei que consigo lá chegar”.

 

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