A "embaixada teatral" portuguesa, formada por 18 atores, técnicos e produtores, está esta semana no Luxemburgo para apresentar os espetáculos "By Heart", no Théâtre des Capucins, nos dias 28 e 29, e "Sopro", no Grand Théâtre, a 29 e 30, após ter passado pelo festival do outono, em França, e pela Bélgica e Suíça.
Apesar de o aumento de infeções nas últimas semanas ter levado ao agravamento das medidas sanitárias em vários países europeus, a sorte tem acompanhado a companhia.
"Até agora temos conseguido escapar entre as gotas da chuva", disse hoje à Lusa Tiago Rodrigues, no intervalo dos ensaios das duas peças que vão ser apresentadas no Grão-Ducado, recordando que, na Bélgica, onde o aumento de casos de covid-19 levou o executivo a decretar novo confinamento na segunda-feira, a companhia escapou por pouco.
"Em Liège, fomos a última companhia internacional que pôde apresentar-se no país, no domingo, porque na segunda-feira o teatro foi encerrado pelas autoridades", contou Tiago Rodrigues.
Em França, próximo destino na digressão, o recolher obrigatório imposto pelo Governo obrigou igualmente "a antecipar os horários previstos para Toulouse e Paris", contou o encenador, que acompanha diariamente a evolução da pandemia nos vários países por onde vão passar.
"Aqui no Luxemburgo prevemos conseguir apresentar todos os espetáculos, e estamos em contacto muito estreito com os teatros dos vários países, mas também com o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros e as embaixadas, para perceber se há condições de segurança e de mobilidade para poder viajar", referiu.
A pandemia obrigou a ligeiras adaptações, como no caso de "By Heart", peça inspirada pela avó de Tiago Rodrigues, com dez espetadores em palco, a quem é pedido que aprendam de cor um soneto de Shakespeare.
"Temos de nos adaptar. No 'By Heart', as pessoas que escolhem subir ao palco - e é curioso notar que continuam a escolher subir ao palco para participar no espetáculo - têm de manter a máscara, mas nós encontrámos soluções, como ter máscaras cirúrgicas, que são mais leves, para o caso de as pessoas terem máscaras de tecido, que podem ser mais incómodas com as luzes do palco", explicou.
As medidas de segurança não são novidade para a equipa do Teatro Nacional D. Maria II, que reabriu no final de junho, após três meses encerrado, e tem por isso "já alguns meses de experiência a trabalhar com estas limitações".
"Em Lausanne, na Suíça, foi o primeiro espetáculo da temporada e o primeiro em que tiveram de aplicar estas regras, e nós já vínhamos de Portugal com dois meses de hábito e a poder até partilhar a nossa experiência com os nossos colegas suíços", apontou.
Apesar da incerteza provocada pela pandemia, o encenador garante que se deparou com públicos "ávidos de continuar a viver a experiência teatral".
"Claro que a lotação está reduzida e é mais fácil encher as salas, mas é mais difícil as pessoas mobilizarem-se para ir ao teatro, e ainda assim estamos a conseguir encher salas", sublinhou.
No Luxemburgo, além de "Sopro" e "By Heart", os atores do Teatro Nacional D. Maria II participam ainda numa leitura apresentada hoje no Grand Théâtre, criada especialmente para o Grão-Ducado pelo ator e encenador lusodescendente Fábio Godinho, uma iniciativa que pretende ser um convite à comunidade portuguesa no país.
Com o título "O que o público deve ver", a leitura é descrita como "uma visita guiada" a Lisboa "pela mão e pela voz de autores portugueses ou que escreveram em português", como Antonio Tabucchi, Fernando Pessoa, Almeida Garrett ou o próprio Tiago Rodrigues.
A leitura, que representa "uma primeira colaboração entre os dois teatros", a convite do diretor dos Teatros do Luxemburgo, Tom Leick-Burns, é "em português, sem legendas, para um público que tem necessariamente de entender a língua", explicou Tiago Rodrigues.
"É a primeira vez que isto acontece na história do Grand Théâtre, o que é escancarar as portas deste teatro à comunidade portuguesa do Luxemburgo", acrescentou.
Em troca, "By Heart" vai ser apresentado em francês, uma língua que Tiago Rodrigues aprendeu "para poder trabalhar" quando, aos 21 anos, o convidaram para fazer um espetáculo em França.
"Quando me perguntaram se falava suficientemente bem francês para o fazer, fiz aquilo que, com grande admiração pelos emigrantes portugueses, porque tenho muitos na família, faz um português que necessita de sobreviver: disse 'sim senhora, falo perfeitamente francês', quando falava terrivelmente", recordou.
Nos nove meses que faltavam até ao espetáculo, inscreveu-se na Alliance Française, em Lisboa, e hoje, "graças ao trabalho em países francófonos", o ator, dramaturgo e encenador fala o idioma de forma fluente.
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