Este é um episódio carregado de ação. Não da ação no sentido mais lato ou que estamos à espera de assistir num thriller de cortar a respiração como aconteceu em "Endure and Survive", o episódio anterior, mas no sentido da ação das emoções. Não há infetados gigantes, correria a fugir de limpadores de neves armados ou crianças-clickers que parecem ter saído de um número contorcionismo do Cirque du Soleil para dar algum sentido de justiça irónica à história. Nope. Neste, não há esse tipo ação. O que não dizer que seja "parado" porque as emoções estão à flor da pele — e às vezes é mais difícil de lidar com elas do que fugir de infetados ou enfrentar uma fação rebelde.

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Em "Kin", o sexto episódio, a história dá um pequeno salto temporal de três meses e do ambiente a ferver de Kansas City (que culminou na morte trágica de Henry e Sam como a primeira cena faz questão de recordar) passamos para o frio e a neve do Wyoming. E há duas maneiras de resumir os acontecimentos: 1) Joel continua preocupado em levar a Ellie aos Pirilampos a fim de se arranjar uma cura e tem um reencontro marcante com o irmão; 2) Joel (entre ataques de pânico) e Ellie (com medo de ficar sozinha e desconfiada) aprendem que existem alturas em que é simplesmente impossível lutar contra a natureza dos nossos sentimentos.

Porque nesta história, o amor surge de forma misteriosa e inesperada. Podemos andar a negá-lo ou tentar contrariá-lo para fugir ao luto ou ao sofrimento, mas não vamos conseguir fingir e sair impunes para sempre se há ligação que transcende o sangue. Se ela existe, existe. E Joel e Ellie foram obrigados a fazer uma introspeção individual ao coração para finalmente perceberem que já não são meros estranhos que o destino apocalíptico juntou. Utilizando a expressão de "The Last of Us", foi neste episódio que Joel finalmente aceitou aquilo que estava à vista de todos: Ellie deixou de ser "carga", uma missão, e passou a ser família.

Resquícios de um mundo anterior

Uma das suas finalidades deste episódio-jornada passa também por demonstrar e dar uma noção do tempo que Joel e Ellie estão na estrada — faz-nos ver que atravessar a América durante o apocalipse não se faz de ânimo leve e que viajar sem pingo de civilização, mesmo com mapas e com a ajuda de locais, é coisa difícil e tramada. No entanto, fá-lo com recurso a uma cinematografia de excelência, em que os planos e ângulos abertos revelam o panorama dos protagonistas e dão-nos a componente visual do que significa aquilo que os rodeia: as paisagens e o extenso horizonte tanto podem representar uma beleza única que fortalece a dinâmica entre pai e filha (a cena em que Ellie fica vidrada a olhar para a aurora boreal) como podem camuflar os perigos que podem ser fatais (o encontro com uns cowboys com ar de poucos amigos durante a passagem pelo "Rio da Morte").

Trailer EP 7. Se há algo a que esta série já nos habituou é que mesmo que o princípio e meio dos episódios tenha matéria dura para gerir ao nível de emoções, nunca estamos a salvo do derradeiro golpe que chega com o final — o ENORME cliffhanger do Episódio 6 é só mais uma prova disso mesmo. Vê o teaser do que aí vem para a semana.

Breakdown. Bella Ramsey e Pedro Pascal partilham a sua visão do episódio e do que se passou com Ellie e Joel em "Kin". (Vídeo aqui)

Easter Eggs EP 6. Para ler aqui e ver em vídeo aqui.

Entrevista. A cineasta Jasmila Žbanić ("Quo Vadis, Aida?", nomeado para os Óscares em 2021), nasceu em Sarajevo, na Bósnia, e fez a sua estreia na realização para televisão com este episódio. Um dos motivos que a levou a abraçar o projeto foi o facto de ter crescido e vivido num ambiente de solidariedade semelhante ao que acontece no acampamento de Jackson durante o conflito balcânico. E isto é o que tem a dizer sobre o tema "Jackson", que muito deu que falar entre os fãs do jogo original. (Variety)

Mas "Kin" é também um episódio que remete para a esperança ao mostrar uma comunidade que prospera e que se prepara para celebrar o Natal (ou assim nos dão a entender as luzes e decorações). Após 20 anos de luta contra uma pandemia de infetados, a noção daquilo que era o mundo civilizacional perdeu-se ao longo do caminho, mas Jackson - assim se chama a "cidade" - é a recordação mais próxima que a América tem desse mundo. Há água, luz, um salão de festas, um bar, comércio, estábulos, trabalhos, rotinas — até sessões de cinema. E, não menos importante, há Tommy (e a sua agora mulher, Maria, a líder da comunidade).

O que se segue é não só uma apresentação do local e daquilo que pode vir a ser o futuro de Ellie e Joel, mas o prelúdio de como Tommy e Maria acabaram juntos (tudo isto acontece durante uma cena à mesa, em que Ellie manda uma bojarda a uma rapariga que pode ou não vir a ser muito importante para o desenrolar da história). Algures nesta intensa jornada de emoções, há ainda espaço para os irmãos terem uma conversa mais acesa ("Só porque a vida parou para ti, não quer dizer que tenha de parar para mim", diz Tommy a Joel) e existir um novo confronto verbal entre Joel e Ellie, que culmina num dos momentos mais duros/emotivos da série até agora (e que adapta quase ipis verbis uma das cenas mais icónicas e recordadas pelos fãs do jogo original - vídeo Série vs Jogo).