Treze anos. É este o tempo que os The The estiveram afastados dos palcos, um hiato demasiado prolongado para qualquer banda, e especialmente tendo em conta que o seu último álbum propriamente dito, “NakedSelf”, foi editado no ano 2000. Felizmente, e para gáudio de muitos dos seus fãs, que os descobriram nos anos 80 e neles viram uma resposta à música pop de sintetizadores sem alma nem chama, os The The regressaram em 2017 com um novo single, 'We Can't Stop What's Coming', e uma nova digressão, que passa hoje pelo Super Bock Super Rock.
Quando subirem ao Palco EDP, por volta das 22h15, os The The irão regressar a um país que bem conhecem quase 30 anos após a sua última passagem por cá, em 1989, para dois concertos no Pavilhão das Antas (Porto) e no Coliseu dos Recreios (Lisboa). O que não significa que o mentor principal da banda, Matt Johnson, não conheça bem Portugal, tendo revelado em conferência de imprensa realizada esta tarde que passou férias pelo país por diversas vezes – a última das quais no ano passado, quando levou o seu filho mais novo ao Cristo-Rei. “Lembrei-me de quanto tinha eu próprio cinco anos e o meu pai me levou lá. É sempre um prazer vir a Portugal”, explicou.
Lembrei-me de quanto tinha eu próprio cinco anos e o meu pai me levou lá. É sempre um prazer vir a Portugal.
Sobre o concerto, Johnson disse não saber muito bem o que esperar, embora mantenha “uma mente aberta”. A banda está neste momento a meio da sua nova digressão, e chega a Portugal após ter passado pela Escandinávia. “Espero que [os portugueses] sejam mais expressivos que os escandinavos”, brincou, elogiando uma vez mais o país e a cidade de Lisboa. E, claro, o nosso famigerado bom tempo. “Londres está, de momento, a ser atravessada por uma vaga de calor. Lá está mais quente que aqui. É insuportável, não conseguimos aguentar. Chegar aqui e sentir a brisa do Atlântico... É belíssimo”, afirmou.
'This Is The Day', portanto; o dia em que os The The regressam a Portugal, e que se calhar já estava a ser congeminado há muitas décadas, quando Luís Montez, organizador do festival, passou a canção com o mesmo nome num programa que teve na Rádio Comercial – a primeira canção que alguma vez passou na rádio, conforme revelou poucos minutos antes da chegada de Matt Johnson à conferência.
Pisar novamente um palco não foi difícil para a banda. “É como andar de bicicleta, ou como tomar um banho de espuma, ou como mergulhar numa piscina de água claríssima e fresca”, contou. A sua sorte, acrescentou, é a de ter “um grande grupo de amigos” que “também são grandes músicos”. “Divertimo-nos na estrada, rimos juntos, e o público tem sido muito bom”. Aliás, Johnson admite estar a divertir-se mais agora “que há vinte, trinta anos”. A sua ausência pode ter sido sentida pelos fãs, mas não tanto pelo próprio músico. “Estava ocupado a ser pai, a viajar, a fazer outras coisas para além da música”, afirmou. “Não tive a noção de que sentia a falta dos palcos até voltar a um”.
Essa falta será para já suprimida com uma longa digressão, e a quase promessa de voltar depressa aos discos. É esse, aliás, o objetivo principal, apesar de estarem também na calha mais bandas-sonoras para filmes, já que o irmão de Matt Johnson, Gerard, é realizador. A faísca que lhe servirá de inspiração é, para já, desconhecida. “O tempo em Lisboa” poderá ajudar, atirou, entre risos. “Não sei qual é a minha inspiração até começar a compor. As ideias fluem” então, explicou. “Vamos ver”.
Não tive a noção de que sentia a falta dos palcos até voltar a um.
Até pode suceder que uma das inspirações seja o Brexit, assumindo-se Johnson contra a saída do Reino Unido da União Europeia – até porque isso irá dificultar-lhe bastante a vida, enquanto artista em digressão. “Alguém disse que tirar o Reino Unido da União Europeia é como tirar ovos de um bolo: está tudo tão enredado... Acho que devia haver outro referendo, porque o público em geral não sabia as implicações que a saída ou a permanência trariam. Os media instaram o medo, nos dois campos. O povo não sabe aquilo em que votou”, lamentou.
Brexit ou Portugal, uma coisa é certa: Matt Johnson e os The The estão de regresso, e aparentemente para ficar. E, quem sabe, aprender um pouco da língua portuguesa. “Ensinem-me!”, pediu. “Os ingleses são muito preguiçosos no que toca a aprender línguas. A culpa é dos americanos e de Hollywood: o inglês é, agora, a segunda língua em todo o lado. Passei muito tempo na Suécia, porque o meu filho é metade sueco, e os suecos falam melhor inglês que os ingleses... É inacreditável. Senti-me envergonhado pelos meus conterrâneos”, disse. Pois bem, Matt, eis a primeira coisa que deve aprender: “obrigado”. Sobretudo por ter voltado.
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